The Human Centipede. Holanda, 2010, 92 minutos. Thriller.
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“Eu não gosto de seres humanos”. – Dr. Heiter.
Esses dias, o Ewerton, um colega meu – dono do blog A Cereja do Bolo –, comentou comigo sobre um filme chamado The Human Centipede e me mandou um link para que eu visse o trailer. Como estou acostumado com as mais diversas (e, às vezes, absurdas) idéias para filmes de horror, não me surpreendi ao ver aquilo: um médico-cirurgião renomado, especialista em separação de gêmeos siameses, tem o sonho de criar trigêmeos siameses. Como nunca viu isso, ele mesmo desejar criá-los e a parte em comum entre eles será o trato digestivo. Com essa intenção, ela seqüestra três pessoas e as opera, conectando a boca de uma ao ânus da outra, de como que se assemelhem a uma centopeia.
Devo dizer que eu realmente achei fantástica a intenção do filme. Confesso que nunca pensei naquilo que o médico pensou. A simples imaginação de como ficariam as pessoas depois da cirurgia me deixou meio nauseado, principalmente quando pensei na conseqüência de conectá-las do modo como o cirurgião desejava: o que a pessoa A comesse seria transferido para a pessoa B e tudo sairia pela pessoa C. Parece bem escatológica a situação – e ela de fato é –, mas em nenhum momento o filme aborda essa ocorrência de modo medíocre ou sujo. Esse é um ponto positivo, em minha opinião. Creio que a máxima qualidade do filme seja a indignação causada no espectador. Eu me senti indignado com a situação a que os três turistas foram submetidos. Não me refiro ao fato de terem sido seqüestrados, mas à condição desmoralizante em que foram postos. Os três tornaram-se um animal – um bicho quase bestial, exótico e não nomeado pela biologia. Os três se tornaram uma criatura fora do convencional e o pior é que são três células colocadas juntas e isso faz com quem elas não tenham independência, porque definitivamente não pensam como um único ser. Devido, porém, à condição crítica na qual se encontram, são obrigados a conviver juntos.
Se a idéia me pareceu legal, o roteiro me pareceu bem estranho e mal desenvolvido. O começo do filme, no qual somos apresentados à estranha figura do Dr. Heiter e às turistas americanas que servirão como partes da centopéia, é totalmente clichê e improvável. O médico, na cena inicial, que acontece na beira da rodovia, seqüestra um homem. O modo como Tom Six escreveu esse trecho do roteiro é totalmente inverossímil, principalmente pela improbabilidade da concretização daquele seqüestro. Embora o rapto de Lindsay e Jenny seja mais aceitável, a introdução dessas personagens é absurdamente clichê. As jovens bobas, que estão num país alheios sem saber falar a língua oficial, se perdem numa área de florestas e acabam chegando à casa do médico que as costurará. Ridículo, é o que eu tenho para dizer. De certo modo, nada se desenvolve no roteiro – não sabemos nada sobre nenhum personagem e as cenas basicamente estão ali para que saibamos que os personagens estão tristemente ferrados. No caso de Lindsay e Jenny, elas estão comendo merda literalmente. A única verossimilhança do roteiro diz respeito ao modo como a polícia começou a desconfiar de Dr. Heiter: o médico simplesmente não se ocupou em esconder os carros dos turistas que estavam próximos à sua propriedade.
Quando à direção, não sei bem o que dizer. A Centopeia Humana tem uma estrutura bastante simplória, sem muitos elementos que poderia implicar dificuldades para o diretor Tom Six. Acho também que o diretor optou por ângulos e planos não muito interessantes e mostrou algumas coisas bem estranhas e inexplicáveis – se ele tivesse bom senso, decerto perceberia que a centopéia não conseguiria descer da mesa em que estava sendo analisada do modo como foi mostrado. Aliás, não foi mostrado; e isso dá maior credibilidade à minha desconfiança de que era impossível aquele acontecimento. As atuações não têm muito destaque: as intérpretes de Lindsay e Jenny são bem fracas e o caráter dramático de suas interpretações é realmente paupérrimo. O único grande destaque no filme é Dieter Laser, intérprete de Dr. Heiter. O ator me assustou com a sua maluquice e o seu comportamento complexo de querer ser Deus. Os seus olhares, os seus modos de se comportar e, sobretudo, o modo como ele age em relação aos outros: nem mesmo os seus cachorros – que ele considera “queridos” – sobreviveram à loucura de sua mente. Laser conseguiu reproduzir muito bem esse aspecto do personagem. E ele é realmente assustador, talvez tanto quanto o próprio personagem.
A Centopeia Humana é um filme esquecível, devo admitir. Não tem nada nele que me provocou uma reação de potencial lembrança. Assisti a esse filme há sete dias e nem sequer me lembro de algumas passagens. O único momento de real tensão é o momento final, quando o filme termina num momento extremamente pessimista e dramático – como seres individuais ou como gêmeos, a morte parecia inevitável. Penso que a finalidade do filme era nos causa certa aflição e confesso que há uma cena capaz disso: a simples imaginação de que os três personagens vão se “descosturar” um do outro me causou uma sensação de dor. Isso aconteceu em uma cena apenas...
Legião do Mal
Há 19 horas
2 opiniões:
Muito bacana e completa a análise!
Valeu mesmo.
Achei sensacional a análise sobre o filme 'louco'. Particularmente, eu gostei bastante do filme mas não do filme em si (atuação, enredo, cenas e etc...) mas sim, de sua intenção. A idéia de poder passar para o espectador. Uma pena, realmente, que foi pouquíssimo desenvolvido. =/
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