18 de nov. de 2011

Pânico 4

Scream 4. EUA, 2011, 111 minutos, suspense. Diretor: Wes Craven.
Para mim, embora o primeiro filme da série seja interessantíssimo, é a sua terceira sequência que me cativou, justamente por causa da sua abordagem metalingüística que consegue resumir em si tudo o que foi dito nos filmes anteriores.

"Não mude o filme original!" - Sidney Prescott

Começo afirmando que eu sou um fã da franquia iniciada por Wes Craven e Kevin Williamson e que minha resenha será carregada de uma quantidade notável de amores, já que Scream foi um dos filmes de terror que mais remetem à minha infância (só pra constar, à época do lançamento do terceiro filme, em 2000, eu tinha 9 anos de idade). Confesso que fiquei surpreso e temeroso quando soube de um quarto filme: se o terceiro, embora agradável para mim, já não era mais tão interessante quanto o primeiro, o que esperar então de um quarto filme?

De algumas coisas, eu já sabia: Sindey Prescott seria mais uma vez alvo dos assassinatos, Gale e Dewey estariam ali para ajudá-la e, no caso de Gale, ajudar a si mesma também. Assim, restava conhecer o outro núcleo da história, já que evidentemente haveria um grupo a ser perseguido, além dos protagonistas da trama. Assim, conhecemos Jill, prima de Sidney, e seus amigos, que serão também perseguidos e mortos, como ocorreu em todos os filmes anteriores da série.


Primeiro, acredito que as interpretações são muito boas, principalmente no que diz respeito ao modo como os atores continuam em seus personagens. Aliás, não sei bem se isso é algo bom para eles, pois me parece que eles, afinal, nunca saíram desses personagens já que nunca interpretaram – a exceção fica por conta de Courtney Cox-Arquette – personagens tão importantes quanto os que viveram na até então trilogia Scream. Também acho válido apontar que os personagens conseguem realmente nos satisfazer – pelo menos aos espectadores como eu, mais saudosistas –, uma vez que remetem mesmo àquilo que eles sempre foram: Sidney, embora pacífica, é bastante bruta quanto precisa; mesmo amedrontada, continua vívida e racional em suas ações. Dewey, por sua vez, é uma versão melhorada do que ele era no primeiro filme, mas, ainda assim, está bem longe de ter a esperteza e sagacidade de Gale, que, estando arruinada em sua profissão, resolve voltar às suas origens de jornalista sensacionalista e inescrupulosa e, juntando-se a dois estudantes fanáticos pela tecnologia, mostra que não aceita estar por baixo.

Como soubemos aos assistir aos filmes anteriores e como sabemos pela explicação nesse roteiro: a série é extremamente metalingüística e fala sobre o gênero terror ao longo de todo o seu desenvolvimento. Assim, em Scream (1996), conhecemos as regras básicas para sobreviver num filme de terror; em Scream 2 (1997), são apresentadas, dentro do filme, as características típicas de uma continuação; já em Scream 3 (1997), apresentam-se-nos os emblemas fundamentais da última parte da trilogia. Mas, como é dito em Scream 4, datado desse ano, com a vinda do novo milênio e com as novas focalizações cinematográficas dentro do gênero horror, devemos nos ater aos remakes – e é justamente a respeito disso que o filme de Craven falará. Percebemos que há a existência do duplo, criando assim uma especificação temporal no tempo presente, mas também remetendo à película de 1996: Jill é a representação de Sidney; Charlie e Trevor são o dobro de Gale Weathers; Judy Hicks, policial que trabalha com Dewey se mostra como seu duplo; Kirby corresponde à melhor amiga da protagonista, que no original correspondia a Tatum. Eis presente a metalinguagem que permeou toda a série proposta por Craven.


