12 de jan. de 2010

Original e Remake: Sexta-Feira 13

Advertência: esse artigo possui muitas revelações sobre o enredo do filme.
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Acredito que todos saibam quem é a maravilhosa figura que ilustra a primeira foto do post de hoje. O personagem Jason Voorhees ganhou vida em 1980, quando o primeiro filme da série Sexta-Feira 13 foi lançado. Sabemos que o que motiva inúmeras continuações não é a qualidade, mas sim o lucro que o filme rende. Assim, como teve uma boa bilheteria, o que poderia ser apenas um filme tornou-se uma série que até hoje rendeu absurdas 9 continuações, um spin-off e um remake, totalizando - por enquanto - 12 filmes nos quais Jason aparece.

Com esse post, tenho a intenção de apresentar semelhanças e diferenças entre os dois primeiros filmes da série. Como assim os dois primeiros filmes?! Discorrerei sobre os filmes lançados nos anos de 1980 e 2009, sendo que o primeiro marca a primeira ordem cronológica da série e o outro marca o início da série reconstruída. Para que fique organizado o que quero apresentar, dividirei a análise em itens. Dessa maneira, falarei especificamente sobre os personagens, as situações que os envolve, o desenvolvimento do roteiro, o elenco e, no final, apresentarei minha opinião acerca de qual obra é melhor: a original ou a refeita. Recomendo que aqueles que não viram os dois filmes e que não quiserem saber spoilers não continuem, pois revelarei bastante sobre algumas cenas.

PERSONAGENS:
Original - um grupo de jovens que foi contratado para trabalhar no acampamento Lago Cristal e antes que a temporada de férias se inicie, eles têm que trabalhar no acampamento a fim de deixá-lo apropriado para quando as crianças chegarem. Os jovens são bem diferentes uns dos outros, mas, de um modo geral, não merecem morrer.
Remake - um grupo de jovens vai passar um final de semana na casa de veraneio de um sujeito realmente chato, que só quer chamar a atenção para si. Por querer se aventurar na área do acampamento Lago Cristal, acabam atraindo o paranormal Jason. São fisicamente diferentes: há um japonês, duas loiras, um fortão, um negro - são todos diferentes para mostrar que pessoas de quaisquer etnias têm espaço em filme de terror. E são todos bastante chatos, de forma que matá-los é melhorar a sociedade.

SITUAÇÕES:
Original - os personagens realmente têm que estar no acampamento, uma vez que estão ali a trabalho. Como estão ocupados em consertar o lugar que já havia sido destruído antes, é crível pensar que não haja linhas telefônicas e que por isso eles estejam tão incomunicáveis. Eles não têm conhecimento de que estão sendo mortos um a um, de forma que não vêem por que temer fazer certas coisas que nós sabemos que não devem ser feitas, como caminhar no meio do mato à noite, ir ao banheiro desacompanhado, etc. Os corpos não vão se amontoado, assim os personagens restantes pensam apenas que os outros estão por aí e que não há com o que se preocupar. Vale ainda ressaltar que energia elétrica não se consegue fácil na situação em que eles se encontram: tudo no acampamento está em preparo e eles recorrem a um gerador, que facilmente pode ser desligado, obrigando-os a experimentar aquela escuridão. 
Remake - as únicas coisas com as quais os personagens têm de lidar é com o eletricista-ferramenteiro-ultraferoz-boxeador-encantado Jason e com a sua própria idiotice. Nada no filme justifica as atitudes das personagens - sejam os "mocinhos", seja o vilão. Na cena da imagem ao lado, por exemplo, Jason mata duas pessoas porque elas simplesmente foram nadar no lago Cristal. Os jovens estão numa casa bastante chique - fora das propriedades do Lago Cristal e do acampamento - e ainda assim extremamente vulneráveis ao Jason, porque ele parece conhecer cada cômodo da casa, inclusive onde estão os disjuntores, onde há os melhores esconderijos, etc. Os personagens correm pra lá e pra cá no escuro, falam idiotices, brincam de maneira idiota - um chega ao cúmulo de querer se masturbar na sala da casa do outro enquanto um amigo foi num galpão buscar uma ferramente. Nesse filme, o Jason é realmente a principal situação-problema dos rapazes, uma vez que ele se teleporta de um lugar para outro, consegue ler mentes e tem visão de raios-x. Bem, se isso não é verdade, pelo menos é o que parece...

