3 de jun. de 2012

As indicações ao Oscar de Meryl Streep


Meryl Streep e o terceiro Oscar, conquistado na sua décima sétima indicação.
1962, 1969 e 2003. Esses anos representam acontecimentos singulares na história dos Academy Awards. Bette Davis, no primeiro ano citado, 1962, tornou-se a primeira atriz a conquistar dez indicações ao Oscar, tornando-se singular por seis anos, já que Katharine Hepburn conquistaria sua décima indicação em 1968 e já ultrapassaria esse recorde no ano seguinte, 1969, quando se tornou a atriz com o mais número de indicações, superando o seu próprio recorde em 1982, quando recebeu sua décima segunda e última indicação. Meryl Streep, em 2000, empatou com Hepburn, e, em 2003, quebrou o recorde estabelecido pela outra, chegando, pois, à décima terceira indicação, recorde somente quebrado por ela mesma, por quatro vezes seguidas, chegando nesse ano à décima sétima nominação e também a mais uma vitória, sendo a sua terceira.

Ao escrever esse texto, inevitavelmente sou remetido à série publicada no Cinema e Argumento, do colega Matheus Pannebecker, que usualmente faz uma série de nome “As indicações de...” na qual expõe todas as indicações ao Oscar de um intérprete e comenta sobre o que ele achou do resultado. Ainda que esse texto seja parecido, não me aterei às indicações de Meryl Streep como objeto em comparação, mas as analisarei em absoluto, ou seja, se as julgo boas ou não, adequadas ou não a uma indicação, sem me ater às suas concorrentes. Tendo sido a primeira indicação em 1979 e a última, até o momento, em 2012, são 33 anos e que seu nome é recorrente nas cerimônias, praticamente uma indicação em anos intercalados. Vale lembrar que somente na década de 1980, portanto num período de 10 anos, Meryl foi indicada 6 vezes, e o máximo de anos que ela ficou sem indicação foi o hiato entre “Lembranças de Hollywood” (1990) e “As Pontes de Madison” (1995), ou seja, cinco anos. Se me estender mais, vou ao que importa: as suas indicações.

1979 – O Franco-atirador (1978)
1ª indicação: Melhor Atriz Coadjuvante


Honestamente, o caráter ufanista do filme não me agrada e acho que a obra está longe de ser uma grande película, embora muitos o tratem como tal. Para mim, o verdadeiro destaque do filme são os coadjuvantes Christopher Walken, cuja interpretação lhe rendeu o Oscar, e Meryl Streep, que aparece pouquíssimo, mas consegue cativar o espectador com sua interpretação densa e ao mesmo tempo singela. Penso que sua indicação aqui seja mais um pequeno impulso na carreira de uma atriz com potencial do que um verdadeiro reconhecimento pela sua interpretação, ainda que, como disse, há de se reconhecer qualidade nesse trabalho de Meryl Streep, que, aliás, é apenas o segundo trabalho feito para o cinema (o filme anterior é “Júlia”, de 1977, e houve o trabalho “Holocausto”, também de 1978, feito para a TV).

1980 – Kramer vs. Kramer (1979)
2ª indicação: Melhor Atriz Coadjuvantevenceu


Meryl Streep recebe seu prêmio devido a um desempenho magnífico nessa obra de Robert Benton na qual ela interpreta uma mulher que é sufocada pelo casamento, o que a motiva a abandonar sua família, mas que acaba repensando sua vida e decide requerer a guarda do filho. As cenas são poucas – quatro, mais ou menos –, mas em cada uma delas a atriz arrebata o espectador, que não consegue julgá-la apta nem inapta para cuidar do filho, tão realista (e por isso confusa) é Joanna Kramer, personagem construída por Meryl. A cena do tribunal é maravilhosa e não há como dizer que seu trabalho aqui não é digno de prêmio, ou, pelo menos, de atenção especial.

1982 – A Mulher do Tenente Francês (1981)
3ª indicação: Melhor Atriz


A meu ver, uma interpretação maravilhosa que é inclusive superior ao filme. Ao interpretar Anna, uma atriz que interpreta a personagem Sara num filme, Meryl Streep simplesmente me deixou petrificado. Como a personagem-título, sua interpretação é dessas que impressionam e penso que esse também seja o seu primeiro grande filme de destaque no cinema (basta reparar que não cabe mais a ela personagens em participações limitadas, como em suas indicações anteriores). Seu desempenho como lead actress lhe garantiu merecidamente uma indicação.

