The Film Club, 230 páginas (Editora Intrínseca), 2009. Autor: David Gilmour.
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A primeira coisa que quero que reparem é na beleza da capa, pois foi ela quem me chamou a atenção para o livro. Olhei-o atento, senti o revelo do título e, por fim, li as orelhas: diante das dificuldades com as notas e o crônico desinteresse pela escola, Jesse Gilmour ouve uma proposta bastante tentadora do pai, na qual ele poderia deixar de ir à escola, desde que os dois assistissem juntos a três filmes por semana. Estabelecido tal acordo, o garoto, aos 15 anos, não precisaria pagar aluguel e poderia fazer o que mais quisesse, desde que respeitasse algumas poucas regras.
À primeira vista, pode parecer apenas um relato comum sobre um pai e um filho e a relação existente entre eles, mas o livro muito bem além disso. Não somente é uma amostra cinematográfica como narra com extrema eficiência os problemas pelos quais passam um adulto que não consegue emprego e um adolescente com problemas sentimentais. Logo no primeiro capítulo do livro somos apresentados à objetiva proposta do pai, que rapidamente é aceita por Jesse; nas primeiras páginas já é exibido o primeiro filme, aquele que daria início à jornada de três anos sentados em frente à TV, acomodados em poltronas e no sofá, assistindo aos melhores e, eventualmente, piores filmes já realizados. Para os que tem um bom conhecimento cinematográfico e que tem um pouco de noção sobre o contexto de cada filme, sabendo o que representam (considerando a época em que foram concebidos), já se surpreendem com o segundo filme ao qual David e Jesse assistem: Instinto Selvagem. E o livro todo é assim, uma agradável surpresa.
Em meio às sessões de filmes, há também o problema financeiro de David, devido à crise de desemprego, que não é sanada por boa parte do livro; Jesse, extremamente propenso aos relacionamentos aos quais se entrega densamente, sofre com as diversas experiências românticas, como o namoro com uma garota que consegue seduzir a qualquer um e que ainda o provoca perigosamente. Como se isso tudo não fosse suficiente, há ainda relatos de conversas profundas entre pai e filho, com descrições de certos assuntos e também narrativas a respeito dos problemas que às vezes Jesse criava. Como são narrados três anos, então são muitas as situações narradas nesse livro, como o envolvimento de Jesse com drogas, novas namoradas, a sua inclusão no mundo musical, etc. Mas acredito que haja predomínio dos filmes. São tão bem retratadas algumas cenas de alguns filmes, que se percebe a excelência da arte de assistir a um filme; as descrições feita são às vezes tão detalhadas que pode influenciar aqueles que (ainda) não assistiram às obras citadas, tamanha a precisão que David usa para defini-las. Acho que, sobretudo, esse é um livro dedicado à crítica de filmes, e, se classificado assim, resulta numa obra quase irrepreensível.
É claro que esse está longe de ser um livro perfeito; ainda que eu goste de relatos de casos reais como esse (porém não como Marley e Eu), ainda mais se somados a outro tópico que também gosto (cinema), não os vejo com a mesma intensidade com a qual vejo os romances. E, em alguns momentos do livro, há passagens meio chatas, que parecem perdidas ali e que poderiam ter sido omitidas; isso, no entanto, não transforma esse livro em algo mediano; tais “erros” não interferem tanto, então o livro, na minha opinião, é muito satisfatório e deve ser lido. Insisto que os melhores momentos são os extremamente descritivos, nos quais David analisa com ênfase as cenas mais impactantes de alguns filmes, acrescentando inclusive diálogos do filme ao livro, como o que vemos logo no início, entre Catherine Trammel (Sharon Stone) e o detetive de Basic Instinct. Não é surpresa imaginar que partes boas como essas haveriam por todo o livro, ainda mais se considerarmos que David exercia a profissão de crítico de cinema para um jornal de grande circulação. O Clube do Filme é agradavelmente surpreendente porque é um misto de documentário sobre cinema, com a inclusão de notas a respeito de algumas obras e suas traduções e uma filmografia no final, com relatos da vida dos personagens reais David, Jesse, Tina, Maggie, etc. Certamente vale a pena lê-lo.
Luís
4 opiniões:
Como já te disse, achei que foge muito da proposta que o título apresenta, mas gostei sim. isso, porque estava mais interessado na parte sobre cinema.
Tem uma lista bem interessante, e ainda pretendo reler e ver alguns dos filmes citados. Apesar do que disse no começo, terminei de ler muito rápido, isso é um bom sinal.
Tá aqui na minha estante, faz parte da coleção já.
Abraço!
eu simplesmente detestei esse livro porque achei que fosse falar muito mais de cinema mais não fala nem de cinema nem da vida do crítico e do filho que desistiu
só gostei dos filmes do final porque to vendo todos e gostando
Achei muito interessante a proposta do seu blog... e gostaria de saber se nao estaria interessado em fazer uma troca de links ou banners..
aguardo resposta...
sou editor do www.cinemaepipoca.blogspot.com
Comprei esse livro por culpa sua de do Thiago. Já te falei o que achei dele. Esperava mais. Não falo isso me referindo especialmente à parte que trata dos filmes; falo do livro como um todo. Achei a narrativa pobre, rasa e a história sem grande atrativo. Mas uma coisa dele vale muito a pena: a listinha que traz, no fim, dos filmes por eles asssitidos. Fundamental pra todo cinéfilo!
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