2 de jun. de 2010

Verônica

Brasil, 2009, 92 minutos. Drama.
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Eu realmente não sei se o fato é uma ascenção do cinema nacional ou se a minha perspectiva em relação a ele mudou, pois tenho descoberto obras interessantes criadas aqui no Brasil. Creio que seja um misto dos dois fatores acima, mas o fato é que eu realmente gostei do filme Verônica, que soube muito bem como retratar algumas situações vividas numa região onde o tráfico impera imponente. O filme nunca tinha me chamado atenção; um dia, no cursinho, exibiram-no para servir como coletânea para redação e - felizmente - acabei descobrindo uma obra interessante, que vale a pena ser vista.

Verônica é uma professora do primeiro ciclo do ensino fundamental completamente desiludida com sua profissão. Um dia, após a aula terminar, os pais de um aluno não vem buscá-lo e Verônica decide levá-lo até a casa dele. Quando chega lá, descobre que os pais do garoto foram assassinados pelos traficantes do local e, sem saber o que fazer, acaba levando o garoto até sua casa. Logo, descobre que o menino também é alvo dos assassinos, porque carrega consigo uma prova muito importante, que incrimina mais pessoas do que apenas os traficantes da favela.

A princípio, pensei que Verônica seria uma obra como Cazuza: muito novelística, dividida como se fosse em capítulos, se interrompendo no auge da cena. Então, constatei que bem diferente da dramaturgia, Verônica é realmente construído sob os moldes cinematográficos. O ritmo do filme ajuda muito a gostarmos dele, porque se fosse mais lento certamente teríamos dificuldades em assimilar o que é mostrado com o dinamismo do tráfico que, como sabemos, age muito rápido e, por isso mesmo, espalha o medo nas regiões. O roteiro do filme é grande porque soube aproveitar bem os diversos aspectos presentes no cotidiano para fazer uma bela crítica ao governo: os professores da rede pública se sentem desencorajados a dar aula por causa do péssimo salário que recebem, o tráfico domina de tal forma as favelas que são os traficantes os donos da razão, a polícia é tão corruptível - também por causa de seu salário - que acaba entrando nos acordos e se afiliando ao comércio de drogas. Muito bem abordados esses quesitos, o filme me conquistou exatamente por mostrar tudo isso sem ser pedante, como outros filmes brasileiros cujo intuito é "mostrar a realidade", mas que acabam virando um show de horrores com bordões infames e desnecessários. Se eu fosse analisar a fundo tudo o que o filme mostra, eu escreveria aqui não uma resenha, mas criaria uma tese questionando as circunstâncias político-sociais desfavoráveis que envolvem o Brasil. Como não é isso que quero, melhor não me aprofundar mais.

Andréa Beltrão, conhecida como a Marilda, de A Grande Família, está realmente muito boa nesse filme. Em nenhum momento desconfiamos da veracidade das situações pelas quais sua personagem passa e, ao aparecer como professora, a atriz conseguiu mostra com muita perfeição aquilo que certos professores são em sala de aula: meros enfeites que não atraem os alunos, que, por sua vez, atém-se às brincadeiras e perturbam o andamento da matéria. Desta vez, uma crítica ao ensino! Marco Ricca já tem uma expressão meio dúbia e colocá-lo no papel do marido de Verônica foi mais um ponto certo, contribuindo ainda mais para o tom de "baseado na realidade". O fato de ela se ver diante de um homem que é seu ex-marido - o que nos faz pressupor que ela o conheça bem - e não conseguir afirmar se ele é o bandido ou o vilão nos apresenta mais uma crítica: as pessoas nunca se conhecem bem o suficiente. A junção dos dois atores resulta em bons momentos de ação e de compaixão. Matheus de Sá, o ator-mirim intérprete de Leandro, consegue nos convencer em alguns momentos e também não nos convence em muitos outros, mas o talento dos atores com quem ele contracena acaba nos distraindo desse pequeno empecilho.

Existe um único problema no filme: o final. Acho que em filmes como esse, cuja intenção é mostrar o desenvolvimento de um grande problema - que no caso do tráfico não somente é grande, como praticamente irremediável -, não pode se abster de não nos apresentar um final. Queremos saber como a história termina e que fim levaram os personagens. Não vou me prolongar contando nada, porque vocês devem ver o filme pra conferir, mas, de certa forma, Verônica se assemelha ao filme Terra Estrangeira, dirigido por Walter Salles e Daniela Tomás, com Alexandre Borges e Fernanda Torres. O meu argumento principal é que um filme que lida com a objetividade não pode simplesmente apresentar uma conclusão subjetiva, dando a entender que. Tem que mostrar, tem que explicar e, nesse quesito, Verônica falha.

Por fim, eu afirmo que gostei bastante do filme e eu o recomendo a quem gosta de cinema nacional e também àqueles que não gostam, porque é uma obra muito interessante, numa clara amostra de que o cinema brasileiro está evoluindo - o que já vem acontecendo a algum tempo e o que eu espero que continue a acontecer. Embora tenha o problema que apresentei no parágrafo anterior, sua qualidade é inquestionavelmente boa e conta com ótimo roteiro, ótimo elenco e seu resultado final é muito positivo.

Luís

1 opiniões:

Cristiano Contreiras disse...

Infelizmente, ainda, não pude conferir - mas, em breve. Já li boas opiniões sobre ele e vi o trailer.

Seu bom texto favorece ainda mais.

Abraço