20 de nov. de 2010

O Silêncio dos Inocentes

The Silence of the Lambs. EUA, 1991, 114 minutos. Suspense.
Ganhador de 5 Academy Awards: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Original.
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É simplesmente dificílimo dizer o que achei desse filme, porque ele é grande demais para que eu possa descrevê-lo com eficiência. De maneira brilhante, o filme nos mostra sequências de thriller psicológico, com diálogos inteligentíssimos e correlações entre todos os elementos do filme, desde o título até as palavras aparente sem grande sentido das falas. A funcionalidade dessa obra é arrasadora e faz jus aos cinco melhores prêmios que recebeu na cerimônia do Oscar de 1992.

O filme narra a história de Clarice Starling e Hannibal Lecter. Ela é uma agente do FBI que é mandada a uma clínica psiquiátrica de segurança máxima para elaborar um perfil de Hannibal Lecter, ex-psiquiatra famosíssimo pela suas atitudes canibais e pelo seu poderoso poder influenciador. Aos poucos, os dois se envolvem num perigoso jogo: ela conta a ele assuntos pessiais e problemas com os quais teve que lidar e ele mostra que pistas ela deve seguir para conseguir o que quer.

O que faz desse algo tão grandioso é o excelente roteiro que prima diálogos inteligentes e uma relação extremamente dúbia entre os personagens. Podemos perceber que há muita afinidade entre eles, mesmo que haja também receio. Eles mantêm uma relação mútua, uma troca de favores, totalmente favorável à aproximação deles, porém pergiosa, exatamente pelo que eles representam um para o outro: Clarice cede, convida Hannibal a conhecê-la profundamente, deixa que ele entra em sua cabeça; ele, por sua vez, guia o relacionamento dos dois, torna-a mais forte, prepara-a para um perigo desconhecido. O quão fundo ele pode ir sem romper o elo que os mantém unidos? Quanto ela pode confiar nele? São perguntas que o espectador se faz o tempo todo. As conversas entre os personagens são cheias de armadilhas, perguntas disfarçadas que dilaceram o íntimo, ferem concepções pessoais. Por mais que haja receio, Clarice se refugia na experiência de Hannibal, que, por sua vez, acaricia a cabeça dela, fazendo-a parecer aprendiz - o que talvez ela possa ser. Uma cena brilhante que mostra isso é aquela na qual, depois da primeira entrevista com o canibal, Clarice é verbalmente agredida por um outro presidiário e, quando Hannibal a chama novamente para perto de sua cela, ela se aproxima demais do vidro, chegando a tocá-lo, ficando face a face com o doutor e desrespeitando uma das várias regras que lhe foram ditas.

Não torçam o nariz por pensar que esse seja o suspense que surge por causa de jogos de palavras. O Silêncio dos Inocentes é um filme denso, com direito a boas cenas assustadoras, como quando removem Hannibal de sua cela e deixam-no trancado num outro lugar: somos presenteados com uma excelente cena de perseguição, que inclui um pouco de violência, sangue e umas boas mordidas. Mais para o final ainda rola bons momentos que envolvem perseguição policial, que nos mostra a perspicácia de Clarice e como ela soube desvendar bem todas as informações implícitas que Hannibal lhe deu. Jonathan Demme, o diretor, fez um excelente trabalho ao captar cada momento expressivo do filme. Os cenários escolhidos para situar as cenas são realmente impressionantes e a iluminação utilizada é fundamental para que percebamos com destaque aquilo que ele quer nos mostrar. Alaranjada às vezes, a luz usada cria um clima bem diferente, acentua o suspense, enfatiza os rostos. Dou valor especial para os ótimos ângulos de câmera, que capturam várias perspectivas da mesma situação. Podemos ver Hannibal e Clarice conversando de frente, podemos ver apenas as expressões dela, depois somente as dele. Nas cenas de ação, vemos o suficiente - ficando implícito, cabe à nossa mente dar continuidade a algumas tomadas, o que torna o filme ainda melhor.

As interpretações do casal principal, Anthony Hopkins e Jodie Foster são simplesmente fantásticas. A partir do momento em que você vir esse filme, sempre se lembrará da expressão do ator quando o nome Hannibal for mencionado. Seu olhar penetrante e dilacerante, sua voz sempre calma, suas palavras irônicas e inesperadas - tudo nele é perfeito e o prêmio não poderia ficar com ninguém senão com ele. Analisar a interpretação de Jodie Foster requer mais cuidado, afinal sua personagem não é a caça de Hannibal, mas é assim que ela deve se portar, deixando-o entrar. Dessa maneira, Jodie mostra uma mulher forte e frágil, com perseverança e coragem e, ao mesmo tempo, aparentemente submissa, que cecedendo facilmente. O jogo de olhar entre os atores é magnífico: ele a invade, deflora suas lembranças; ela o deixa entrar, mas arranca dele aquilo de que precisa. Um quid pro quo na própria atuação dos atores, um dando suporte ao outro, fazendo com que os personagens cresçam juntos em cena. Ele não rouba o brilho dela; ela não chama mais atenção do que ele. Em sintonia, os atores mantêm o equilíbrio perfeito na atuação.

É preciso estar preparado para ver esse filme. Vê-lo despreparado implica em atribuir-lhe defeitos que ele não possui. O Silêncio dos Inocentes é uma obra ampla, um thriller psicológico que causa prazer inconstestável, uma obra que não envelhece e que permanece vívida em nossas memórias. Infelizmente, nenhum das continuações possui a mesma qualidade e, de um modo geral, não tem o mesmo brilho e charme que esse filme tem. Recomendo que vejam-no acompanhados, à noite, preparados para uma das melhores obras que o cinema já apresentou.

2 opiniões:

Matheus Pannebecker disse...

Eu adoro esse filme, mas vi faz tanto tempo que pouco me lembro dele... Preciso fazer uma revisão urgente!

Renan disse...

Concordo com tudo que foi dito. "O Silêncio dos Inocentes" é fantástico. Atuações maravilhosas e um roteiro impecável.

Destaque pra cenas finais da Judie Foster perseguindo o criminoso na casa dele. Praticamente não respiramos vendo aquel jogo de gato e rato.