23 de ago. de 2010

Passageiros

Passengers. EUA, 2008, 93 minutos. Suspense / Drama
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Gostaria de começar essa resenha com uma alusão que penso encaixar-se perfeitamente naquilo que quero dizer. Passageiros é como uma redação que fugiu ao tema. Espera-se que o aluno escreva sobre a importância do pensamento positivo e ele debate os efeitos da propagação de casas de fast-food numa determinada região. Esse filme é exatamente assim: a proposta inicial rapidamente é esquecida, dando espaço a algo que frustra o espectador - e, como se não bastasse, sua conclusão soa bastante inverossímil.

Claire Summers é a psicóloga responsável pelo tratamento de alguns pacientes que sobreviveram a uma queda de avião. Alguns se mostram mais gentis, outros são mais esquivos, mas ela tem contato direto com cada um deles. Ao mesmo tempo em que começam a sumir os pacientes, Claire envolve-se amorosamente com um deles - que excepcionalmente se sente bem melhor e mais vivo, como jamais se sentira. Com o auxílio das informações de alguns deles, ela conclui que a empresa áerea está escondendo algo e que está diretamente ligada aos desaparecimentos.

Primeiro, peço que me desculpem pela sinopse, pois ela, embora de acordo com o filme, é falsa. Por dois motivos e falarei sobre um deles agora. O resume não possui nada de supercriativo ou original, mas facilmente poderíamos ter sido apresentados a uma obra com mais densidade, mais coerência dentro de sua própria proposta. O filme poderia ter feito com que nós pensássemos, feito com que nós nos identificássemos com os personagens e situações e que, de alguma forma, nós nos envolvêssemos com o que é mostrado. Isso, no entanto, não acontece porque o filme perde o foco e só uma hora depois de exibição é que vemos qualquer vestígio do suspense proposto na sinopse. Tão logo que acontece o acidente, bem no começo do filme, Claire é apresentada às pessoas que estavam no avião e um deles já mostra estar "modificado" depois do acidente. Nesse momento, pensei que o filme abordaria aquilo que Claire estuda dois minutos depois dessa cena: sensações extra-sensoriais. No entanto, a percepção aguçada do personagem é ignorada e o filme afunda em dois planos básicos: o romance entre Claire e Eric, vivido por Patrick Wilson, e as sessões frustradas envolvendo a psicóloga e os pacientes.

Vale ressaltar que o roteiro constrói mal os personagens. Claire é a típica estudiosa, sempre ansiosa por mais conhecido, possui dois títulos de mestrado na área profissional em que atua, tem problemas familiares. Seria, enfim, uma personagem interessante. Mas o roteiro a torna completamente abobalhada e o diretor a torna ridícula em algumas cenas, fazendo-a ser uma quase criança. E isso soa muito incoerente com a sua "essência". Eric é o cara da "percepção extrasensorial" e tudo o que ele sabe fazer é dar em cima de Claire. Mas são cantadas de baixo nível, chatas, que não combinam com o tom jovial e culto que o personagem tem. Aliás, eles não combinam, não flui química entre os atores e tive a impressão de que demorou muito tempo até que eles estivessem à vontade em cena. Esse é um dos casos, pelo menos para Anne Hathaway, em que interpretações e personagem não se fundem. Claire é bem estranha e medíocre, deveras instável e, de um modo geral, desaponta o espectador; a interpretação de Hathaway, no entanto, está de acordo com sua personagem, logo, fez seu trabalho bem e ela é a praticamente todo o motivo pelo qual eu dei uma nota razoável para o filme. Admito que também gosto dela, então não fiquei tão incomodado quando ela aparecia em cena...

[SPOILER] O final do filme é o segundo motivo pelo qual Passageiros me incomodou. A conclusão é muito patética e tenta fazer uso do recurso inovador apresentado por O Sexto Sentido, que, embora lançado há 10 anos, continua fresco na memórias dos cinéfilos. Diferentemente do que acontece no filme que eu citei, em Passageiros aquela conclusão é risível por uma série de motivos apresentados no filme, a começar pelo fato de que a vizinha louca e intrometida era, na, verdade, uma tia morta de Claire. Como uma pessoa não se dá conta de que não é normal estar diante de um parente próximo que faleceu? É muito besta! E ainda há o fato de que eles tentam encaixar vários detalhes nas últimas cenas a fim de tornar aa história coerente. [FIM DO SPOILER]

Passageiros é um filme entre o ruim e o mediano, que não consegue se firmar em sua proposição. O potencial suspense se torna romance, os personagens são abobalhados, as situações são inconsistentes e apenas Anne Hathaway traz um pouco de charme e beleza ao filme - ainda assim, preciso apontar que em algumas cenas ela está ridícula! Certamente há filmes mais interessantes para se ver e que realmente fazem jus à categoria na qual se enquadram. De suspense e drama, Passageiros não tem nada!

Luís
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2 opiniões:

Thiago Paulo disse...

olha, quando esse filme foi lançado até fiquei com vontade de assisti-lo, mas li tanta crítica negativa que desisti.

Também gosto da Anne Hathaway, mas não me anima em assisti-lo.

abraço

Alan Raspante disse...

Eu tive a coragem de ver o filme. Que filme horrível, sério!
Muito ruim mesmo, nem a graciosidade de Anne pra salvar este filme.
Péssimo!