4 de nov. de 2009

Paraísos Artificiais

Literatura nacional, por Paulo Henriques Britto; 2004, 141 páginas. Contos.

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O que me levou a ler o livro foi os comentários que o Renan fez acerca do quanto gostaria de lê-lo. Logicamente supus que fosse uma obra bastante interessante, com um universo abrangentemente criativo e que fosse render bons momentos de leitura. Porém, acheio-o deveras monótono e nem sequer cheguei ao final dele, colocando-o de lado e optando por dar início a um novo livro.

Para não ser totalmente injusto, começarei pelos aspectos positivos, que são três: 1) a abertura do livro; 2) o primeiro conto e 3) a linguagem utilizada. Sobre o primeiro, devo dizer que muito me agradou, pois a análise despretensiosa a respeito de uma pessoa que escolhe sentar-se a uma cadeira devido aos benefícios do ato - como poder ficar sem mudar muito tempo de posição, diferentemente do que acontece quando se deita à cama - e também a interação que ocorre entre a pessoa e o universo, no qual ela deixa um pouco de si. Sobre o segundo item, acho que vale a pena lê-lo. É um conto curto que narra as circunstâncias pelas quais passa uma pessoa que nada tem a fazer a não ser entreter-se com a própria convalescência e o marasmo que provém dela. Quanto ao último item, admito que o linguajar que o autor utiliza é extremamente informal, nos colocando a par de cada situação de uma maneira bem solta, quase como se estivéssemos conversando com o narrador, que detém sua atenção em focos que - aos olhos dos outros - seriam bem desinteressantes.

Contudo, sempre há aspectos negativos e no caso desse livros, esses se sobrepõem aos aspectos positivos. Gostaria de entender qual é a dificuldade em dar uma conclusão satisfatória aos seus contos, afinal, nenhum maldito conto é concluso, sempre deixando o leitor com uma sensação de que leu à toa. Não somente não sabemos o final como muitas vezes nos dispersamos ao longo de uma história, tamanha a ausência de objetividade dessa. Não me surpreende que Paraísos Artificiais seja leitura obrigatória de alguma faculdade, pois faz jus ao decrépito entretenimento que outros livros assim causam. Eu simplesmente cheguei ao penúltimo conto pois acreditava que a qualquer momento tudo ia melhorar e que, por fim, eu veria um final de verdades, desses em que tudo está escrito, você não tem que ficar adivinhando. O meu problema, na verdade, não é adivinhar, pois gosto de certos finais que ficam em aberto e que permitem amplas interpretações. Mas nesse livro não há nenhuma interpretação possível porque simplesmente não há como concluir qualquer um desses contos.

Considerando os prós e os contras, eu não recomendo que leiam esse livro, pois é realmente desgastante e pouco entretém. Se quiserem, leiam o primeiro conto, de três páginas, e sintam-se felizes, acreditando que o livro mantém a mesma qualidade com que se inicia. Se o que procuram for um livro de contos, sugiro a leitura de As Quatro Estações, de Stephen King, cujos contos são amplos, grandiosos, perfeitamente cabíveis e promovem o entretenimento. Não vejo por que me prolongar, então, é essa a minha opinião acerca de Paraísos Artificais.

Luís

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Primeiramente quero agradecer ao Profº Ricardo Marques por ter nos emprestado esse livro. Comecei a me interessar por esse livro quando o mesmo deu uma aula sobre ele, e agora posso dizer que a obra de Paulo Henriques Britto teve o desempenho que esperava. Claro que nem todos os contos são bons, mas os bons superam os ruins que logo esquecemos.

