11 de ago. de 2010

Avatar

Avatar, de James Cameron. EUA, 2009, 161 minutos. Ficção Científica.
Ganhador de 3 Oscar e indicado a outros 6 prêmios, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.
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James Cameron se tornou responsável pelas duas maiores bilheterias do cinema. Em 1997, ele trouxe às telas a história de Titanic, famoso filme que obteve o recorde de indicações ao Oscar e que tornou memoráveis certas cenas. Doze anos depois, em 2009, ele dirigiu e escreveu Avatar – que conquistou várias indicações no Oscar 2010 e que se tornou febre entre os que gostam de filmes.

Honestamente, acho que o principal fator do filme que manifestou toda essa aglomeração em relação à obra é o conjunto de efeitos especiais. Cameron sempre teve uma tendência a filmes de proporções grandiosas – tal como O Exterminador do Futuro (ele foi o responsável pelos dois primeiros filmes) e Titanic – e seus filmes normalmente são recebidos com certo entusiasmo, já que o primor técnico, principalmente no que diz respeito à perfeição fotográfica e ao figurino é de fato elogiável. Eis que surge Avatar e os efeitos visuais são utilizados em larga escala, o que provoca um intenso frenesi nos rapazezinhos e mocinhas que amam filmes cheio de explosões, naves, mundos paralelos, etc. Isso me faz perguntar: o que é realmente importante num filme?

A minha pergunta provém do fato de que Avatar pode ser um filme que impressiona pelos efeitos, mas, como um todo, não chega a ser elogiável. Os efeitos gráficos constroem um bom cenário e as edições de som transformam o filme numa sucessão coerente de barulhos épicos (como as explosões, nas cenas finais), mas é só isso. Não há espaço para atuações, já que os atores ficam sobpostos aos seres azuis, os Na’vi, criados por computador. Cameron utilizou atores reais – como Zoe Saldana – para viver os Na’vi, mas mesmo assim fiquei com a sensação de que o trabalho desses atores foi desperdiçado. Nem mesmo aqueles que são predominantemente humanos foram bem aproveitados. Muitos podem dizer que Michelle Rodriguez não é boa atriz e que sempre se repete, mas, mesmo se eu considerasse tais afirmações verdadeiras, ainda teria que dizer que ela foi totalmente mal aproveitada como Trudy. Sua participação se resume a quatro cenas, de quinze segundos cada e com pouquíssimas falas. Sigourney Weaver, que anteriormente trabalhara com Cameron em Aliens, o Resgate (pelo qual ela foi indicada como Melhor Atriz), aqui interpreta Dra. Grace; sua participação, devo dizer, acontece apenas para uma explicaçãozinha meia-boca no meio do filme sobre como os humanóides azuis se conectam à vegetação de Pandora. O que dizer de Sam Worthington? Sua capacidade interpretativa me deixou em dúvida: ele passa mais tempo como avatar, de modo que não pude avaliá-lo bem.

A respeito do roteiro, realmente fiquei impressionado: não me contou nada novo. Tudo o que eu vi me pareceu muito conhecido, como se eu já tivesse assistido a dez filmes cujos clímaces tenham sido recortados e inseridos no roteiro de Avatar. Ainda que haja uma sensação de originalidade, creio que isso se deva ao modo como Cameron dirigiu a sua obra e não no modo como concebeu a história dela. E Avatar ainda tem uma onda crescente de clichês, a começar pelo mote que desencadeia os acontecimentos mais importantes: o rapaz rejeitado (lembram-se de que não o queiram por ele ser paraplégico e não ser o seu irmão gêmeo?) envolve-se com uma garota “fora do seu mundo” (nesse caso, a expressão é no sentido literal) e, embora esteja com ela, provoca-lhe, de certo modo, algum mal; descobre-se, no entanto, apaixonado e volta-se contra aqueles para quem trabalhava. Me digam, com sinceridade: quantas vezes já viram isso? Eu já vi várias vezes e devo dizer que consigo apontar semelhanças entre o roteiro de Avatar e o roteiro de Um Amor Para Recordar. Curioso ser estruturado em duas horas e meia e não ter tanto o que dizer.

Confesso, no entanto, que o filme não é apenas sobrevalorização. Não sei se posso chamar de fotografia aquela criação computadorizada do planeta Pandora, mas devo admitir que se tratam de excelentes imagens, que impressionam pelo bom gosto estético. E o desempenho de Cameron como diretor desse filme também é elogiável, já que seu trabalho consiste em reunir uma série intensa de elemento de grande impacto visual. Honestamente, não o culpo por achar o filme chato – eu sempre soube que ele é um diretor que privilegia o choque provocado por algo totalmente novo e que coloca como segundo plano as atuações e até mesmo o roteiro. Como exemplo, cito Titanic: a história de um navio que afunda poderia facilmente ser abordada em uma hora e meia, no entanto, a abordagem panfletária de efeitos especiais o prolongou no dobro do tempo. Não quero, com isso, criticar Titanic – este é um filme do qual gosto muito, saibam!