DESENVOLVIMENTO DO ROTEIRO E ASPECTOS TÉCNICOS:
Original - basicamente, os personagens estão ali para morrer. Não há grande desenvolvimento, não conhecemos seus passados. Tudo o que sabemos é que foram contratados para trabalhar ali durante a temporada em que estaria aberto o acampamento. Há certa tentativa de humanizá-los, tornando-os mais maduros e críveis. Conforme a matança evolui, somando corpos, o roteiro conduz uma única personagem à situação de calamidade máxima: como está sozinha, se morrer acaba tudo. No final, há a revelação de que o assassino é alcançável e humano, que pode ser destruído. O efeito de maquiagem nesse filme é muito bom, com direito a um Jason desfigurado saindo da água e uma linda machadada no rosto, destruindo-o. O uso justificável da escuridão acrescenta certo clima ao filme, que se desenvolve satisfatoriamente.
Remake - uma série de bobagens, uma atrás da outra. Personagens que fazem idiotices e história centrada basicamente em mortes on-screen, que são bem chatinhas. Desde o começo do filme já são apresentados o mocinho e a mocinha, ficando evidente que não importa o que aconteça eles não vão morrer até que todos os outros do elenco já tenham morrido. E é exatamente o que acontece. Alguns efeitos especiais ruins acrescentam ruindade ao filme: logo no começo do filme, a mãe de Jason é decapitada, numa cena bem porquinha; um facão imenso atravessa o tronco de uma personagem e nós percebemos claramente o quão tosco foi o efeito. O computador substituiu a boa maquiagem manual e o resultado é ruim.

CENAS MARCANTES:
Original - praticamente todas as mortes on-screen do filme são interessantes, porque o trabalho de maquiagem realizado por Tom Savini é mesmo admirável. O auge do enredo é o momento em que descobrimos que o assassino não é Jason, que nem sequer teve o corpo encontrado, mas sim a sua mãe, que deseja impedir de qualquer maneira que o acampamento seja reaberto. O ápice, no entanto, se encontra próximo ao final do filme, quando Alice, a única sobrevivente, decapita a senhora Voorhees e depois, ao dormir num barco no meio do lago Cristal, é atacado por Jason, totalmente desfigurado. Quando percebemos que se trata, na verdade, de um sonho, a última frase da personagem causa certo assombro: "Então ele pode estar vivo...".
Remake - difícil dizer quais cenas sejam marcantes, uma vez que o filme é todo sem clima. Para os pornógrafos, há uma cena de sexo com ângulos legais e peitos à mostra por um bom tempo. Os que se deixam levar pelas obviedades dos filmes podem se surpreender com a cena em que a personagem que achávamos que ia permanecer viva morre com um negócio espetado no peito. Aqueles que esperam ver a senhora Voorhees perdendo literalmente a cabeça vão se decepcionar - a cena em questão é uma das primeiras e não tem clima legal, porque é descontextualizada. Talvez o melhor momento seja aquele em que Jason encontra a tão famosa máscara de hóquei e toma-a para si.

Depois de analisados separadamente, posso afirmar com segurança que os prós em relação ao filme original são bastantes. Os contras em relação à obra refeita também são bastantes. Desse modo, não me resta dúvida ao assumir que a obra original, de 1980, dirigida por Sean Cunnigham, é bem mais interessante e válida do que o remake produzido em 2009 que conta com o pop Jared Padalecki, do seriado Supernatural. Vale ainda ressaltar que os filmes não retratam o mesmo período de tempo, sendo que o primeiro mostra primordialmente eventos entre os primeiros assassinatos e a descoberta de que o assassino não é Jason; já o segundo filme, de 2009, mostra com prioridade os acontecimentos após a morte da mãe de Jason, fazendo com que seja ele mesmo o assassino principal do filme. Ainda que o filme de 1980 não seja nenhuma obra-prima do terror, é absurdamente melhor do que a sua versão mais moderna. O que acho realmente engraçado é que o remake não pode ser considerada uma obra boa - isto é, se estivermos analisando qualidades e acertos - e ainda assim eles pretendem dar continuidade à saga de Jason lançando uma continuação. Se refazer obras antigas já não é boa ideia, o que dizer de transformar em franquia um remake ruim?!

Luís

12 opiniões:

JB disse...