1983 – A Escolha de Sofia (1982)
4ª indicação: Melhor Atriz – venceu


A Academia se rendeu à interpretação de Meryl Strep como Sofia Zawistowski, refugiada polonesa cujo drama não reside exclusivamente no passado no qual ficou presa num campo de concentração, mas, sobretudo, por uma escolha que fez quando foi levada para lá. Honestamente, reconheço qualidade nesse trabalho da atriz, acho-o ótimo, mas penso que houve momentos mais adequados para lhe conceder um prêmio, como, por exemplo, no ano anterior ou em 1996, quando concorreria por “As Pontes de Madison” (1995). Inegável, porém, que seu esforço e seu desempenho merecem mesmo as nossas atenções, porque é com esse filme que ela prova ser capaz de dar o máximo de si (emagreceu, aprendeu a falar polonês e alemão e ainda chegou a implorar ao diretor para que lhe concedesse essa personagem) e que não deixa a desejar em momento nenhum. Não tiro o mérito de sua vitória, mas insisto: penso que houve interpretações melhores.

1984 – Silkwood: Retrato de uma Coragem (1983)
5ª indicação: Melhor Atriz


Trata-se da primeira indicação de Meryl Streep por interpretar uma personagem verídica. Karen Silkwood foi operária numa usina nuclear e que eventualmente descobriu ilegalidades no método de produção, o que potencialmente a levou a ser assassinada. Sob a direção de Mike Nichols, a atriz apresenta aqui sua personagem mais distinta das outras que havia interpretado: ela não é sempre polida, não se porta como uma dama, não é melancólica ou introspectiva. Enfim, Meryl Streep compôs um bom momento que alterna humor e drama sem jamais deixar que isso interfira na credibilidade que sua personagem necessita. Penso que seja uma indicação mais do que merecida.

1986 – Entre Dois Amores (1985)
6ª indicação: Melhor Atriz


Segunda indicação por interpretação uma personagem verídica. O épico cujo cenário é a alaranjada África, mais especialmente o Quênia, nos apresenta a vida de Karen Blixen, baronesa que se casou pela conquista do título e que acabou envolvida emocionalmente com o então marido, mas também apaixonada por um caçador de espírito livre. Penso que a grandiosidade desse filme advenha dele todo: da direção eficiente de Sidney Pollack, das interpretações dos atores, do magnífico cenário. E ao se tornar alvo dos nossos olhares, Streep prova ser uma grande atriz – nem mesmo um filme desse porte a faz sumir. O seu sotaque dinamarquês lhe garantiu mais uma nominação, a qual eu considero justa.

1988 – Ironweed (1987)
7ª indicação: Melhor Atriz


Ao interpretar Helen, uma mulher que terminou vivendo nas ruas devido ao fracasso de sua vida como cantora de rádio, a Academia prova certo queridismo por Meryl. A começar pelo fato de que ela nem sequer é protagonista da história e realmente esse filme não oferece suporte a nenhuma atuação, seja dela ou de Jack Nicholson, que também foi nominado. Só me soa como uma demonstração de carinho pelos então mais notáveis atores modernos (Nicholson chegou à sua nona indicação). Eu jamais indicaria qualquer um dos dois por suas interpretações apáticas nesse filme monótono, então realmente não compreendo a indicação de Meryl aqui.

(continua)

3 opiniões:

Guilherme Z. disse...

Meryl Streep é sensacional e acho que sua presença eleva o nível até do pior dos filmes. Assistir seus trabalhos deveria ser uma obrigação para qualquer uma que deseja ser atriz.

Kamila disse...

Meryl Streep, pra mim, é a maior atriz de todos os tempos. Todas essas indicações que você citou, nesse primeiro post, pra mim, são incontestáveis. E as duas vitórias dela, nesse período, também, pra mim, são incontestes.

Hugo disse...

Ela chegou a um determinado nível, tanto de atuação, quanto de fama junto a academia, que com certeza terá novas indicações.

É a melhor atriz dos últimos trinta anos.

Abraço