5 de dez. de 2009

O Auto da Barca do Inferno


Auto da barca do inferno, 1517, 45 páginas, Teatro.

Literatura obrigatória na FUVEST e UNICAMP
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O livro trata de diversas pessoas que morrem e tem que “partir”, e é esse o grande problema, já que há duas opções: a Barca do Diabo (onde vai também seu ajudante) e a Barca do Anjo. Antes de entrar, eles são julagados pelo que fizeram em vida.

O primeiro a aparecer é o Fidalgo (Homem Nobre), que como todos pergunta ao Diabo para onde aquela barca vai e quando tem a resposta fica indignado e vai a proucurar do Anjo, implorando um lugar. Numa passagem muito boa, o Fidalgo diz: que sua mulher vai querer ve-lo na proxima vida e o Diabo zomba com ele, dizendo que as lagrimas dela eram de alegrias e as “lastimas que dizia” foi “sua mãe que lhe ensinou”. Por fim, convencido, ele entra na barca do Diabo:
“Entraremos, pois assim é.
Ó barco, como és ardente!
Maldito quem em ti vai”
A sentença desse personagem é a condenação da frivolidade, da soberba e da tirania

O segundo a aparecer é o Onzeneiro (Agiota), que pergunta ao Diabo qual o destino da barca, e quando sua pergunta é respondida diz:
“Não vou eu em tal barca
Estoutra tem avantagem”
Dirigi-se a barca do Anjo, e é rejeitado pelo próprio, que diz que que a ambição é feia, e é filha da maldição. Por fim, rendido, entra na barca do Inferno.
A sentença do Onzeneiro é a condenação da usura, da ganância e da avareza

O terceiro é o Parvo (Bobo), que quando tem a resposta a pergunta que os dois primeiros fizeram ao Diabo, insulta o Diabo de diversas expressões depreciativas (”Furta-cebolas, Excomungado nas igrejas, Filho da grande aleivosa), e quando vai a barca do Anjo, é o primeiro a ter uma resposta positiva. O Anjo diz:
“Tu passarás, se quiseres
porque em todos teus fazeres
por malícia não erraste”
A sentença do Parvo é a glorificação da modéstia e da humanidade

O quarto é o Sapateiro, que reclama muito, quando o Diabo diz que não tem escolha se não a de entrar em sua barca. O Sapateiro diz:
“Quantas missas eu ouvi,
que me hão-de elas prestar?
(…)E as ofertas, que darão?
E as horas dos finados?”
Indignado, ele vai ao Anjo, e recebe dele mais uma resposta negativa. Vencido, volta ao Diabo e entra em sua barca, dizendo: “…e levai-me àquele fogo!”
A sentença do sapateiro é a condenação da má fé no comércio e da hipocrisia religiosa.

O quarto personagem é o Frade (Padre), que já chega acompanhado de uma namorada chamada Florença. Ele chega cantando e dançando, trazendo também uma espada de esgrima. Como era um religioso, quando houve a proposta do Diabo fica indignado e vai a barca do Anjo, onde conversa com o Parvo, que diz ao Frade que ele não chegou em uma boa hora. Convencido, ele e Florença vão a barca do Inferno. O frade até diz: “Vamos onde havemos de ir”.
A sentença do Frade é a condenação do falso moralismo religioso.

A quinta personagem é uma cafetina, que também se revela feiticeira chamada Brísida Vaz. Mais uma vez, o Diabo faz o convite e ela o recusa, indo na direção do Anjo e tenta convence-lo de que merece ir na barca Celestial, até diz:
“Eu sou apostolada
angelada e martelada
e fiz coisas mui divinas”
Rejeitada pelo Anjo, ela se volta ao Diabo e aceita ir na barca dos Renegados.
A condenação de Brísida é a prostituição.

O sexto personagem é um Judeu, que chega carregando um bode (simbolo do judaismo). Inicialmente até o Diabo o rejeita, dizendo que não levará nenhum bode em sua barca e o Judeu diz:
“Porque não irá o judeu
onde vai Brísida Vaz?”
Vai até a barca do Anjo, onde também é rejeitado pelo Parvo. O Judeu volta ao Diabo, e esse o aceita, contudo terá que levar o bode na coleira.
A condenação do Judeu é ir contra os principios católicos.

