Eu criei um post no começo do ano, comentando sobre os dois filmes que representam a primeira parte da saga Sexta-Feira 13. Agora, resolvi retomar essa sessão e, para isso, convidei alguém especial: o Marcelo, do blog Diz que Fui por Aí. Como o admiro, como companheiro de conversas e também como admirador de filmes, convidei-o para vir aqui. Como curiosidade, vale ressaltar que em mais de dois anos, o Marcelo é o primeiro blogueiro a participar com uma resenha ou um artigo.
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Advertência: o artigo abaixo possui um grande número de relevações sobre o enredo.
Para os que não me conhecem, meu nome é Marcelo Antunes, proprietário do blog "Diz Que Fui Por Aí..." e colaborador no "Um Oscar Por Mês". A convite do Luís, escrevi um texto sobre a primeira versão do filme A PROFECIA, levado às telas em 1976, para uma nova sessão do “Literatura e Cinema”, cujo propósito é analisar algumas obras que, alguns anos depois, foram refilmadas. O próprio Luís abriu a sessão, em janeiro passado, com o original e o remake de Sexta-Feira 13. Hoje, ele será o responsável pelo texto da versão de 2006, de A Profecia.
"Refazer" filmes não é nenhuma novidade no cinema. Algumas vezes eles funcionam, outras não. Devo confessar que, de modo geral, o segundo caso me ocorre mais constantemente. O que Gus Van Sant fez com Psicose? E Tim Burton com o Planeta dos Macacos?
Quem sabe, numa postagem futura, elucidaremos essas questões? Material é o que não falta! Por ora, no entanto, nosso olhar se debruça sobre THE OMEN - original e cópia.
Há 34 anos, a 20th Century Fox levava às telas aquele que é, apontado por muitos, como um dos grandes filmes de terror de todos os tempos: A Profecia (The Omen, no original). Baseado no romance homônimo de David Seltzer - que também escreveu o roteiro - , o longa estreou, numa bem sacada estratégia de marketing, em 06 de junho de 1976. Trinta anos depois, quando uma nova versão foi lançada, a estreia ocorreu em 06 de junho de 2006, numa clara alusão ao número 666.
Sinopse: Katherine Thorn (Lee Reemick) é a esposa do diplomata americano Robert Thorn (Gregory Peck), que dá a luz à uma criança natimorta. Convencido por um padre, o político decide adotar um bebê recém-nascido - tudo arranjado para que Katherine não desconfie de nada - a quem chamam de Damien. O tempo passa, os Thorn mudam-se para a Inglaterra - onde Robert é nomeado embaixador - e Damien se revela uma criança diferente das demais. No seu quinto aniversário, sua babá suicida-se durante sua festa, jogando-se de uma das janelas da casa da família, após discursar em sua homenagem. A cena é capturada por Keith Jennings (David Warner), um paparazzo que, mais tarde, desempenhará importante papel na trama. Esse é apenas o primeiro dos acontecimentos estranhos que envolvem o garoto que, segundo Brennan, um desesperado padre que procura Robert, é o filho de Lúcifer.
1. Personagens e suas funções na história.
No original: Damien - O filho do capeta que tem como objetivo dominar o mundo; Robert Thorn - Adotar Damien como filho no lugar daquele que havia morrido. No desenrolar da trama, Robert vê-se obrigado a matar o próprio rebento; Katherine Thorn - Torna-se mãe do menino-capeta sem saber de quem realmente se trata. Acaba sendo vista como possuidora de problemas psquícos; Mrs. Baylock - Misto de babá e guardiã do Anticristozinho.
No remake: a família Thor praticamente é a mesma do filme original. Robert, Kathy e o jovem Damien foram exatamente recriados a partir dos personagens primeiros, sem que suas personalidades fossem modificadas. Robert, tal como na história de 1976, é o responsável pela adoção de Damien e a primeira pessoa a notar o comportamento estranho (e a potencial origem obscura do garoto) é Kathy, a mãe. A somar, há Mrs. Baylock, a babá de Damien: com o intuito de instruir a formação satânica do garoto, ela surge como uma figura misteriosa, disposta a tudo para cumprir sua missão.
