28 de nov. de 2009

E Sua Mãe Também

Y Tu Mamá Tambíem. México, 2001, 98 minutos. Drama.
Foi indicado ao Academy Award na categoria Melhor Roteiro Original.
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Há muito queria ver esse filme, mas somente há pouco eu assisti a ele. A princípio, pensei tratar-se de uma obra cujo objetivo era inexistente e as cenas tentassem apenas se assimilar a um gênero erótico amador. Porém, subitamente, chegou o objetivo primordial do filme, que é narrar de maneira informal a jornada de dois amigos cujas mentes adolescentes, voltadas quase exclusivamente para o consumo de drogas e para o sexo, se abrem em função de novas descobertas. Descobri que E Sua Mãe Também é um dos filmes que mais me surpreenderam positivamente e que, portanto, tenho de recomendar a (quase) todos. Logicamente se imagina que venha a ocorrer uma viagem, pelo menos metafórica, num roteiro no qual os personagens principais são jovens que se drogam por diversão. A viagem, porém, se torna literal quando esses dois, Tenoch e Julio, convidam Luisa, esposa do primo de Tenoch, para se juntar a eles na busca pela praia Boca do Céu, que eles nem sequer sabem se existe. Então, esse filme do mexicano Alfoson Cuarón, que dirigiu o terceiro filme da franquia Harry Potter, é um dos mais interessantes road-movies a que já assisti, ficando apenas atrás do excelente Transamérica.

O elenco jovem do filme - embora os atores sejam mais velhos do que seus personagens - traz um aspecto extremamente descompromissado à película, tornando-a mais divertida de se ver, afinal existe muita descontração na maneira como a história toda é conduzida. Um grande passeio pela mente adolescente masculina típica é proporcionada e os intérpretes, Gael Garcia Bernal e Diego Lunas (respectivamente Julio e Tenoch), atuam maravilhosamente bem, considerando o contexto no qual seus personagens estão inseridos. Aqui quero abrir espaço para um comentário acerca de uma características que muitos podem deixar passar: uma das principais abordagens de E Sua Mãe Também é a amizade. Não um relacionamento superficial, de falar bobagens e frequentar a casa um do outro, mas sim a amizade na qual se percebe que o alicerce é a afinidade e que ambos os lados sentem-se completamente livres para expor-se - mesmo que possa haver reações negativas à exposição - e ainda assim dar continuidade à sensação de serem livres, pelo menos um com o outro. Até mesmo as brincadeiras mais pervertidas corroboram o elo existente entre os dois amigos. Os conservadores, àqueles a quem não recomendo o filme, verão apenas perversão e imaturidade - talvez as garotas que venham a ler esse texto acabem atribuindo as mesmas características a mim -, mas ainda assim insisto na ideia de que agem daquela maneira devido à capacidade que têm de estar juntos sem se constranger. Não que isso perdure o filme todo, como percebemos quando concluímos de assistir, mas certamente o estopim para que os dois saiam dessa linha é a mente estreita cujas vontades resistem aos atos que, outrora impensáveis, tornam-se desejáveis.

O acréscimo de uma terceira personagem, Luisa, interpretada belamente por Maribel Verdú, aos dois amigos acontece definitivamente a fim de somar qualidade à estrutura dos personagens e à linha narrativa, que nos permite ver bons momentos de conversas eróticas tão abrangentes e simultaneamente tão específicas que faz com que aqueles cuja mente é aberta o suficiente para debates não tão cultos assim desejem ser o quarto personagem e estar naquela viagem junto com os três. Abusando do tom de comédia, o filme acerta ao expor também o momento dramático que rompe o cotidiano tranquilo de cada um deles. Se os dois amigos são extremamente livres, às vezes tão livres que se entediam, Luisa é mais conservadora e, como um teste de revista que ela faz a define, é uma mulher temerosa de tornar-se livre. Porém, a união desses três tipos faz surgir uma esperança nova: traz a diferença, provoca a ruptura da monotonia e traz à Luisa a esperança de sentir-se desejada e amada, da forma como bem entender sem sentimentos de culpa. Assim, embora o ciúme esteja presente em algum momento na relação dos três, o que definitivamente os une é a vontade de consumar o desejo sexual e de sempre ir adiante, conquistando tantos quantos conseguirem. Um quarto de hora é necessário até que você entre no clima, depois disso tudo funciona muito bem. O roteiro do filme não demonstra grande falhas e o ritmo dinâmico ajuda a reforçar a ideia do road-movie, animando-o, tornando-o ainda mais expressivo. Valia uma indicação, certamente. Mas não conheço os que concorreram com ele e, por isso, vou me abster se afirmar se merecia ou não o prêmio.

