3 de ago. de 2010

Um Homem Sério

A Serious Man. EUA, 2009, 110 minutos. Drama / Comédia.
Indicado a dois Academy Awards: Melhor Filme e Melhor Roteiro Original.
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Os irmãos Coen têm um histórico elogiável de indicações no Oscar. O último prêmio recebido foi duplo: concederam-lhes as estatuetas de melhor direção e melhor roteiro pelo filme Onde Os Fracos Não Têm Vez, de 2007. Antes foram indicados outras vezes como diretores e como roteiristas. Para mim, é inegável que a Academia vê no trabalho deles uma essência que crêem sempre merecer elogios.

Nesse novo filme deles, a vida de Larry Gopnik, um professor universitário cuja vida, de repente, vira de cabeça pra baixo. Sua esposa decide abandoná-lo e quer o divórcio, pois vai se casar com um vizinho; o seu filho se envolve com um garoto problemático depois que compra maconha dele e perde o dinheiro que usaria para pagá-lo; seu irmão Arthur, que sofre de problemas de saúde e que mora com a família de Larry sempre causa irritação em Sarah, filha de Larry. A somar, há os problemas que ele tem enfrentado na universidade, para onde enviam cartas anônimas falando mal do professor.

Devo dizer, desde já, que não entendi o porquê da indicação na categoria principal. Mesmo aumentando para o dobro o número de indicados, nada justifica a inclusão de Um Homem Sério entre esses filmes que concorrem como Melhor Filme. Não quero dizer que seja uma obra ruim, mas decerto não há qualidade que o eleve a tal nível de excelência. Mas, considerando o fato de que Um Sonho Possível também recebeu uma indicação, não vejo porque criticar tanto a atitude da Academia de indicar Um Homem sério. Penso

Gosto do modo como o roteiro se desenvolve. Os acontecimentos na vida de Larry vão acontecendo gradualmente e, embora todos pareçam acontecer no mesmo período, os roteiristas souberam como dar destaque para cada evento separadamente e, para conectá-los, usar os vários questionamentos pelos quais Larry passa. Gosto, especialmente, do comportamento submisso do personagem principal diante dos problemas que enfrenta: embora afirme que não aceitará o dinheiro que um aluno usa para suborná-lo – e embora realmente não queira aceitá-lo -, Larry parece não ter firmeza o suficiente para dizer isso com convicção de modo a convencer qualquer pessoa. Quando a esposa lhe diz que quer o divórcio e que ele deve procurar um advogado, ele o faz rapidamente, assim como rapidamente cede quando a esposa e o amante lhe dizem que ele deve, para o bem dos filhos dele, se mudar de casa. Larry é, definitivamente, um homem que cede facilmente e que, ainda que saiba das dimensões reais de seus problemas, consegue encará-los com certa amenidade.

O humor negro está definitivamente presente em Um Homem Sério. Não parece ser um filme de comédia – e realmente não o é -, no entanto, os elementos cômicos são visíveis ao longo da história. Destaque especial para as cenas dos três rabinos, todos com ótimas sugestões para o personagem central. Destaque também para a personagem Sra. Samsky, que me arrancou risos exatamente pelo modo como ela parece destoada e caricata. Sobre as atuações, creio que todas sejam boas. Ninguém está maravilhoso em cena, mas, sob as mãos cuidadosas dos irmãos Coen, o elenco está correto e consegue nos envolver na história. A direção também é correta e rende bons momentos, mesmo não sendo impecável.

Creio que o problema notável de Um Homem Sério seja o modo como o roteiro se estreita. O filme é cheio de referências internas sobre a cultura judaica, a qual, quem não é judeu, pode não entender totalmente. Isso, às vezes, afasta o espectador da obra, que não compreende em sua totalidade a informação que está sendo transmitida. Ainda assim, acho que Um Homem Sério é um filme interessante para se ver. Nenhuma obra-prima, nenhum filme do qual o espectador sempre se lembrará, mas decerto é uma produção que garante uma hora e quarenta e cinco minutos de entretenimento.

Luís

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