22 de dez. de 2009

Irreversível

Irreversible. França, 2002, 95 minutos. Drama.
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Este é o típico filme que é famoso por uma única cena. Mesmo que uma pessoa não tenha assistido a ele, ela certamente já ouviu falar - ou até chegou a ver - a tão comentada cena do estupro. O mesmo acontece com outras produções, como O Último Tango em Paris, que tem a cena de sexo anal com manteiga, e Brown Bunny, em que numa das passagens a atriz literalmente faz sexo oral no ator. Indo um pouco mais além, acredito que Irreversível seja o filme que divide opiniões e separa os espectadores em dois grupos: aqueles que o adoraram e aqueles que o detesteram. Definitivamente, não é uma obra para meio termos.

Realmente não me agrada a ideia de resumi-lo aqui para vocês, pois haveria perda daquilo que considero que seja o grande charme do filme. Tentarei, portanto, dar uma noção geral, sem, no entanto, revelar quaisquer assuntos importantes. A principal abordagem é a ação sem volta, o que acaba dando título ao filme: depois de um estupro, dois homens chegam a extremos para descobrir o criminoso. Todos os atos mostrados, desde o mais consciente até o mais instintivo, ganham proporções imensas e, inquestionavelmente, geram consequências dantescas. Até agora, não especifiquei com exatidão o partido que defendo: estou com aqueles que acham Irreversível um filme muito bom! Isso porque, em suas medidas, o filme assume o tom exato e o mantém do príncipio ao fim, tornando-se um excelente drama com ótimas passagens, algumas com suspense também. Uma de suas principais características é a crueza com a qual todos os personagens, cedo ou tarde, acabam lidando. Gostaria de dizer que alguns personagens impõem sua raiva de maneira animalesca e proposital, mas toda a violência que vemos se molda dessa maneira. A diferença é que o propósito de uns é provocar a dor, enquanto o propósito de outros é retribuir a dor.

Acho que, embora o cinema apresente várias vertentes, como a comédia, ação, aventura, terror, etc., as pessoas ainda não estão acostumadas a ver filmes cujo tema é tão específico quanto o mostrado nessa produção. Muitas pessoas gostam de filmes violentos, como aqueles do Stallone, Arnold Schwarzennegger, mas não se dão bem ao assistir a esse, porque a violência mostrada aqui é extremamente realista e enquanto assistimos sabemos que nós - nossos pais, irmãos, familiares, qualquer um que conheçamos - podemos ser submetidos às situações como aquelas. O excesso de realidade provoca certa repulsa no espectador, que se choca com o que vê. Dentre as cenas, acredito que sejam duas as que agridem mais a quietude: o resultado da busca de Marcus por Tênia e, posteriormente, a tão famosa e tão citada cena do estupro. Eu particularmente, gostei de ambas as cenas, pois retratam uma violência sem limites, completamente exageradas, mas que, ao mesmo tempo, são ótimos reflexos que exibem o quão ensandecido o ser humano é capaz de se tornar a ponto de permitir que a barbárie invada seus pensamentos racionais. São quase dez minutos da cena em que Monica Belluci é estuprada e tudo contribui para que realmente creiamos naquilo: desde o cenário claustrofóbico até a presença de um pênis exposto e um figurante ao fundo.

As atuações dos atores principais, Vincent Cassel e Monica Belucci, são realmente interessantes e não deixam a desejar em nenhum momento. Em todos os momentos, eles conseguem nos passar a sensação de que estão realmente a sentir aquilo que o roteiro sugere que sintam. Com a narrativa tem uma peculiaridade interessante - é narrado de trás para frente -, nós somente conhecemos Alex, personagem de Monica Belucci, a partir do meio do filme, embora tenha sido por causa dela que todo o processo tenha desencadeado o alvoroço promovido por Marcos no início do filme. Acredito que poderiam ter dado um pouquinho mais de normalidade à personagem Alex, porque, de alguma forma, ela não aparece tão realista quanto o resto do filme, principalmente no trecho imediato que antecede o estupro e na cena posterior - cronologicamente anterior - a essa, na qual dança. Há um quê de niilismo inconvenientedurante essas duas cenas, mas logo isso desaparece, voltando de novo a dominar o realismo. Vincent Cassel, que eu já tinha visto em Doze Homens e Outro Segredo, me surpreendeu muito aqui, pois se mostrou realmente denso durante os momentos em que aparece.

Eu definitivamente recomendo esse filme a vocês, pois nele há uma junção interessante de elementos. O roteiro nos traz uma história bem simples, porém muito eficiente na sua tentativa de mostrar em quais desastres uma atitude pode resultar; os atores estão à vontade em seus personagens, repassando toda a violência, interna e externa, a que o roteiro os submete; a direção é muito boa também, não deixando a qualidade decair. O principal, na minha opinião, é a maneira claramente alusiva com a qual o filme é narrado: não sabemos ao certo o destino dos personagens, pois, como vimos o final no começo e a partir daí é apenas retrocesso, todas as suas atitudes fizeram surgir a irreversibilidade que dá título ao filme. Vale a pena!