Eu realmente não me senti tocado por nada que foi exibido em Avatar. Acho que esse é um dos filmes que impressionam pouco, porque parecem novos, principalmente no que diz respeito às técnicas audiovisuais que foram empregadas na construção dessa obra. De resto, é só mais um filme, que não modifica nada na vida de quem o vê. Mesmo tendo conquistado mais lucro do que Titanic, ainda creio que o seu filme de 1997 seja a verdadeira obra-prima de Cameron!

7 opiniões:

Cristiano Contreiras disse...

Muito bom seu argumento, ainda que eu até goste de Avatar. Mas, considero-o supervalorizado também e não entendo o porquê de tanta euforia. Há filmes muito melhores, até mais impressionantes mesmo - fiquei muito mais de "boca aberta" com o recente A Origem. Esse sim é perfeitinho e pra mim soou como um impacto...

OPS! Uau, lendo G.H.? Sou apaixonado!

Cada olho reproduzia a barata inteira.

– Perdoa eu te dar isto, mão que seguro, mas é que não quero isto para mim! Toma essa barata, não quero o que vi.


Abraço

thicarvalho disse...

Concordo e discordo do seu bom texto. Concordo qnd vc fala no roteiro, acho q ele é mesmo mto batido, mas nada q estrague o longa, principalmente graças a ótima direção de Cameron, outro ponto em que concordamos.

Discordo porém, quando vc fala da aniumação computadorizada e da atuação. Achei q o elenco de Avatar manda mto bem, e que a utilização da animação só dificulta a atuação. Acrdito tb q o longa impressiona, e muito, por todo o universo mágico criado por Cameron. Não é do mesmo nível de Titanic, concordo, mas é um dos grandes filmes desta última década. Grande abraço.

Roberto Simões disse...

Pois, estou de acordo. Para não falar do 3D, não sei se viu o filme em 3D, mas que é um fenómeno que lhe é indissociável. Aquilo atordoa qualquer um! ;)

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD – A Estrada do Cinema

Renan disse...

Como já tinha lhe dito, a estória de Avatar seria original em 2005 quando a FOX aprovou o projeto e quando "Uma Verdade Incoveniente" ainda não tinha sido lançado.

Achei estranho o longa ter ganho em Melhor Fotografia.

Mesmo assim,o filme tem seus méritos. Ninguem pode discutir quanto aos efeitos especiais, sem falar na inovação que Cameron trouxe ao cinema, o 3D.

Em resumo, Avatar é filme excepcionalmente bonito, mas que peca um pouco na hora que o conteúdo é avaliado.

sacolé disse...

Avatar pode ser bonito, mas de resto, o filme não é nada surpreendente e original. Parece até uma refilmagem de Pocachontas.

Caio Coletti disse...

Seu texto é bom. Consigo enxergar sua visão do filme, suas críticas, mas acho que não poderia discordar mais.

Não vou dizer que Avatar tem uma trama original, porque sei que não tem. Como você bem disse, o elemento básico do filme é uma história contada milhares de vezes, no núcleo romântico. Mas desprezar o roteiro por não revolucionar as bases do romance cinematográfico é exagero. "500 Dias Com Ela" também não revoluciona, e só ganha força por atuações frescas e direção criativa. Ao menos o último mérito não se pode negar também a Avatar.

Também não discuto que a "isca" de Avatar é seu visual. E isso porque eu vi o filme em 2D, em um cinema bem meia-boca da minha cidade! Negar que é mérito do ROTEIRO a criação de um mundo completamente novo, todo baseado em noções de ecossistemas reais e ainda assim visualmente encantador é pura heresia. Avatar pode não ser criativo na forma de narrar, mas é inegavelmente brilhante no cenário que constrói, em palavras e imagens, ao redor dessa narrativa.

E quanto ao elenco, aí eu não enxerguei mesmo o que você disse. Também não gosto das habilidades de Sam Worthington, não conseguiu me impressionar em nenhum dos filmes que fez até agora. Mas eu enxerguei sim a atuação de Zoe Saldana como Neytiri, tanto quanto vi o trabalho de Andy Serkis como Gollum, e gostei muito do que vi. Michelle sou suspeito para dizer, sou fã dela, e a jornada da sua personagem me tocou profundamente apesar do pouco tempo em tela. Sigourney nunca foi grande atriz, mas faz uma participação decente. E Giovanni Ribisi é sempre um deleite de se assistir.

Enfim, parece que vimos filmes diferentes, né? Como você frisou, eu também gostaria de frisar: me senti tocado sim, e muito, pelo que vi em Avatar.

Abraços! E viva a diversidade de opiniões! ashuahs

Matheus Pannebecker disse...

Tecnicamente é ótimo, mas é lamentável um filme com conteúdo totalmente banal como esse ter tido tanta repercussão e se tornado a maior bilheteria da história...