22 de fev. de 2010

O Abraço Partido

El Abrazo Partido. Argentina, 2004, 92 minutos.
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O Abraço Partido é um daqueles filmes leves, que conduzem um tema relativamente denso de maneira bem suave, mostrando inúmeras sutilezas e conduzindo o espectador a uma confortável sessão de cinema, na qual verá boas atuações, um roteiro interessante, uma direção eficiente e, principalmente, terá entretenimento durante toda a projeção. A história aborda a dificuldade que Ariel encontra em compreender o porquê de o pai ter deixado a família para ir lutar na guerra do outro lado do mundo; paralelamente, tenta conseguir um documento que lhe conceda nacionalidade polonesa e se relaciona com Rita, uma mulher cuja vida ele não conhece bem.

Os fãs assumidos do drama - como eu - poderão dizer que O Abraço Partido seria uma excelente obra dramática, mas, como foi realizado numa estrutura diferente dessa, não é um bom filme. Eu, pelo contrário, discordo totalmente, pois acho que esse é uma das produções que conseguem encontrar o equilíbrio entre a dramaticidade e a suavização, acertando claramente na maneira como todos os fatos nos são mostrados. O tom dramático de cada cena fica à livre escolha do espectador: eu pude imaginar perfeitamente como seria as situações exibidas se as cenas tivessem sido prolongadas. Essa possibilidade que nos é dada, a de imaginar, é o que taz um diferencial à obra, que é muito válida. A principal característica do roteiro não é a da análise profunda, revirando os sentimentos dos personagens e expondo-nos suas vísceras; seu aspecto mais visível é a exibição da superficiliadade, da camada mais fina. Acredito que esse é o principal fator pelo qual, na minha opinião, O Abraço Partido é um bom filme: sua estrutura se mantém ao longo da trama e a qualidade se mantém linear, sem sair do padrão em que se iniciou.

As atuações são realmente simpáticas. Eu não vou usar o termo "boas", pois realmente o principal chamativo quanto a esse quesito é a simpatia, uma vez que todos os atores a demonstram e todos conseguem mantê-la, permitindo ao espectador gostar deles o tempo todo, mesmo quando o enredo dá uma guinada, nos mostrando que as coisas poderiam ter sido diferentes e que a culpa não é exclusivamente de uma pessoa. A forma como o roteiro aborda a preocupação da mãe com Ariel é bastante realista: duvido que haja mãe que não tente manter rédeas curtas com o filho quando este se engraça com uma mulher mais velha. Isso fica bem claro no filme. A mãe de Ariel, Sonia, na minha opinião, é a mais densa, pois - o roteiro analisa a superfície, lembrem-se! - ela consegue misturar em si muitos sentimentos que são muito contraditórios, principalmente se considerarmos algumas de suas atitudes e a história que ela conta ao final do filme.

Eu gostei bastante do filme e recomendo-o a todos que busquem um drama suave, sem exageros, sem grandes cenas emotivas. Não me resta dúvidas de que esse seja um filme que tenha chegado bem próximo à lista dos cinco indicados ao Oscar, pois é realmente agradável, conseguindo unir humor, drama, poesia - na cena em que a avó canta - e, como se não bastasse, nos traz uma moral ao final. É claro que isso não fica explícito, como numa fábula, mas o espectador perceberá qual é a moral existente: não julgar sem antes conhecer os motivos. Vejam-no, pois vale a pena.

Luís
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Particularmente gosto muito ver filmes não-americanos. Me agrada ouvir diálogos em outras linguas e esse já foi um ponto a favor para que eu gostasse de O Abraço Partido, fora que foi o primeiro (e único) filme argentino que tive a oportunidade de conferir.
Por vezes temos a impressão que o filme vai do nada pra lugar nenhum, ou seja, não há um roteiro concreto como os dramas que estamos acostumados a ver. E isso realmente ocorre, mas não do modo negativo como pode parecer. A simplicidade do roteiro é cativante fazendo com que os personagens fiquem marcados na nossa memória. É difícil esquecer cenas como a corrida ou cenas intermediárias como a que Ariel se encontra com Rita na loja da mãe e, mesmo estando em um jogo de sedução, continua dizendo que ela não pode experimentar roupas íntimas

Daniel Hendler faz tão bem seu papel como Ariel que nem notamos alguma falha grave, talvez pelo fato de seu personagem ser apenas humano. Não há drama, apenas o cotidiano de um jovem que quer conseguir um visto para viajar. Adriana Aizemberg também faz bem seu papel como a mãe de Ariel, uma senhora que não vê o marido faz tempo mas que ainda assim toca a vida trabalhando. Citei acima a personagem Rita, e de todo o elenco foi dela de quem eu mais gostei. A atuação da atriz é provocante, mesmo ela não sendo um sex symbol e o seu relacionamento pouco conveniente com o dona da lan house é bem interessante.
Talvez seja um pouco difícil achar esse filme, mas se acha-lo numa locadora ou se ele estiver passando na sessão das onze da noite na Cultura, segure o sono e assista-o. Garanto que não se arrependerá.

Renan

1 opiniões:

Cristiano Contreiras disse...

Ah, sem sombra de dúvida é um filme singelo mas que nos toca de todas as formas, gosto das atuações pequenas e do tom do roteiro simplório - mas, intenso também.

Bom ver este filme aqui!
Assisti tem uns dias...e recomendei a alguns amigos, inclusive.

Abraço