O sétimo e o oitavo personagem é o Corregedor (Juiz), e o Procurador (Advogado), respectivamente. Eles se misturam depois da chegada do Procurador, pois em vida trabalhavam junto. O Procurador até diz ao Corregedor: “Beijo-vo-las mãos, juiz!”. Os dois tentam convencer o Diabo e o Anjo que merecem ir ao Paraiso, e pra isso usam diversas frases em latim. Os dois são criticados pelo Parvo e renegados pelo Anjo, até que só sobra a opção da barca do Inferno para os dois.
A sentença dos dois é a condenação da burocracia corrupta e uso do poder em proveito próprio.

O nono personagem é um enforcado. Ele era escrivão em vida e acusado de ser testa-de-ferro no trabalho. Ele ainda vem com a corda com a qual se matou. Ele discuti com o diabo, defendendo a sua idéia de que deve ir para a barca do Paraíso. Mas o diabo o convence de que não merece o Paraíso, e o enforcado entra na barca do Diabo, dizendo:
“Entremos, pois que assim vai”
A sentença do Enforcado é praticamente a mesma que a so Corregedor e do Procurador.

Por fim, o décimo conjunto de personagem são os 4 cavaleiros que morreram nas Cruzadas em uma região da África. Eles chegam cantando e não perguntam ao Diabo para onde aquela barca vai, o que o espanta. Eles vão direto para a barca do Anjo onde são bem recebidos. O Anjo até diz:
“Ó cavaleiro de Deus
a vós estou esperando”
A sentença deles é a glorificação do ideal das Cruzadas e do ideal do Cristianismo puro.

“E assim, embarcam.”

Gil Vicente (1465 — 1536) é geralmente considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. A obra vicentina é tida como reflexo da mudança dos tempos e da passagem da Idade Média para o Renascimento, fazendo-se o balanço de uma época onde as hierarquias e a ordem social eram regidas por regras inflexíveis, para uma nova sociedade onde se começa a subverter a ordem instituída, ao questioná-la. Foi, o principal representante da literatura renascentista portuguesa, anterior a Camões, incorporando elementos populares na sua escrita que influenciou, por sua vez, a cultura popular portuguesa. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gil_Vicente)

Como livro, esse vale a pena, apesar de ser uma leitura extremamente curta, ela é bem cansativa. Recomendo a série “Ler é Aprender” do Estadão, de onde tirei muitas informações aqui presentes. No final do livro há um bom resumo do livro.

Renan

6 opiniões:

Kamila disse...

Nunca li esse livro e nem tinha ouvido falar dele antes.

Ricardo Martins disse...

Esta obra me segue, já li, já a vi no teatro e por fim já participei de uma brincadeira sobre ela na escola onde no fim me levaram para o inferno! Até hoje não acredito...

Mas como faz tanto tempo, acho que deveria ler a obra mais uma vez, olhando atentamente a construção e vendo antes, um pouco sobre em que época foi escrita!

Mas confesso que a maioria de obras literárias eu detesto! Mas quando é obrigatória como na Fuvest, terei que ler, quem sabe para o ano que vem!!!

Abraço

Roberto Simões disse...

Eu cá sou um grande admirador de Gil Vicente. O AUTO DA BARCA DO INFERNO é, simplesmente, hilariante. O AUTO DA ÍNDIA também é engraçadíssimo ;)

Boas leituras por esses lados, estou a ver ;)

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema

Bruno disse...

Nossa, eu já perdi a conta de quantas vezes li esse livro, é um dos que mais gosto!

Nina disse...

não sou muito fã de ler dramas, mas o enredo parece bacana :]

Luís disse...

KAMILA: Nunca nem ouviu falar? Acho que é a primeira pessoa que eu vejo desconhecer essa obra.

RICARDO: Nunca vi o teatro, deve ser interessante. O Auto da Barca do Inferno é um daqueles livros que talvez fosse agradável de se ler se não fosse obrigatório.

ROBERTO: Li em um livro que os analistas literários internacionais dão mais importancia para Gil Vicente que os próprios portugueses, é verdade? Há algumas partes realmente engraçadas.

BRUNO: É bem legal mesmo, mas não colocaria entre os meus preferidos.

NINA: Quem falou em drama?

Renan