28 de jan. de 2010

O Show de Truman

The Truman Show. EUA, 1998, 102 minutos. Drama.

Indicado a 3 Academy Awards, nas categorias Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro Original.
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Há muito que queria ver esse filme, mas sempre que ia à locadora ou ele estava alugado ou eu acabava escolhendo outro. Quando, por fim, estava com o filme em casa e fiquei em dúvida entre ver esse e outro filme, uma divergência quanto às opiniões dos participantes de um chat me fez dar prioridade a ele: uns disseram tratar-se de um filme ruim, o pior da carreira de Jim Carrey; outros disseram que era bom. Para sanar a dúvida, nada melhor do que eu mesmo conferir para ter a minha opinião.

Truman vive uma vida normal: é casado, tem um emprego, tem um melhor amigo, tem recordações e também alguns traumas. O que ele não sabe é que tudo ao seu redor é televisionado, inclusive sua própria vida: as pessoas com quem convive são atores, a cidade na qual está é um grande cenário e Truman está preso àquela situação que, pouco a pouco, começa a incomodá-lo a ponto de fazê-lo querer mudar. Aproveitando que já descrevi a sinopse, gostaria de dizer que o roteiro é realmente interessante, merecendo inquestionavelmente uma indicação como Melhor Roteiro Original. A criatividade aqui é bem explorada e a trama nos faz pensar sobre as várias perspectivas existentes, embora algumas estejam implícitas. Acredito que o mais visível é a maneira como o capitalismo é mostrado, já que é capaz de interferir totalmente na vida de uma pessoa, alterando-a a fim de obter sempre mais lucros. Também podemos ver a situação das pessoas que, embora demonstrem humanidade, entretém-se diante da vida de um homem enclausurado num ambiente do qual não pode fugir.

Quando escrevi sobre Número 23 no Blog antigo, eu disse que me agradava ver Jim Carrey numa atuação que não seja a comédia típica, pois todos já estamos acostumados com as suas caretas e o seu já consumado modo de atuar. Ao vê-lo num filme como esse, cuja densidade é perceptível e no qual sua interpretação explora muito mais do que as faces caricatas, eu tenho que dizer que ele sempre deveria trabalhar em produções assim, que conseguem arrancar um sentimento do fundo do ator e trazê-lo à tona. Do que eu gosto realmente nele é que, mesmo em filmes dramáticos, ele consegue mostrar um humor conveniente, sem exageros, bem diferentes de filmes como O Pentelho, O Mentiroso, etc. Esse, juntamente com Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, é o meu filme preferido com o ator, que, na minha opinião, poderia esforçar-se mais para trabalhos em roteiros mais densos, que lhe permitam mostrar toda a sua capacidade.

Dois ótimos atores estão presentes no drama: a belíssima Laura Linney e o excelente Ed Harris. Os dois atores têm papéis importantes na trama, respectivamente como a esposa de Truman e o diretor que comanda o programa de TV. Laura Linney consegue nos encantar com o seu sorriso mesmo quando sua personagem não tem boa índole; quando está em cena, há um charme a mais. Ed Harris traduz muito bem o espírito ganancioso de um homem que quer ver o show seguindo adiante, sem pausas, custe o que custar. Totalmente compreensível a sua indicação como Melhor Ator Coadjuvante. Destaque para as duas últimas cenas que envolvem o seu personagem, nas quais o ator brilha. Noah Emmerich, intérprete de Marlon, o melhor amigo de Truman, também tem um bom desenvolvimento ao longo do filme: uma das cenas de maior destaque de Marlon é quando ele e Truman conversam na beira da ponte e Marlon realmente impressiona com a gentileza das coisas que diz ao amigo, mas, trocando a perspectiva, percebemos que quem diz tudo na verdade é o diretor e que Marlon na verdade é um excelente ator e é - não posso deixar de acrescentar - muito cretino.

O Show de Truman é uma obra muito boa e merece ser vista. Eu, como perceberam, discordo totalmente dos que acham que Jim Carrey não está bem nesse filme. Dos filmes que vi no mês, este foi um dos melhores, certamente. Sugiro realmente que o confiram.

Luís
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8 opiniões:

Roberto Simões disse...

Jim Carrey tem uma prestação sublime, que lhe redefiniu a carreira. De resto, fotografia e banda sonora aliam-se magistralmente com a subtil e inspirada realização de Peter Weir. O resultado é um filme muito, muito interessante, capaz de suscitar as mais pertinentes questões sobre a existência humana.

4/5

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema

Carla disse...

Nunca assisti "O Show de Truman"...
Mas pelo o que você disse, parece ser muito interessante o roteiro, é bem criativo, quero assistir!
Assisti a Nº23 com o Jim Carrey, mas não gostei do filme, mas a atuação dele estava ótima.Também acho que ele devia tentar fazer mais filmes desse tipo.

Gregory Vancher disse...

Não sou muito fã do Jim Carrey por conta das comédias. Mas concordo que ele teve uma atuação muito boa em Brilho Eterno de Uma Menta Sem Lembranças. Vou tentar assistir a esse "The Truman Show" e talvez até diminiua um pouco meu receio por filmes onde ele participa.

Deivis disse...

Confesso que até hoje não consegui assistir esse filme por completo... assisti só do "meio pro fim". Mesmo assim gostei do tema e do tipo de abordagem para o assunto.

Parabéns, ótimo blog...
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Pensamento Ocioso - Porque o Ócio é Uma Necessidade
http://pensamentoocioso.blogspot.com/

Hugo disse...

Jim Carrey tem muito talento, que vem a tona quando ele encontra um roteiro e um diretor inteligente.
Este longa é ótimo e ainda foi feito quando os reality shows ainda estavam no início, não havia se transformado nesta febre atual.

Abraço

Thiago Paulo disse...

Cara, faz tanto tempo que vi esse filme, nem me lembro direito se gostei ou não. Assim como você, prefiro ele atuando em drama, tanto que Brilho Eterno é um dos meus filmes prefidos.

talvez alugue na próxima semana, afinal, está na lista do Oscar 99, né?!

Até +

Marcelo A. disse...

Há pouco tempo você me perguntou sobre atores que costumam ser vistos somente num tipo de papel e que, quando mudam de "linha", surpreendem. O Jim foi uma dessas minhas surpresas. A primeira vez que vi o Show de Truman - e isso lá se vão quase dez anos - confesso que fiquei surpreso em ver o Ace Ventura encarnando algo diferente do que estava acostumado. E confesso: gostei muito!

Abração!

Cristiano Contreiras disse...

Um filme único...um absurdo o Jim Carrey sequer ser indicado pela Academia, vai entender a mente dos velhinhos votantes, né mesmo?

E ele ficou tão decepcionado por ser esquecido, lamentei muito isso.

Um filme com abordagem contundente e original!