O filme estava aqui em casa há algum tempo e, como eu queria assistir a alguma coisa que não fosse extremamente dramática, eu resolvi conferi-lo. Viagens no tempo são frequentemente abordadas nos filmes, mas poucas vezes há coerência suficiente para nos permitir compreender exatamente cada passagem de cenas. Em Camisa de Força, penso que haja somente dois erros que diminuíram o meu apreço pelo filme, mas, de um modo geral, ele é muito interessante e eu o recomendo às pessoas que querem se entreter com algo legal.
Jack Starks é um veterano de guerra que, ao voltar para casa, conhece uma garota e uma mulher. Ajuda-as a arrumar o carro e voltando a estrada, pega carona com um rapaz. Quando a polícia pede para que parem o carro, o policial é morto com um tiro e a culpa recai sobre Jack, que vai preso num hospital psiquiátrico, já que não há qualquer indício de que havia mais alguém com ele. No hospício, Jack é submetido ao tratamento estranho do Dr. Becker, que consiste em prendê-lo com uma camisa de força e deixá-lo trancado numa gaveta, onde o personagem começa a viajar num tempo, fazendo descobertas incríveis, como o fato de se encontrar com a garotinha do começo do filme e descobrir que morreu há muitos anos antes.
Acho que a coisa mais surpreendente é: eu não vi um defeito sequer na atuação de Keira Knightely, que interpreta Jackie, a versão mais velha da garotinha que Jack Starks conhece pouco antes de ser preso. Sua atuação não é monstruosamente brilhante, está bem longe de ser assim, mas eu consegui assistir ao filme do começo ao fim sem pensar que ela está forçando a barra ou que está usando a beleza como artifício pra fazer o espectador pensar que ela está atuando. Achei-a boa, simplesmente. Adrien Brody está bem também, no mesmo nível de sua parceira de elenco, Keira Knightely. Seus melhores momentos são aqueles nos quais está dentro da gaveta de necrotério, que causam bastante incômodo no espectador por causa da sensação de claustrofobia somado ao ótimo (e breve) desempenho de Brody. Daniel Craig também tem certo destaque - bastante gordo, eu mal o reconheci numa cena. Sua participação é pouca e sua interpretação é mediana como a dos outros, mas tem sua importância, que é principalmente mostrar que nem todos naquele lugar estão realmente loucos. O destaque, na minha opinião, cabe à personagem Lorensom, interpretada com bastante eficiência por Jennifer Jason Leigh. Contando com boas cenas, a atriz se destaca também pelo que o roteiro a oferece, tornando-a parte de um ciclo complexo. Destaque para a cena na qual Starks diz a ela como curar Babak, a criança com problemas mentais da qual a Dra. Lorensom cuida.
Os filmes que abordam viagens no tempo normalmente apresentam um futuro dependente do presente, ou seja, se você conhece o futuro e conhece um determinado acontecimento que vai determinar uma situação potencial, você é capaz de interferir e mudar a ordem das coisas. Eu gostei muito de Camisa de Força porque, embora tenha essa perspectiva, não aponta que tudo pode ser mudado e resolvido. Sobre o ciclo que citei no parágrafo acima, ele consiste no paralelismo entre o presente e o futuro. Por exemplo, o Dr. Becker diz a Jack Starks, no futuro, o nome de três pacientes que morreram durante o tratamento; no presente, ao sair da gaveta, Starks diz ao doutor que seu tratamento é falho, pois aquelas três pessoas já haviam morrido. Somos obrigado a considerar que os dois períodos acontecem simultaneamente, pois Jack não teria sabido se o próprio doutor não lhe contasse, mas o doutor não saberia se, antes, Starks não tivesse falado aqui. Um evento não poderia, portanto, acontecer antes do outro, o que nos permite concluir que na linha do tempo todos os eventos acontecem ao mesmo tempo e que constituem um ciclo infindável.
Não ficou bem claro para mim o porquê de Jackie ter aversão a Jack Starks. No filme, é dito que ele comete um crime contra a garota e a mãe, mas elas continuam vivas, como Jackie afirma numa passagem. De aversão e medo, subitamente, a moça começa a amar Starks. Faltou um pequeno desenvolvimento nessa parte do filme, que causa alguma estranheza no espectador, mas nada que interfira bruscamente no resultado final. Achei curiosos também a semelhança entre o título original e os nomes dos personagens principais: Jacket, Jack e Jackie. Será uma alusão ao fato de que os três personagens - estou incluindo a camisa de força - estão em ligação direta um com o outro? Vale citar que eu mesmo achei minha teoria sobre o "paralelismo" meio incorreta, pois numa cena vemos que o personagem desaparecer do futuro porque acorda no presente. Isso desconstitui o meu pensamento de que, embora independentes, os eventos do agora e do depois formem um ciclo. O final é extremamente preguiçoso. Poderia ser muito mais ousadas a compor uma conclusão para o filme, que termina meia-boca, com aquela demonstração de que vimos tanto para enxergarmos apenas o que é óbvio. Eu particularmente já esperava por aquele fim, porque ficou claro para mim que ele podia mudar o futuro somente se conhecesse o que o levou a aconteceu. Eu esperava, portanto, que o final fosse diferente, porque aquele seria muito fácil de engolir. E, para minha surpresa, o final apresentado foi o mais simples, mais comum. E isso é uma pena.
De um modo geral, penso que Camisa de Força é bastante válido, porque entretém o espectador com sua históriae garante uma hora e meia de entusiasmo. Não fiquei cansado durante o filme, não tive vontade de adiantar e acho que poderia vê-lo mais vezes ainda (daqui a uns meses, logicamente). O final e pequenos problemas ao longo do desenvolvimento tornam-no menor, porém totalmente assistível e, se você estiver totalmente relaxado, pode se mostrar uma obra prazerosa de se ver.
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