6 de jan. de 2010

Onde os Fracos Não Têm Vez

No Country for Old Men. EUA, 2007, 125 minutos. Drama.

Indicado a 8 Academy Awards, venceu por Melhor Filme, Melhor Direção (Irmãos Coen), Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado.
______________________________________________


Onde os Fracos Não Têm Vez é um daqueles filmes que a princípio pensamos tratar-se de uma produção supervalorizada e que, provavelmente, não merecia todas as categorias em que concorreu. No entanto, não precisamos de mais do que vinte minutos para constatar que, se realmente não foi o melhor dentre os selecionados, certamente nos proporcionará duas horas de cinema de verdade. Os irmãos Coen realizaram uma obra que marcará os admiradores de bons filmes, pois cuidaram para que pudessem presenciar não somente ótimas atuações como também víssemos qualidades técnicas inquestionáveis.

Llewelyn Moss encontra vários homens mortos numa região do deserto; constata que o comércio da cocaína presente numa das picapes deu errado e, achando uma maleta com muito dinheiro, resolve pegá-la para si. Essa atitude gera uma perseguição implacável, que nem mesmo o xerife da cidade consegue controlar. Esse resumo poderia te fazer pensar que a abordagem do filme é tipicamente policial, com perseguições de carro, muitos tiros, etc.; ainda pode fazer com que você que se assemelhe às característica do filme O Exterminador do Futuro. Pois bem, está muito longe de ser qualquer um dos dois. O filme tem um estilo muito próprio e podemos perceber que a regularidade do que é proposto traz estabilidade a ele. Por exemplo, vemos o mesmo tom do início ao fim, sem quedas de qualidade, sem excessos. O fato de o filme se passar há algumas décadas e, principalmente, numa área deserta, traz um ar de faroeste, que chega a ser quase nostálgico - embora eu nunca tenha estado num faroeste.

A força de vontade de Llewelyn é comovente. Durante o tempo todo torcemos para que o assassino vivido por Javier Bardem não consiga pegá-lo. O grande acerto do filme é nos fazer compreendê-lo totalmente. Com isso, quero dizer que nós podemos acompanhar a trajetória dos personagens, somos convencidos pelos atores, nos entregamos à ótima fotografia, admiramos o roteiro e, sobretudo, não sentimos necessidade de que ele acabe rápido e, ao acabar, achamos que foi pouco. Vou falar um pouco sobre o roteiro: sinceramente, é um dos mais interessante que vi nesses últimos anos. A história não é complexa, nem há indas e vindas no tempo; basicamente, o que cativa o espectador é a simplicidade e eficiância do que é contado. Certamente me agradaria ler o livro em que o filme foi baseado. Nas mãos de outro diretor, o tema um-homem-que-foge-de-um-assassino poderia se tornar quase ficção científica, tamanha a quantidade de efeitos pirotécnicos; aqui, temos tudo o que citei acima.

Os atores estão realmente muito à vontade em seus papéis e não tenho como repreender a atuação de nenhum. Desde aquele que aparece mais, Llewelyn, até o que aparece menos, sua esposa Carla Jean, realizam um excelente trabalho. Dentre todos, aquele que mais se destaca, sem sombras de dúvida, é Javier Bardem, interpretando magistralmente Anton Chigurh, o assassino que caça incansavelmente Llewelyn. Uma vez em cena, até o espectador fica assombrado com o olhar vidrado do personagem. Outro ponto positivo para a compõsição de Anton: ele não é totalmente desprovido de humor. Ainda que não seja tipicamente risonho, suas falas frias dão o toque certo de sarcasmo para que gostemos - sim, não há como dizer que não gostei - do personagem. Com sua excelente interpretação, Bardem garantiu uma posição na lista dos melhores assassinos do cinema, que, além de completamente insano, ainda tem peculiaridades engraçadas (basta ver a maneira simpática de arrombar a porta e o cuidado com os sapatos. Tommy Lee Jones, em papel secundário, também está muito expressivo, fazendo com que os monólogos e divagações de seus personagens apenas acrescentem ritmo e dramaticidade a tudo que vemos; em nenhum momento nos sentimos insatisfeitos com suas histórias e, assim como o sarcasmo de Chigurh, o xerife também usa de frases irônicas para ser engraçado - ainda que não se admita assim. Já Josh Brolin, num excelente momento, compõe Llewelyn Moss de maneira muito interessante: nós simplesmente estamos do lado do personagem o tempo todo e acompanhamo-no em todas as suas emoções, principalmente no sentimento instintivo pela sobrevivência, que inclui aguentar dores e ficar calado. Acredito que seja por causa desse filme que Brolin conquistou sua indicação no Oscar de 2009 pelo filme Milk - como a Academia não o indicou por sua atuação em Onde os Fracos Não Têm Vez, decidiram consertar o erro no ano seguinte, indicando-o por uma atuação que, definitivamente, é inferior a essa.

