2 de mar. de 2010

Chocolate




Chocolat. EUA, 2000, 121 minutos. Drama.


Indicado a 5 Academy Awards nas categorias Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Trilha Sonora.


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Há algum tempo desejava assistir a esse filme, mas somente há pouco pude conferi-lo. Eu realmente desconhecia boa parte do enredo; de tudo que eu ouvia, a única ideia que formava era aquela em que esse filme se encaixa na categoria comédia e que aborda o romance de maneira suave. Obviamente, meu pensamento préconcebido pouco tinha a ver com a realidade: Chocolate é um drama que fala sobre a chegada de Vianne e sua filha Anouk a uma pequena cidade onde a moral e os bons costumes são plenamente exigidos. Ao abrir sua chocolateria em plena quaresma e também por ser mãe solteira e não frequentar a missa, o prefeiro começa a incentivar a população a rejeitá-la. À sua maneira, Vianne tenta contornar a situação, muitas vezes tendo que bater de frente com o prefeito e algumas pessoas.


Desde o começo gostei do filme. A chegada de Vianne já distoa da cidade: seu casaco de um vermelho extremamente vivo contrasta com o tom cinzento dos ambientes e a sua independência afeta alguns moradores - talvez por sentirem inveja dela. A hostilidade já é mostrada logo no começo, quando Armande, a proprietária do salão que Vianne aluga para montar sua loja, a recebe com bastante indiferença e ao se deparar com o resultado final do trabalho de Vianne, de sua boca sai uma crítica muito forte. Acho que um dos acertos do filme é não transformar Vianne numa completa rejeitada, pois teríamos uma clara impressão de irrealidade. Embora não se dê bem com todos, consegue encontrar alguém que lhe dedique confiança e não faça oposição à sua chocolateria. O acerto do filme é opor a personagem principal do resto da população: vista com maus olhos pelos seus atos, que são considerados extravagantes, nós acabamos simpatizando com ela pela ar de novidade que traz e pelo seu jeito prático de enxergar as coisas. Sua relação com Josephine Muscat é a princípio estranha, mas depois vemos como elas se dão muito bem e acabamos chegando à conclusão de que somente por essa amizade já valeu a estadia de Vianne na cidade. O roteiro se vale de uma capacidade extrema na arte de nos contar uma história: vemos muitos relacionamentos implícitos, como os problemas entre Christine e sua mãe, Armande; a implicância que o prefeito tem, provavelmente resultante do abandono que sofreu, já que a esposa nunca mais voltou; etc. Gostei muito da maneira como muitos personagens têm importância para a trama, que não se foca única e exclusivamente em Vianne e sua filha.


Eu acreditava que Juliette Binoche se apresentasse de maneira mais insossa, como as típicas mocinhas dos filmes de romance. Mas a sua apresentação é bonita, bastante densa, totalmente diferente daquilo que imaginei. Vianne é uma personagem forte, de atitude. A interpretação de Binoche, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, é tão boa quanto a de Julia Roberts, que venceu aquela edição. Binoche provou que - se me permitem o trocadilho - não somente Erin Brokovich é uma mulher de talento. Em cena, está perfeita e inquestionável, mas insisto que a candidata que realmente merecia o prêmio da categoria era Ellen Burstyn, por Réquiem para um Sonho. Lena Olin, intérprete de Josephine, está igualmente correta e já nas cenas iniciais ela se mostra confiante e muito capaz de transmitir aquilo que sua personagem sente; uma pena que o roteiro tornou-a mais dócil, mais domada. Mas penso que tenha sido a atitude certa a tomar, pois senão não nos simpatizaríamos tão facilmente com a relação entre ela e a protagonista. Johnny Depp está muito bem. Seu personagem é bem pequeno e tem pouquíssimo destaque na obra, mas ainda assim, talentoso como é, o ator mostra seu charme e competência e faz com que gostemos do sutil envolvimento amoroso entre Roux e Vianne. Os atores, Binoche e Depp, estão muito à vontade: o romance está nos olhares, nos pequenos gestos; não há nada explícito, o que nos faz apreciar ainda mais o romance, que chega a ser poético. Agora falarei sobre aquela que mais me impressionou: Judi Dench. Eu realmente nunca achei que ela pareça ser simpática - seus personagens quase sempre frios e altivos fazem com que eu não simpatize com o atrz. No entanto, em Chocolate, gostei bastante de Armande, uma senhora que tem sérios problemas com a filha, que a impediu de ver o neto. A princípio rude e desconfiada, Armande torna-se gentil e risonha, mostrando certa beleza e alegria numa velhice desamparada. É realmente bonito ver Luc, seu neto, e Armande se entrosando. Sua indicação é totalmente justificável; logo em suas primeiras falas percebemos o porquê de a Academia considerá-la adequada para uma vaga nas indicações. Carrie-Ann Moss, que todos conhecem por ter interpretado a Trinity, se mostra eficiente em um pequeno papel, o de filha de Armande. Na minha opinião, ela é uma atriz realmente muito boa, mas que quase sempre é pouco aproveitada - e isso se aplica a esse filme. Tão espontânea em suas cenas, é uma pena não vê-la mais. Alfred Molina não se destaca tanto quanto qualquer um dos outros atores, mas realiza uma atuação boa, não deixa a desejar.




Chocolate mistura eficientemente humor, drama, romance - e com se não bastasse, ainda nos deixa com água na boca! Definitivamente é um filme que nos envolve e entretém, nos fazer gostar de cada momento e cada cena é realmente interessante. Me conforta saber que filmes aparentemente pequenos como esse possam nos trazer aquela simpatia que não encontramos em muitas obras grandes, que enchem as salas dos cinemas. Na minha opinião, Chocolate é um dos filmes mais charmosos a que já assisti e que merece ser conferido.




Luís

6 opiniões:

Cristiano Contreiras disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Roberto Simões disse...

Simpática adaptação do livro de Joanne Harris. Competente na fotografia, nos cenários, na decoração, na banda sonora, nas interpretações. Destacam-se a grande Judi Dench e a surpreendente Lena Olin. De resto, dizia, o nível do filme é o competente e dele não passa: não arrisca, satisfaz e dá vontade (por vezes muita, admito) de comer chocolate. Porém, pelo menos os chocolates têm uma vantagem garantida: alimentam-nos o espírito.

3/5 Razoável

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema

Marcelo A. disse...

Concordo contigo, Luís! Alguns dos melhores filmes que vi, eram obras aparentemente simples. Chocolate é um grande exemplo disso! Primeiro: o Depp, um dos meus atores preferidos. Segundo: a história, bem comunzinha, mas deliciosa, daquelas que gente embarca e não vê o tempo passar.

Binoche está mesmo ótima, mas não tem jeito... Esse ano era da Ellen e ninguém tinha que tascar dela! A Judi também me passa essa sensação, mas é inegável o o seu grande talento...

Enfim, faz muito tempo que vi Chocolate e também há muito que não o revejo. Aproveitando que tenho alguns filmes pra ver, vou passar na locadora aqui em baixo e alugá-lo também.

Abração, meu velho!

Cristiano Contreiras disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Matheus Pannebecker disse...

Não acho um grande filme, mas tem seus atrativos, assim como toda a filmografia do Lasse Hallström.

Luiza disse...

Adoro este filme!É um dos meu preferidos!
Tem uma história encantadora,chocolate e o Deepp!hueuaehh
É muito lindo,leve e é adorável assisti-lo!