Acredito que somente os latinos, de uma maneira geral, conseguem mostrar cenas de sexo e abordar esse assunto com uma desenvoluta fantástica que não faz o espectador se constranger. Outra capacidade incrível é mostrar personagens em cenas do dia-a-dia, como fazendo xixi, e ainda assim deixar uma cena interessante. Em E Sua Mãe Também há cenas assim, assim como elas existem em Volver - quando Penélope Cruz vai banheiro -, entre outros filmes dirigidos por diretores de sangue mais quente. Assim, eis um filme que merece elogio completo e que, nas suas proporções, consegue se tornar uma excelente pedida para um sábado à noite sozinho - ou acompanhado, talvez. Tal como dito no primeiro parágrafo, não posso simplesmente recomendá-lo a todos, pois é necessário vê-lo com a mente aberta, sabendo, desde a primeira cena, que o sexo será abordado de maneira bem natural e sem grandes enfeites, mostrando-o, mesmo que não haja sexo explícito, de uma maneira bastante direta. Os conservadores, os retrógados, os que vêem o sexo somente em duas condições: papai-e-mamãe e com as luzes apagadas, podem desistir completamente de vê-lo, pois certamente terão problemas. Somente os de capacidade abrangente de absorção, os que são livres de pré-concepções, poderão assistir a esse filme sem criticar os adolescentes que criaram um manifesto no qual um dos itens é que morra a moral e que viva a punheta! Agora cabe a você se definir: mente ampla ou estreita?

Luís
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E Sua Mãe Também foi um dos melhores filmes que vi esse mês, e com certeza um dos melhores fora do circuito norte americano. No geral, o filme é alegre, pulsante e sensual, mais ou menos como imaginamos o México, país no qual se passa a história, além de ser o berço do diretor Afonso Cuarón. Aliás, Cuarón já fez parte de grandes produções, como Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, do qual foi responsável por introduzir na série uma cara mais adulta. Nesse longa, o diretor consegue juntar tudo que o filme pode dar de melhor transformando-o num filme com certeza recomendável.
Muita coisa ajuda no filme e aqui vou tentar falar um pouco delas. O teor sexual do filme é na medida certa. Não há exageros e nem drama no enredo (com exceção do final) com esse tema. Tudo é levado na empolgação e no espírito aventureiro de dois jovens, aliás, o filme já começa com uma cena de sexo e esse, é mostrado durante o filme todo, não só em relações sexuais propriamente ditas, mas também em cenas em que os atores e atrizes mostram suas partes íntimas. Outro ótimo ponto é a atuação e nesse quesito tenho que dar enfoque a dupla principal: Diego Luna e Gael Garcia Bernal. Os dois tem a química que uma amizade precisa ter pra ser verdadeira. E um ponto interessante do filme, é que ele não mostra uma amizade utópica que um não esconde segredos do outro, mas sim um sentimento real, onde há coisas que fazemos que devem ser guardadas para nós mesmos. Há também os belos cenários que são mostrados no filme como as praias exuberantes e também cenários mais pobres como as casas na beira da estrada.
A estória é narrada em terceira pessoa, mais ou menos como Vicky Cristina Barcelona e em E Sua Mãe Também, esse narrador tem um papel importante, que é o de contar o final de alguns personagens como Chuy, o guia que os leva de lancha até algumas praias, inclusive a Boca do Céu. Entre os personagens que tem o final revelado estão também os porcos (não que eu ache que porcos são personagens, mas faltou uma palavra melhor, pois eu não poderia escrever "entre os animais que tem seus finais revelados"). Graças a esse recurso, não temos aquela impressão de que faltou explicar alguma coisa de algum personagem. No total, o longa é um excelente filme que deixa os telespectadores satisfeitos com o resultado, além de nem notarmos o tempo passar, já que tudo flui perfeitamente.