Luís
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17 opiniões:

JB disse...

Epa, eu comecei a ver o filme e não consegui acabá-lo... Aqueles primeiros minutos são horrorosos!

abraço

Roberto Simões disse...

Para mim, vale muito muito muito a pena. É uma obra-prima absoluta. Uma das grandes descobertas que fiz neste ano de 2009.

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema

Jully disse...

blog leagal mas tenho que dizer que eh muito cansativo os textos aqui...pq nao fazem uma critica menor hein???! e acho que vcs postam demais...tem que deixar os posts mais tempo..o blog eh legal mas o layout tb nao tem nada a ver com a proposta do blog...

irreversivel é um filme marcante mesmo...mas merecia resenha melhor neh...

Fábio Flora disse...

Cá entre nós, o filme não vale pela famosa cena de estrupo. Acho a ordem cronológica invertida (boa sacada do roteiro) mais interessante. Abraços e sucesso com o blog!

Cristiano Contreiras disse...

Este é um ótimo filme, realmente.

A boa resenha de Luis mostra um pouco - mas não tudo - sobre os pontos mais interessantes e chocantes do filme, na realidade a intenção do diretor era mesmo 'chocar'. Só que com certo argumento e reflexão, a partir disso.

O filme choca e propõe reflexão, sempre.

Vincent Cassel é um ótimo ator, deveria ser mais reconhecido e valorizado. Veja a ótima atuação dele como um coadjuvante notório no excepcional Joana D'Arc de Luc Besson (tanto ele quanto Milla Jovovich estão perfeitinhos, na medida certa, intensos)

Monica Belucci sempre atua de maneira versátil, acho que os filmes dela proporcionam isso, né mesmo? Este é um belo momento dela.

Confesso que fiquei super anestesiado e agoniado, paralisado, com a cena do estupro...mas, fui até o final. O roteiro diferente capta atenção.

Abraço!

Fotograma Digital disse...

Acho que vocês escrevem pouco na verdade podiam aumentar os textos e tal (ironia MODE ON) rsrsrs.

Sobre Irreversível: é um filme bastante impactante em sua proposta, que é a de nos confrontar com essa situação, que por mais "embalada na magia do cinema" é verossímel. Acho que o maior choque, pelo menos pra mim, não é nem a cena de estupro, que o Nóe (que é um diretor polêmico mesmo) conduz com "classe", não apelando para a grosseria. Ele mantém a camera parada, o que é até pior pra quem vê, pois a situação de impotencia devido a imobilidade é muito pior.

O maior choque é o fim do filme, quando descobrimos o que aconteceu antes da "bagunça" toda... aquilo sim é perturbadoramente cruel.

Abraço.

Hugo disse...

Como você lê no meu blog, eu procuro assistir de todos os gêneros, mas os filmes que marcam são aqueles que de uma forma ou outra nos deixam pensando por dias e que não esquecemos facilmente.
Coloco neste grupo os filmes "diferentes", pela temática, pela polêmica, por personagens inusitados e este "Irreversível" é um viagem ao inferno que nos deixa preso na cadeira e como você bem escreveu, nos faz refletir e nos assusta pela violência quase real.
As atuações são ótimas, Vincent Cassel dispensa comentários, além dos filmes citados, veja por exemplo "Rios Vermelhos" e "À Deriva", outra grandes atuações. A beleza de Monica Belucci vale qualquer filme e até o esquecido Albert Dupontel está ótimo no papel do sujeito que tenta segurar as pontas, mas que explode no final.

Abraço

Jully disse...

sabia q vcs iam falar sobre minha opiniao aqui neh? me poupe isso ai..pq temos que ter liberdade de expressao e isso é super importante no mundo e principalmente nos blogs que visitamos neh..nada a ver vcs responderem com ironia..sem comentarios...eu so acho que o blog tem um layouit bem amador..sei lah eh algo bem colegial...pq naum mudam pra um mais basico??? acho q fica legal com a proposta do blog neh...bom eu acho que vcs deveriam ter os textos menos longos...ficam menos cansativos., eh uma opiniao minha...viva a liberdade de expressao...deixem de ser prepotentes..!!!

Luís disse...

JULLY O.k. Esse recado responderei eu. Quando você vê um filme que gosta muito (ou as vezes odeia muito) consegue resumi-lo em um parágrafo? Poderiamos muito bem dizer: "O filme é muito bom, atuações, fotografia, direção, figurino, roteiro perfeitos" mas onde fica a opinião pessoal? Se os textos são grandes é porque queremos abordar o mais fundo possível os detalhes do filme ou livro que vemos/lemos.
Quanto ao layout, se você tiver experiência com HTML ou seja lá o que for usado para formata-lo ficarei feliz se quiser entrar em contato para ajudar pois tanto eu quanto o Luís não temos muita experiência.