Esse é um daqueles filmes para se assistir sozinho, acompanhado, de dia ou de noite; o importante é vê-lo! Como eu disse, não foi supervalorizado: apenas recebeu tudo aquilo que merecia, porque, indiscutivelmente, vale as duas horas de projeção e o espectador, se não alegra totalmente ao terminar de vê-lo, pelo menos sabe que esse filme ficará na lembrança por um bom tempo.

Luís
________________________________________


Onde os Fracos não tem vez é um daqueles filmes que, quando se acaba de ver, se pensa: "Que puta filme bom". Nem preciso dizer que adorei o longa e o conferi mais de uma vez em duas semanas. Tudo no filme funciona bem, e esse entraria na minha lista dos 10 melhores filmes que assisti.

O filme nos remete a um passado que fica entre o faroeste de Giuliano Gemma que meu pai adora e os filmes de ação que estamos acostumados, e talvez por isso o longa ganha um rumo diferente que o torna diferente de tantas obras que poderiam se assemelhar a ele, fazendo deste, um filme imperdível. Tenho que concordar com todas as indicações e premios que o filme levou. Talvez tenha havido uma falha quanto a não indicação de Josh Brolin, mas tudo bem. Agora, quem mereceu a indicação e o premio foi Javier Bardem. Papel incrível o dele, extremamente denso e a atuação fria, calculista e até um psicopata dele leva o filme para um patamar superior. Com certeza Bardem é um dos melhores atores de sua época só de analisar filmes como esse e Mar Adentro.

Outros pontos como a atuação modesta mas eficaz de Tommy Lee Jones deve ser lembrado, assim como os cenários e a fotografia eficaz que traz a tona mais suspense e mais adranalina ao filme que consegue nos segurar, vidrado em frente a TV, durante suas 2 horas de filme.

A direção de Joel e Ethan Coen também é de grande eficácia. Filmes como Queime depois de Ler, dos mesmos diretores, tendem a não agradar a todos (embora eu tenha gostado), mas com Onde os Fracos nao tem Vez isso não acontece. Esse filme é indicado para qualquer situação. Filme com amigos? Filme com a família? Filme sozinho? Escolha esse e não terá erro.

Renan

14 opiniões:

Cristiano Contreiras disse...

Eis um filme que sinceramente detestei, em todos os sentidos. Praticamente voltava toda hora o filme, pois me causava constante dispersão. Além de chatinho, o argumento não cativa, talvez eu ache que o ritmo e a falta de criatividade tenha sido evidente - mas, obviamente, eu sei que ninguém concorda comigo.

Desde quando Tommy Lee Jones é expressivo? Sinceramente, anos vai e vem e ele sempre com a mesma-expressão-apática-de-sempre. Se Lee Jones é expressivo? Sean Penn é Xuxa. Se bem que nisso você concordará comigo, Luís, já que acha o Penn intragável! É o que penso exatamente de Lee Jones. Muito monótono, canastrão e antipático: pra mim Tommy Lee Jones se resume a isso, por isso seus personagens pecam pela ausência de carisma.

Não gostei de No Country for old men, mas acho que realmente seja algo pessoal: não vi 'beleza' alguma pra levar oscar, a única evidência se chama Javier Bardem, isso é fato, o filme é mais mérito dele que de qualquer um.

O resto pra mim é lixo e tenho dito.

Roberto Simões disse...

É, de facto, um filme fenomenal.

Raras são as vezes em que, com tamanha mestria e perfeição, fotografia, montagem e realização se elevam em uníssono harmonioso na concepção de um filme tão bom.

Penso que ambos defenderam bastante bem a película.

5/5

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema

Thiago Paulo disse...

Até pensei que era o único que detestava esse filme, mas o Cristiano aí também não gosta.

Oque me agrada são apenas os personagens e a fotografia... Mais nada!

Abraço pra vocês.

Andrei Vinicius Morais disse...

Realmente adorei esse filme e gostei bastante do seu texto, concordo com você.

Jean Douglas disse...

É incrível o número de pessoas que me disseram que "Onde os fracos não têm vez" é péssimo, mas como não me atenho a certas opiniões, resolvi conferí-lo. E ao fazê-lo, pude constatar que este é um filme magnífico!

A maneira que a trama nos conduz é brilhante! Ficava torcendo para que Llewelyn não fosse pego e que ele ficasse com toda aquele dinheiro. Afinal, como mesmo diz o ditado: "Achado não é roubado".

A atuação de Javier Bardem de fato foi sensacional. Todas as cenas em que ele aparecia me prendia mais ainda. É uma pena que muitos não tenham conseguido absorver as ótimas sensações que este filme nos proporciona.

E aliás ... devo assistí-lo de novo esses dias. Rever uma obra-prima desta é sempre um prazer!

Ótima crítica! Um forte abraço.

Vinicius Colares disse...

Pensei que seria a resenha do livro do qual o filme foi adaptado...rsrsrsr, essa uma boa idéia para um seção aqui do blog, vcs podiam fazer resenhas de filmes adaptados, junto com a resnha do livro de vez em quando!

Marcelo A. disse...

Nossa, "faltou luz" aqui, justo na hora de postar meu comentário. Mas vamos lá, tentarei reproduzir o que havia escrito...