O primeiro conto tem o mesmo nome do título. Em “Paraísos artificiais” já começamos com uma sensação estranha, de profundo incomodo, em que o narrador descreve as posições em que está, mas logo seu corpo começa a reclamar e ele muda de posição. A principio está é a melhor posição do mundo, mas seu corpo se acostuma e ele tem que mudar de novo. Toda essa dinâmica faz que o leitor comece a reparar na posição que está lendo. Conto mediano, que começaria a encher o saco se fosse maior. Em seguida vem “Uma doença”, onde o narrador tem um problema que não o permite sair da cama e sem ter o que fazer começa a reparar e desenhar o relevo do lençol, a textura de uma maçã, o padrão das rachaduras e até faz relação de uma rachadura com a sua doença. Esse é o terceiro mais chatinho, já que logo me cansei do personagem e passei a desejar que ele morresse da tal doença. Segue “Uma visita” no qual o narrador começa a divagar sobre quem seria o sujeito que está gritando seu nome e pedindo para que jogue a chave. Um amigo ou um desconhecido? O problema desse conto está na mudança de visão da situação, essa desnecessária, além da divagação já citada. Consideraria esse como o pior conto do livro. Vem então “Um criminoso”, conto que parece ser a salvação do livro, pois o autor conseguiu pegar um pouco de nós mesmos quando ficamos observando a vida alheia e criando situações em nossas mentes para que tal momento ocorresse. Além disso, há o nítido preconceito hilariante em frases como “Todo nordestino é porteiro, logo, todo porteiro é nordestino” ou nas suposições onde o casal mora e onde trabalham. Depois de nos animarmos um pouco, lemos “Companheiro de quarto”, conto até que interessante, quase sinestésico aliás, onde quase sentimos o cheiro da flor, conseguimos visualiza-la, aprendemos a odia-la e chegamos a sentir prazer em vê-la morrer. Continuamos a leitura e nos deparamos com “Coisa de Família”, “O 921” e “O Primo”. O primeiro não é tão bom, já que não consegui sentir nada lendo, nem incomodo pela situação, nem compaixão nem nada. Me parece que o autor só o colocou ali por falta de opção. Já o segundo é o segundo melhor conto do livro. Seu estilo policial onde um homem pega um ônibus desconhecido, para numa delegacia muito longe do seu destino e parece ser salvo apenas pela invocação de um nome que ele aprendeu na véspera (o Dr. Lustosa) faz com que o leitor se sinta apreensivo, e não consiga parar enquanto o conto não acabar. O terceiro é bem prazeroso, pois sentimos pena de Ivan, tão deslocado ao lado de um primo que descobre odiar, e nos faz lembrar um pouco de nós mesmos, pois todos temos algum parente insuportável. Terminamos com “Os Sonetos Negros”, último e maior, só esse conto é metade do livro, e ao todo ficou bem legal. A escrita no estilo diário faz com que gostemos Tânia, e queremos que ela descubra o mistério particular que ronda a poesia de Matilde Fortes, e até nos surpreendemos um pouco com o final.

Todos os nove contos são no estilo pós moderno que narram o cotidiano, e como característica disso, temos os finais inacabados, onde paira a dúvida do que o personagem fez ou não, outra característica é a quantidade de páginas, conseguimos ler metade do livro em menos de um dia. Alguns têm três páginas ou duas, enquanto o último, com citado fica com metade do livro. No geral, recomendaria “Paraísos artificiais’’, pois com certeza, é um livro mais agradável de se ler do que alguns clássicos brasileiros.

Renan

12 opiniões:

Bruno disse...

Legal a idéia do livro!

Mas sem querer ser chato, e já sendo rsrsrs

Literatura nacional só os clássicos!
E principalmente Machado de Assis!

Abração!!!

Bruno disse...

Olha eu aqui de volta!

Não sei de que cidade vcs são, mas se forem de SP ou RJ, vai ai uma dica!

http://cinema.uol.com.br/ultnot/2009/11/03/ult4332u1335.jhtm

Vai ter uma "mini-mostra" do Woody Allen!

Abração!

Ricardo Martins disse...