Excelente análise aos dois filmes. Confesso que a saga "Friday the 13th" é um dos meus guilty pleasures. Podem ser todos iguais, mas tenho-os todos em casa e gosto de os ver!
Claro que o original de 1980 é inultrapassável. Talvez o segundo esteja próximo por contar pela primeira vez com Jason como o serial killer.
O remake é a todos os níveis fraquinho! Se o queriam fazer, poderiam ter feito algo na onda do remake de Halloween, e dar um pouco mais da história de Jason, como fizeram com Michael Myers!

abraço

O Cara da Locadora disse...

Cara, EXCELENTE post, morri de rir e concordei com tudo... Acho que hoje em dia devem deixar apenas pro Rob Zombie o papel de fazer remakes ou não deixar ninguém fazer, rs...

Abraços...

Marcelo A. disse...

Gostei da sua ideia, Luís! Muito bem sacada. Apesar de não ter visto o remake, li o texto inteiro, pois não pretendo assistir essa bobagem.

Então quer dizer que o politicamente correto já chegou nos filmes de terror? Há cotas agora para etnias, religiões e orientação sexual, é isso?

E que história é essa do rapaz querendo "tocar uma" , enquanto devia estar preocupado em salvar sua pele? Que é isso? Sexta-Feira 13 ou American Pie?!

Puxa, então quer dizer que a senhora Voorhees perde a cabeça logo no início? Pena. Pra mim era a melhor parte do filme. Porque mudar uma das únicas partes que realmente prestava?!

Concordo contigo. Refazer obras antigas não é lá um bom negócio, refilmá-las então, pode ser um crime.

Mais um pra lista dos que não verei. Obrigado! Hehehehhe!

Abração!

Jean Douglas disse...

Eu pessoalmente não tenho nada contra remakes, mas confesso que tem alguns que são péssimos! Este "Sexta-Feira 13" não é uma exceção.

Assisti o original há anos atrás e mal me lembrava de certos aspectos do mesmo, e foi ano passado que pude revê-lo. Tentei assistí-lo com os olhos da época, já que os efeitos especiais e maquiagens - por exemplo - ficam visíveis. E mesmo sendo visível, isso tornou a película mais interessante! Porque fazer efeitos em pleno anos 80 naquela qualidade, é sensacional.

O elenco jovem do original, apesar de suas brincadeiras tolas, são ainda mais maduros do que os do remake e até as mortes são bem mais elaboradas. E a mãe de Jason ser a assassina ... Nossa! cativante.

É indiscutível ... o original é muito, mas muito melhor do que o "remake".

Forte abraço!!

Rodrigo Mendes disse...

LUIZ,

primeiramente adoro, me divirto e sou até fanático por filmes de Terror. Tenho pratricamente a metade dos filmes da série Sexta- Feira 13 - do 1 ao 6!

Concordo com a sua análise. O remake foi muito decepcionante, mas concorda comigo que se a idéia fosse lançada pela primeira vez em 2009 seria a mesma droga!

Visto isso, a excelente e já experiente atriz Betsy Palmer ( a mamãe do Jason) quando leu o roteiro do Victor Miller ela disse: "Mas que merda"!

Mas foi necessário lançar a idéia e futura franquia nos anos 80 para dar certo.

Admito todas as idiotices que os filmes de terror - slacher tem que ter, e olha o original também tem viu! Mas isso nao justifica este péssimo remake. Não há graça nas mortes e situações, bem voce as descreveu perfeitamente.

Discordo do 'Cara da locadora' nem Rob Zombie faz direito e como ninguém em Hollywood tem talento é melhor deixar quieto. Deve-se refazer os filmes ruins e não os bons e fazer roteiros engavetados, na geladeira...novas idéias tbm não mata ninguém!

Mas, são raros os filmes de Terror modernos realmente bons (ex. ótimos que deram certo: ' A Bruxa de Blair', 'Pânico') e alguns suspenses de dar calafrios: ' Sexto Sentido' ou ' Os Outros'.

Jason Voorhes é a figura do século, ele é divertido, está se esguerando por aí e não vai morrer!

Abs!

SexyMachine disse...

Único filme de terror que gosto... Mas só gosto dos antigos, esses novos do Jason, são uma merda...

Leonardo Marques disse...

Remakes me dão medo. É aquela velha história, em time que se está ganhando não se mexe. Eles não fizeram um remake, criaram práticamente uma nova história. Outra coisa que virou moda nos filmes de Terror é cenas de sexo. Podê ser qualquer um mais sempre têm.