2. Direção e desempenho do elenco.
No original: A direção de Richard Donner é acertadíssima. Seu grande mérito foi exatamente contar a história “remando contra a maré” do que estamos acostumados a ver em filmes do gênero. Para os que preferem um terror regado a sangue e muitos gritos, A Profecia pode soar estranho. O longa-metragem assusta e incomoda com cenas que de explícitas pouco têm. A ligação da criança com o demônio não é mostrada obviamente em momento algum e isso só fica claro, para o espectador, através de situações e personagens como a aterrorizante babá Mrs. Baylock, numa grande atuação de Billie Whitelaw. As atuações de Lee Remick e Gregory Peck - voltando à ativa, depois de algum tempo ausente da telona - também são extremamente verossímeis. Como se esquecer da cena em que Katherine é atacada por macacos ou a que Thorn e Jennings estão em um cemitério, um dos momentos mais reveladores da história? Ah, claro, não esquecendo também do pequeno Harvey Stephens que, embora não tenha seguido carreira, provou ter sido a escolha perfeita para viver o pequeno Anticristo.
No remake: devo dizer que esse é ponto problemático da obra refeita. Os atores não parecem muito entrosados e suas interpretações parecem bastante superficiais. Julia Stiles se mostra pouco expressiva, numa atuação miúda e apática; Liev Shreiber tem um desempenho um pouco maior, mas mesmo assim não chega a surpreender como Robert Thorn, vivido por Gregory Peck no original. O grande destaque é Mia Farrow, que refez Mrs. Baylock de forma tão acertada quanto Billie Whitelaw em 1976. O intérprete de Seamus Davey-Fitzpatrick, o anticristo, não acrescenta muito à trama como ator, o seu visual inocente e contraditoriamente perigoso foi bem aproveitado.
3. Desenvolvimento do roteiro.
No original: Embora alguns trabalhos de David Seltzer não deponham a seu favor - taí O Mistério da Libélula que não me deixa mentir - o roteiro de The Omen é quase perfeito, daqueles que “descem redondo”. A trama cumpre o seu papel e “prende” o espectador intensamente, a cada nova cena, até o surpreendente final.
No remake: por ser uma refilmagem bastante fiel à obra original, praticamente tudo o que acontece na versão de 1976 também acontece na nova versão. Vale ressaltar que foram feitas adaptações interessantíssimas, principalmente aquelas vistas no início do filme, quando os padres discorrem sobre os eventos recentes que podem indiciar a chegada do anticristo.
4. Efeitos sonoros e visuais.
No original: Com uma fotografia sombria que casa perfeitamente com o clima da história e edição e efeitos especiais que, embora modestos, dão um show, um dos grandes destaques do longa-metragem é, sem dúvida, a incrível trilha sonora de Jerry Goldsmith - inspirada na ópera “Carmina Burana” - ganhadora do Oscar. Pois é. Atire a primeira pedra quem não sentiu calafrios ouvindo “Ave Satani” (nomeada a melhor canção original) - um daqueles clássicos casos em que a música desempenha papel de protagonista na trama?
No remake: o tom sombrio foi adotado como elemento de acréscimo às cenas tensas. A trilha sonora não me parece muito marcante, mas não posso dizer que ela é falha, já que consegue transmitir bons momentos de tensão ao espectador. Com a vinda da tecnologia, novos efeitos puderam ser utilizados e assim algumas cenas se tornaram mais superficiais – talvez porque passaram a exigir mais dos atores. Para comprovarem o que eu disse, basta comparar as cenas em que Katharine Thorn se acidenta despencando da escada: a de 1976, realizada com Lee Remick se jogando contra uma parede (ou seja, ela estava em pé e seu movimento era horizontal) é bem mais expressivo que a de 2006, na qual Julia Stiles simplesmente fez uma expressão estranha e os técnicos responsáveis se ocuparam em fazê-la se movimentar digitalmente.