Renan

11 opiniões:

Ricardo Martins disse...

Olha lendo esta sinopse, resenha, fiquei em meio a uma questão: assistir ou não! Pois me parece ser um filme desafiante! Mas que com certeza deve ter um roteiro muito bom, logo foi indicado a melhor roteiro original! Já vi uma cena dele, e logo qual? Uma de sexo entre... os três, no mínimo polêmico!

Buscarei por esse filme, que até hoje não o encontrei, acho que não é bem distribuído por aqui!

E mesmo sem assistí-lo, já concordo plenamente com a opinião do Luís, não importa se o filme é muito bom ou não, atrás de Transamérica sempre! Um dos meus prediletos?

E pergunta: sempre reparo que os posts são sempre postados religiosamente às 00:00hs, é automático? Obvio que não né?!

abraço

Cristiano Contreiras disse...

Óbvio que são automaticos, sim. Explica a Ricardo - e aos leitores também - que vocês seguem aqui um certo metodismo, rs.


Voltando ao post:

- Nota-se, claramente, que você realmente apreciou o filme, verdadeiramente. Detalhou bem e de maneira satisfatória bons elementos, refletiu bem mais que eu.

- Considero este um filme básico, não vejo nada demais, quando fui assistir esperava até me chocar ou me animar mais - no sentido sexual. Vi apenas uma amizade ali, uma necessidade de liberdade por parte dos personagens e só.

- Não sou muito fã do roteiro, prefiro outros road-movies - Transamerica é perfeitinho, este não.

- Maribel Verdú é chata, por vezes canastrona e não me convenceu. Gael é único, leva o filme nas costas e todas as suas cenas, elas sim, são calientes e interessantes. Puro charme. Já pensou se a personagem fosse interpretada por Penélope Cruz? ai ai...
Diego Luna é cativante e gracioso!

- É um filme com um dinamismo, sim. Mas, o roteiro, às vezes, me deixa meio frustrado...

Enfim, prefiro outros trabalhos de Alfoson Cuarón - por que não A princesinha? Pois bem.

Anônimo disse...

Gostei do resumo que vc fez do filme, mas o título é meio esquisito, não acho muito adequado a obra, mas espero ver, vou procurar, muito bom seu blog, somente ótimas sugestões, assim nós não erramos nas escolhas.

BLOGdoRUBINHO
www.blogdorubinho.com.br
www.twitter.com/rubenscorreia

Paulo Alt disse...

Demorou pra eu conseguir ver o filme mas eis que um dia me propus a isso e não fiquei insatisfeito.

Luis, gostei do que disse sobre a amizade dos dois. E de fato, ainda acho que este é um tipo que não é pra todos. Só discordo de uma coisa: não acho cenas, por exemplo, do banheiro rs, tão necessárias. Ah, e mesmo sendo de comédia, continuo cnsiderando Roadtrip - Passaporte Para a Confusão um dos melhores roadmovies, hehe. Mas esse não fica atrás, não. Quem sabe pelos atores etc. Não sei. Mas quero em dvd na minha coleção ainda.

Renan, você falou sobre os belos cenários. Acho que isso que conseguiu dar um tom modesto mas de cuidado ao filme. Vejo pela cena perto do final, a do mar. E também não tive a impressão de que faltou contarem algo.

Enfim, não considero uma obra prima nem nada pelo começo do longa. Achei muito demorado pra pegar o ritmo e cheio de coisas que não precisava existir [aquela parte do casamento e tal]. O meio e aquele final em que os comportamentos mudam por determinado acontecimento [spoiler] foi o que salvou pra mim. Foi um dos motivos deu te ruma boa lembrança dele.

Abraço.

Esdras Bailone disse...