Do que mais gosto no filme é justamente a questão da personagem duplicada, que nos remete temporalmente ao que a pessoa é e àquilo que ela foi. Indubitável que o efeito conquistado é ótimo: estamos assistindo, ao mesmo tempo, à produção de 1996 e à produção de 2011 – embora quinze anos separem os dois filmes, vemo-los juntos aqui acontecendo em concomitância, embora já os tenhamos visto também em concatenação. E ao longo de todo o filme, há espaço suficiente para que ocorram assassinatos violentos, dúvidas muitas a respeito de quem pode ser o assassino (com destaque à dúbia personagem de Marley Shelton, que, numa única cena, consegue nos colocar uma dúvida que nos perseguirá até o final), até espaço para algum romance entre Charlie e Kirby, vividos pelo estranho Rory Culkin e Hayden Panettiere, mais famosa como Claire, do seriado Heroes. E, como se não bastasse as relações com o primeiro filme, há relações fundamentais que provêm respectivamente dos segundo e terceiro filmes, que são os filmes Stab, os famosos movies within a movie que se verificam a partir da primeira continuação de Pânico. É justamente com uma referência aos filmes Facada que Pânico se inicia: uma evidente crítica ao sensacionalismo desvairado que faz com que os filmes de terror recebam continuações exageradas, independentemente daquilo que será mostrado no roteiro que, diante da necessidade de acumular mais dinheiro, acaba ignorado quase que totalmente, fazendo com que, como dito no filme, possa haver até viagem no tempo num filme como Stab que é, como se nota, o duplo de Scream. Só para constar: é um extremo deleite as participações breves de Anna Paquin e Kristen Bell – bastante conhecidas pelos seriados True Blood e Veronica Mars.

Creio que o desenvolvimento do filme seja realmente interessante, principalmente por causa da sua dinâmica, que ajuda muito a prender a atenção. A somar, aqueles velhos truques de fazer pensar que é uma pessoa para ser outra, assim como o encurralamento de uma personagem, o modo assombroso como o ghost face se projeta ao longo de toda a obra – afinal, ele pode e parece estar em qualquer lugar. Isso para não citar o momento de revelação que, na minha opinião, foi muito interessante, justamente por mostrar-se outra abordagem do duplo – e desta vez, não apenas no sentido de “personalidade duplicada”, mas, num sentido mais técnico do recurso abordado constantemente na literatura, verifica-se a oposição de personalidade. E isso somente torna o filme mais interessante!

Que eu sou fã das obras de Craven vocês já devem saber. Desde o seu primeiro filme, The Last House on the Left, de 1972, a sua produção dentro do horror é bastante interessante, mesmo que haja, às vezes, umas falhas, como é o caso de New Nightmare, de 1994. Pânico 4 é um bom entretenimento e, honestamente, penso que seja uma boa continuação da série; muito válido e divertido além de possuir uma abordagem inteligente a respeito de si próprio e dos remakes. Aliás, a respeito da primeira regra deles, Sidney Prescott dá um aviso muito importante: don’t fuck with the original [movie].

3 opiniões:

Alan Raspante disse...

Ah, assisti o primeiro por esses dias. Preciso ver o 2 e o 3 para então ver este =(

gvvvv disse...

Comecei a assistir o filme com a intensão de me surpreender com o assassino, pois foi exatamente isso que aconteceu.
Pânico não é o mesmo filme que fez sucesso anos atráz, não há mais aquele suspense que só o Pânico tinha.
Quando passava pela primeira vez na TV, eu ficava ficava vibrado, e acordado até mais tarde para descobrir o assassino, e não tinha outro assunto na escola no outro dia a não ser Pânico.
Voltando aos assassinos, Jill e Charlie, Jill realmente me surprendeu ao cometer o crime e forçar a própria agressão, para ser famosa, enquanto Charlie foi apenas boneco nas mãos de Jill para alcançar seu objetivo. Mas eu deveria ter imaginado que seria ela desde o início, pois é sempre quem você menos espera

Enfim, assisti Pânico 4 com a intensão de me assustar como era antes, mas com esses milhares de filmes de "suspenses" de hoje em dia, é dificil ver uma história original, crimes e cenas tão boas, infelizmente não foi em Pânico 4, mas eu gostei do filme.
Nota 7,5

Jean Douglas disse...

"Pânico" foi o filme que me introduziu ao mundo dos filmes deste gênero. Nunca tinha assistido ao 1º filme, até que vi o anúncio da sequência e imediatamente baixei a trilogia, antes mesmo de conferir este último, claro!

Como pontuado por você, as atuações continuam excelentes. É incrível perceber o talento de tais atores, ao vermos que eles conseguem manter as mesmas características de seus personagens anos depois. Uma cena do filme que chamou muito minha atenção - e acredito ter sido no 4º filme da série, mas posso estar enganado - foi quando um dos personagens, ciente de que nos filmes do gênero a primeira coisa que uma vítima faz é correr, se entrega à esta "regra" sem hesitar. Soou de uma maneira hilária e consequentemente satirizada.

De fato foi um filme que conseguiu me prender e também me surpreender quanto ao assassino, mesmo que fazendo uma análise pós-filme, este detalhe tenha sido mais do que óbvio, se levarmos em conta a essência e os motivos que os assassinos de outrora tinham para com Sidney Prescott.

Não poderia deixar de recomendar e comentar. Com certeza valeu meu dinheiro e meu tempo. :)