Opinião do Marcelo.
• A qual filme eu prefiro: A versão de 1976, evidente.
• O remake de A Profecia é válido? Sinceramente, penso que certos filmes não necessitariam ser feitos uma única vez, imagine duas. Não é o caso de A Profecia, evidente. Mas não entendo o porquê de uma refilmagem. Talvez a data, o aniversário redondo da produção, tenha inspirado recontarem a história. Sei lá.
• O remake faz jus ao filme original? Nenhuma das continuações do filme estão à altura do original, inclusive o remake.
Opinião do Luís.
• A qual filme eu prefiro: eu definitivamente prefiro a obra de 1976, ou seja, a obra original, que acaba se sobrepõe ao remake se formos analisar ambos os filmes em diferentes quesitos, como fizemos acima.
• O remake de A Profecia é válido? Confesso que não vi qualquer necessidade de se recriar uma obra que estava muito bem, sem qualquer sinal de velhice. Creio que o remake tenha apenas tido o intuito de aproveitar o momento que se aproximava (dia 06 do mês 06 de 2006) para reacender um questionamento já antigo acerca do número bíblico 666 e lucrar bastante com isso.
• O remake faz jus ao filme original? Não acredito definitivamente que o remake se equipare ao original. Admito, no entanto, que essa é uma obra que, em qualidade, não chega a ser ridícula, como usualmente acontece com os remakes. Não são equivalentes, porém. O filme de 1976, com Gregory Peck, Lee Remick e Billie Whitelaw, é ainda superior e, por isso, mais apto para análises críticas e entretenimento com qualidade.
A Profecia é um filmão que, como quase toda obra do gênero, é cercada por várias lendas, envolvendo aqueles que, direta ou indiretamente, trabalharam no projeto (o avião que Peck pegaria caiu, vitimando todos os passageiros; o hotel em que o diretor esteve hospedado sofreu um ataque por parte do IRA, etc.), o que confere, de certo modo, uma espécie de charme extra. Portanto, para os fãs e também os não fãs do gênero, fica a dica desse que é - por que não? - um clássico do terror. (por Marcelo)
Assim como o Marcelo, também penso que A Profecia (1976) seja um grande filme de terror e que o seu grau máximo de intensidade esteja na sua forma agressiva de mostrar implicitamente um conteúdo chocante. Não me restam dúvidas de que esse seja um dos últimos grandes filmes de terror – bom elenco, boa história, bons aspectos técnicos e artísticos. Enfim, uma grande obra! (por Luís).
6 opiniões:
Uau, demorou, mas saiu! Imagino o quão trabalhoso foi pra você arrumar tudo isso. Mas acho que valeu a pena. Gostei do texto! E, embora não tivesse lido o que escrevera a respeito, sabia que concordaria comigo sobre qual das versões prefere.
=)
Não assisti ao original, mas esse remake é bem decepcionante!
Um filme assustador sem dúvidas. Sem dúvidas a Original é melhor. Aliás, poucos remakes conseguem ser tão bons quanto os longas originais. Um filme que consegue criar um ótimo clima, assutando como poucos conseguiram. Belo texto. Abraços.
Visitem
www.cinemaniac2008.blogspot.com
Se o original não existisse, o filme de 2006 seria um interessante suspense/terror, mas nada acima da média.
O original é um grande filme em todos os aspectos, a história que era original, o ótimo elenco e um grande diretor, o hoje meio sumido Richard Donner.
Abraço
Eu tenho que concordar totalmente com o Hugo: se o original não existisse, o remake seria um filminho legal.
Nunca vi o remake, e o original assisti esses dias na tv. Sinceramente, não gosto de filmes assim... Tenho medo... rs
Não sei se é impressão minha, mas remakes de filmes de terror são os que dão menos certo.
Não sou tão fã de remakes, tem filmes que não precisam disso, e pior que faz sucesso, porque temos muitos ainda vindo por aí.
Abraço!
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