No geral, os dois textos foram bem amplos em suas resenhas, mas algo me diz que não gostaria desse livro: Paraísos Artificiais! Já o Luís, faz uma recomendação que me convence,caso mesmo não entretenha! Logo prefiro recorrer a indicação à As Quatro Estações de S. King!
Mas ao Renan, ponto positivo por mencionar que este livro é mais agradável do que alguns clássicos brasileiros, aos quais muitos são muito ruins, ao meu gosto obvio!

Ótima resenha!
ABRAÇO

Fotograma Digital disse...

Pela descrição de vocês sobre o livro, ele me pareceu deverás pretencioso.

Terei me enganado ?

Cristiano Contreiras disse...

Curioso, eu vi este livro outro dia, solto e quase esquecido numa prateleira da Siciliano. Nem dei tanta bola...

Daí, venho aqui e me deparo com a resenha.

Luis não me fez ter muito interesse, mas confesso que os detalhes e a bela resenha aprofundada e minuciosa de Renan faz com que qualquer pessoa tenha, nem que um pouco, certa vontade de comprar e adquirir o livro.

Parabéns, Renan. Detalhou bem, falou de cada aspecto e conto, como um todo. Gostei!

Assim que ler, volto pra comentar.

Cristiano Contreiras disse...

Ah, uma dica, apenas:

Renan DEVERIA também, como co-autor do blog e espaço, proporcionar respostas aos comentários. Pois, fica evidente, a maior dedicação ou seria autoritarismo de Luis apenas? rs

Abração, meninos, adoro o blog!

Erich Pontoldio disse...

Não me empolguei com o livro ... depois do post acho que não valem as horas de leitura.

Luiz Scalercio disse...

bellissimo livro eu gostei.
mas tem gente que nao gosta
tem que respetar o gosto ta.

Unknown disse...

Nao moro no Brasil,mas amo literatura !
Mais ainda quando posso ler em portugues,vou anotar o nome e da proxima vez que fizer uma encomenda no Brasil vou inclui-lo na lista !
Depois venho aqui pra dar a minha opiniao ! hahahah

Abc
K

Renata disse...

eu também li esse livro por causa da faculdade
tive que ler esse ano, mas eu penso que tem livros bem melhores e concordo com o luis que é "livro de vestibular".
Machado de assis é muito melhor, o único bom, eu acho

Paolo disse...

nossa, teve um cara ali em cima que puxou mto o saco do renan

eu achei q as duas estao com bons argumentos tanto contra quanto a favor do livro
mas acho que eu prefiro ficar com a recomendação de ler o livro do stephen king mesmo

Luís disse...

BRUNO: Não gosto muito dos clássicos. Gosto de Capitães da Areia, mas muitas pessoas criticam Jorge Amado. Somos de Rio Claro - SP, mas vou dar uma olhada no link. Quem sabé né?! =D

RICARDO: É, gosto é gosto. Também não gosto muito de clássicos e acredito que Paraísos Artificias seja melhor que muitos deles.

FOTOGRAMA: Não diria que ele é pretensioso, mas sem dúvida é diferente. De maneira geral recomendo, principalmente por ter uma escrita diferente.

CRISTIANO: O livro é bom, tem aspectos interessantes como os finais sem final e assim por diante. Acho que você gostaria (ou não, rs) e que bom que você gostou das resenhas. Quanto as respostas, você deve ter percebido, que desde o terceiro post de outubro eu o Luís nos revezamos para responder os comentários.

30 E POUCOS ANOS: É uma questão de opinião. Particularmente acho que, no geral, vale algumas horas de leitura.

LUIZ SCALERCIO: É isso aí. Também gostei do livro.

KARINE: Coloque sim, pois acho que esse é um bom exemplo de uma boa literatura nacional.

RENATA: Machado é um ícone. Também acho que há outros livros melhores, mas realemnte acho que Paraísos Artificias não é ruim.

PAOLO: hauuhauha. Aquele é o Cristiano. Que bom que você gostou dos argumentos. Nunca li As Quatro Estações, mas cofio nas recomendações do Luis.