Fica o e-mail: renan_91ps_@hotmail.com

Renan

Unknown disse...

Eu acho que o fato do filme conter histórias simples é o que faz dele especial, pelo menos a gente encontra cenas do cotidiano...melhor do que ficção ciêntifica, né...

Fabrício Bezerra disse...

puxa,eu sou mesmo inculto.achava que conhecia todas as cenas clássicas do cinema,mas não conheço nenhuma que você falou.

eu já vi alguns filmes do cinema francês,eles gostam de criticar os americanos

Dewonny disse...

Um filme q me deixou sem palavras quando termina, onde na verdade estava apenas começando o desenrolar dos fatos na qual já sabemos o q irá acontecer, filmaço, gostei pra caramba, admiro muito a Monica Bellucci e o Vincent Cassel, ambos estão sempre ótimos nos filmes q fazem! nota 8.5! Abs! Diego!

ana disse...

nao quero ser chata, mas acho que falar que o layout de um blog é feio é a mesma coisa que julgar um livro pela capa
o que importa nao é a capa do livro ou o poster do filme, o que importa é o que é mostrado
e esse blog mostra coisa boa
acho que se a pessoa nao quer ler coisa comprida, tem que procurar blog de piadas e tirinhas

Irreversivel é um filme muito bom, mas ue nao consegui ver muito na primeira vez.. cenas muito fortes, não pela pornografia mas por ser de verdade mesmo.
na primeira vez nao vi ate o final, parei quando a camera ficou girando no começo, depois eu tentei ver de novo, até na parte que ela é estrupada
so na terceira vez vi até o final e achei o final mais triste do que o aconteceu e concordo com o que a fotograma disse la em cima

ana disse...

ai, me lembrei de uma coisa tambem
eu assisti ontem um filme muito bom e eu queria sugerir pra voces, o filme chama Delicada atração e é muito bom mesmo
é meio velho, dificil de encontrar, ainda mais por nao ser americano, ser internacional

se verem o filme, comentam aqui por favor?

Marcelo A. disse...

Ei, eu já ouvi falar desse "Delicada Atração", mas nunca vi. Tem também um filme chamado "Delicada Relação" que conta a história de dois oficiais israelenses que se apaixonam. Vira e mexe passa na tv a cabo. Fica a sugestão aqui também.

Abraços!

Vinicius Colares disse...

Irreversível é impressionante, eu sinceramente não sei se Gaspar Noe é apenas um sádico ou se ele realmente usou a violência apenas como um conceito a ser explorado artisticamente!!!!

Luís disse...

JOÃO, eu sugiro mesmo que você tente vê-lo mais uma vez. Chegue até o final e descobrirá um filme muito interessante.

ROBERTO, foi uma bela descoberta que fiz esse ano também!

JULLY, obrigado pelos elogios. Se nos mandar o seu e-mail, enviaremos para você um formulário de sugestões e reclamações; depois o submeteremos à análise do nosso superior. (ironia) Volte sempre.

FÁBIO, não foi minha intenção sugerir que o filme só valha por causa dessa cena. Como um todo, ele é muito interessante.

CRISTIANO, concordo com o que disse sobre o filme. Não conheço muito do trabalho de Vincet Cassel; já Monica Belucci é bem bonita e carismática, também versátil. A cena de estupro é mesmo angustiante.

ALEXANDRE, adoro essa ironia maravilhosa! Então, como você disse, também acho que o começo enfatiza o quão dramático foi aquele dia. E isso assusta: como pode um dia começar tão bem e terminar daquela maneira?

HUGO, concordo totalmente com você acerca desse filme. A respeito de Vincent Cassel, vi pouquíssimos filmes com ele. Monica Belucci também não é minha atriz preferida e vi, no máximo, uns 4 filmes com ela. Mas vou conferir suas dicas.

JULLY, veja a resposta do Renan acima.

KARINE, a simplicidade desse filme é incontestável - ao mesmo tempo, é brutal e muito realista.

FABRICIO, a cena do estupro é realmente famosa! Provavelmente está na maioria das listas das cenas mais fortes do cinema...

DEWONNY, tive a mesma reação que você: fiquei sem fala. Um filme realmente interessante, que merece ser visto.

ANA, algumas pessoas simplesmente gostam de reclamar. Eu vi o filme de uma vez só e fiquei também chocado com o que é mostrado. Concordo: o final é mesmo triste. Sobre Delicada Atração, já ouvi a respeito, mas ainda não pude conferi-lo. Tão logo que eu e o Renan o virmos, nós o colocaremos aqui, ok?

MARCELO, acho que já devo ter lido algo sobre o filme que a Ana sugeriu. Esse "Delicada Relação" eu vi hoje na locadora. Se nós o virmos, vamos colocá-lo aqui também.

VINICIUS, eu acredito na segunda hipótese, mas acredito que haja um quê de sádico nele também. Só com muito sadismo pra filmes aquela longa cena de estupro...

Luís