Matheus Galvão disse...

Ainda não assisti esse remake, but eu acredito que seja como vc diz, pois geralmente remakes de filmes clássicos são uma verdadeira encheção de linguiça, pois já se está cansado da história. São poucos os que conseguem algo realmente bom...

arash gitzcam disse...

Esse é o tipo de filme q jamais caberia fazer um remakle, n sei o q essas pessoas tem na cabeça, fazer um remake de um clássico. asuhhas...

ana disse...

olha, eu li ai em cima que alguem disse que em time ganhador nao se mexe e eu concordo totalmente
Sexta-feira 13 nao é um filme maravilhoso, na minha opiniao é uma copia de Halloween, que é muito superior, mas mesmo assim sexta-feira 13 de 1980 é muito, mas muito mesmo melhor do que esse lixo de remake que criaram

tenho que falar que eu achei certo o que voce disse no ultimo paragrafo, porque isso nao é mesmo um remake, ja que remakes contam historias iguais a de outros filmes.. e esse nao é assim.

eu tenho um fraco por esses filmes assim, ruinzinhos mas que sao divertidas. Ja vi quase todos dessa serie e to afim de ver os outros, mesmo que for só pra rir.. acredita que ainda nao vi Freddy e Jason?
a unica coisa boa do remake é o jared de sobrenatural. Eu odeio ator tosco, e ele é tosco, mas é bonitinho, e isso que importa

eu to sumida, mas vou voltar a comentar aqui..nao vi o bruno por aqui..pra aproveitar, quero pedir um filme pra voces.. chama gaslight, não sei o nome em portugues, mas mesmo sendo velho nem da pra notar isso de tao bom que é...
comentem uns livros da jane Austen também, eu gosto muito dela..

Anônimo disse...

nossa, que belo post. você provou por a + b que a diferença de qualidade entre os dois filmes é imensa, principalmente no quesito roteiro.

abraços!

Luís disse...

JOÃO, concordo com você. Mesmo que haja poucas mudanças, eu me entretenho vendo as escrotices do Jason. Ainda não vi o novo filme da série Halloween.

CARA DA LOCADORA, se você riu, então consegui mostrar humor na dose certa... Sobre o filme de Rob Zombie, eu ainda não vi. Pretendo vê-lo logo e talvez repita com a série Halloween o que fiz com Sexta-Feira 13.

MARCELO, exatamente: o sistema de cotas já chegou nos filmes de terror. A cena em que o cara vai querer "tocar uma" é realmente medíocre. Acho que antes de morrer, deveriam ter arracado o pau dele. Não sei por que mudaram também, só sei que ficou ruim.

JEAN, mesmo que os efeitos especiais não sejam assim tão bons, acho que o que era realmente necessário foi mostrado: excelente maquiagem. Isso compensa a ausência de efeitos. Já no novo, nada salva. Estamos de acordo, então.

RODRIGO, também curto bastante filmes de terror. Sobre a ideia, não acho que nem uma nem outra sejam boas, mas a do remake é um lixo! Eu gosto mesmo de mortes exageradas, mas a do novo filme não têm graça! Sobre o filme do Zombie, ainda não vi... E eu detestei A Bruxa de Blair.

CARLOS, eu também acho que os melhores filmes são os antigos.

LEONARDO, concordo totalmente: se uma obra original é legal, deixe-a ser legal, mesmo que seja antiga. As cenas de sexo só servem para que nós saibamos quem vai morrer...

MB GAVIÃO, se ainda não viu, recomendo que não veja mesmo. É tão ruim que nem encher linguiça consegue.

ARASH, não acho que Sexta-Feira 13 seja um clássico do terror, mas certamente é uma série cult.

ANA, você não é a primeira que ouço dizendo que Sexta-Feira 13 é uma cópia de Halloween. Faz tanto tempo que vi o segundo que já nem me lembro mais. Eu também curto filmes ruinzinhos que são divertidos. Freddy x Jason é legalzinho. Curte Jared Padalecki? Recomendo outro filminho teen de suspense, chamado Cry Wolf. Esperamos que volte mesmo a comentar e saiba que anotamos a sua sugestão.

INTRATECAL, obrigado pelo elogio. O roteiro é realmente absurdo... tinha que criticá-lo.

Luís