Assisti á esse filme a uns 4 anos atrás e gostei mto. Porém tenho uma visão um pouco diferente da história, não sou moralista e tenho a mente bastante aberta, mas odeio a banalização do sexo e oq mais me conquistou no filme foi justamente a mensagem final. Fica evidentemente que a amizade dos dois rapazes fica abalada exatamente por causa da falta de limites deles em relação ao sexo, apesar do lema "liberdade total" que eles pregam entre si, nenhum deles sai impune da aventura com Luísa, q por sinal é uma personagem fascinante.
E SUA MÃE TAMBÉM é um de meus filmes prediletos!!!

Fotograma Digital disse...

Gosto bastante desse filme, que por momentos apresenta-se corajoso e em outras deverás sensível e verossímel.

Kamila disse...

O que eu mais gosto nesse filme mexicano é que ele é um road movie que fala, principalmente, sobre uma amizade, sobre os caminhos diferentes que a gente acaba tomando na vida, mas, especialmente, sobre as experiências que a gente divide com as pessoas que escolhemos.

Marcelo A. disse...

Cara, "E Sua Mãe Também" é um dos meus filmes preferidos! Faz tanto tempo que não o assisto que preciso revê-lo. Pra mim, a questão da amizade é o ponto crucial do filme, como você falou. E tampouco o considero um filme vulgar, apesar das cenas fortes e picantes. Belíssimas cenas, isso sim! E quer saber? Também acho que só os latinos, tem a leveza necessária pra tocar em certos assuntos... E que imagens da viagem eram aquelas?! Algumas me lembraram o Brasil...

Posso dar uma sugestão? Que tal uma resenha a respeito do canadense "Deite Comigo" (Lie With Me)?

Bem, já vou! Abração!

Luís disse...

RICARDO: Proucure o filme sim. Assista. Ésse é um filme diferente do que estamos acotumados a ver, e [é muito bom. Quanto a pergunta sobre postarmos a 00:00hs, é sim automático. Programamos o blog para postar sempre nesse horário e assim, podemos agendar as resenhas. Seguimos um certo metodismo como disse o Cristiano ai embaixo.

CRISTIANO: Nossa, você citou um filme que gosto muito: A Princesinha. Me deu vontade de revê-lo agora. Acho que você não gostou muito do filme. Acho que você não se "animou" com o filme, pois o foco principal do enredo é a amizade e não o sexo como deve ter pensado inicialmente. Maribel Verdú é meio chatinha mesmo, mas Gael e Diego estão ótimos ali.

RUBINHO: Como você achou o título inadequado se nem assistiu? Veja sim. Ahh, e obrigado pelos elogios.

PAULO: Cenas como a do banheiro não são mesmo necessárias, mas o interessante é ver como o diretor conseguiu deixa-la boa. Achei a parte do casamento indispensável, pois é lá que tudo começa, mas uma coisa eu concordo: o filme demora um pouco pra entarr no ritmo.

ESDRAS B.: Gostei da sua análise. Realmente pensando por esse lado, o sexo interrompeu a amizade dos dois.

FOTOGRAMA DIGITAL: O filme tem essa capacidade mesmo. Mostrar o sexo e a amizade, um de forma corajosa e outro como o lado sensível da trama.

KAMILA: Concordo. Acima de tudo, "E Sua Mãe também" é um filme sobre amizade.

MARCELO A.: Latino é latino. As paisagens são belíssimas mesmo e a amizade é mostrada de uma forma bem interessante. A sugestão tá anotada e vamos ver se encontramos, mesmo que seja um pouco díficil encontrar filmes não americanos aqui.

Renan

Dewonny disse...

Ainda ñ vi, mas tenho muito interesse nesse, um dia ei de assistir..
Abs! Diego!

Luiza disse...

Logo depois que assisti o filme fiquei mal impressionada.Mas refleti um pouco e percebi que o filme tinha muito conteúdo apresentado sem preconceitos e, pra mim, ligeiramente chocante.Confesso que não vejo necessidade de tantas cenas sexo.
Mas de qualquer modo, mostra relações totalmente despidas das imposições da sociedade ou de qualquer tipo.
Realemte gostei do filme!
Obrigada pela sugestão,Luís!