Primeiro: o filme me prendeu. Não levantei a bunda do sofá enquanto ele não terminou e isso é algo que, comigo, está sendo cada vez mais raro.

Segundo: os irmãos Coen. Gosto dos caras. Eles são bons. Tão aí "Gosto de Sangue" e "Fargo" pra provar.

Terceiro: Javier Bardem. Pra mim, umas das grandes injustiças do Oscar diz respeito a ele. Nunca consegui engolir Russell Crowe levar o Oscar em 200O por Gladiador e não ele, por Antes do Anoitecer. O cara é um puta ator.

Podia enumerar mais coisas, mas melhor ir ficando por aqui, antes que a energia acabe outra vez...

Abração!

Hugo disse...

Como assisto filmes aleatoriamente, de acordo com o que aparece ou com que descubro em lojas e locadoras, ainda não assisti este longa, mas desde o lançamento estou curioso para conferir.
O cinema dos Irmãos Cohen é algo diferenciado e concordo que nem sempre agrada a todos.

Abraço

Matheus Pannebecker disse...

Gostei muito desse filme. E alguns perguntam como esse filme foi vencer "Sangue Negro" no Oscar. É muito simples: "Onde os Fracos Não Têm Vez" é mais eficaz e acessível, além de atingir um público muito mais amplo do que "Sangue Negro".

Anônimo disse...

de fato! não foi supervalorizado, é um filme excelente!!! só acho uma pena tanta gente reclamar do final, que pra mim foi perfeito.

gostei da proposta do blog de vocês, o meu é parecido: cinema + livros e um pouco de música...

só q eu escrevo SOLO.

parabéns pelo blog.

Abraços!

História é Pop! disse...

Vi no fotograma

que você gostaria de ver

testemunha de acusação

estou enviando o link do filme em

AVI.

Se vc for contra essas coisas de baixar

filmes pela net entenderei

so estou tentando ajudar

ai vai o link de onde vc encontra o filme

abraços


http://baixarlivrefilmesmoviesshows.blogspot.com/2009/09/testemunha-de-acusacao-witness-for.html

O Cara da Locadora disse...

Sem dúvida um dos melhores filmes que já vi, entrou na lista (que nem é tão seleta assim, rs)... Só discordo com o finalzinho da resenha do Luís, que diz que esse é um filme que agrada a todos, tá longe disso, cara... MUITA gente reclama que o filme "não tem final" (e olha que tem 3), que não entendeu nada e etc... Eu considero uma obra de arte...

PS: Recebemos o selo, se a gente demorar pra postar é que a gente é enrolado, mas gostamos de você mesmo assim, rs...

thicarvalho disse...

Ótimo filme, um dos melhores desta última década. Além da trama envolvente e sufocante, as atuações são ótimas, destaque para Javier Badem, Josh Brolin e Tommy Lee Jones. Quanto aos irmãos Cohen, este é o único filme deles que achei bom. Grande abraço e parabéns pelo blog.

Visitem: www.cinemaniac2008.blogspot.com

Luís disse...

CRISTIANO, minha opinião é bem diferente da sua, como você percebeu lendo a resenha. Tommy Lee Jones realmente não é um super-ator, mas até que convence e nesse filme ele está bem.

ROBERTO, devo concordar totalmente com você. Tudo está em harmonia nessa filme...

THIAGO, a fotografia é realmente muito positiva. Dentre os personagens, creio que o destaque seja Anton Chigurh, maravilhosamente composto por Javier Barden.

ANDREI, estamos de acordo, então.

JEAN, concordo com você. Até ver o filme, eu não tinha consciência dessa discordância entre os que já o viram. Até então, achava que todos gostassem dele...

VINICIUS, anotamos a sua sugestão. Já estamos, inclusive, trabalhando em algo que seja parecido com o que você sugeriu.

MARCELO, eu também não me levantei enquanto não acabou. E depois que acabou, queria que continuasse. Bem... você sabe... ainda não assisti Gladiador, dessa maneira não posso dizer se foi justo ou não.

HUGO, eu realmente recomendo que você assista a esse filme!

MATHEUS, eu ainda não conferi Sangue Negro, mas vou vê-lo logo, eu espero. E esse é realmente um filme acessível e eficaz.

INTRATECAL, talvez as pessoas não gostem do ritmo do filme, muitos consideram-no "lento". Vou conferir o seu blog, sim.

JÚNIA, obrigado pela sugestão. Eu realmente não tenho o costume de ver filmes pelo computador, por dois motivos: 1) é desconfortável ficar sentado nessa cadeira; 2) minha internet não ajuda muito na hora de baixar. Mas agradeço mesmo a sua sugestão.

CARA DA LOCADORA, é, então... eu errei mesmo ao dizer aquilo... devia ter dito que "esse é um filme que tanta agrada quanto desagrada". Não sabia que tantas pessoas não gostavam dele...

THICARVALHO, concordo com você a respeito da trama e acho que Javier Barden se destaca mais do que os outros. Passarei no seu blog para vê-lo.

Luís