Sunset Boulevard. EUA, 1951, 110 minutos. Drama.
Vencedor de 3 Oscar e indicado a outras 8 categorias.
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Everybody comes to Hollywood [...]
How could it hurt you when it looks so good?
Ao pensar no que escreveria sobre esse filme, rapidamente eu o relacionei à música Hollywood, de Madonna. Antes de me acusarem de qualquer coisa - blasfêmia, por exemplo -, quero explicar a comparação: ambos os produtos exibem as faces da indústria do cinema. Na canção, o bairro é mostrado como fonte de beleza, atrativo para celebridades e pessoas ricas, paraíso urbano; por outro lado, o local é alienador e repetitivo, cheio de implicações e defeitos. O filme, por sua vez, usando imagens, confirma o que é dito na música: apesar de parecer bom, você definitivamente pode se machucar.
Norma Desmond é a pura representação de que Hollywood tem seus altos e baixos. Um dia, ainda jovem, fora uma grande estrela dos filmes mudos e, segundo ela, aquela era a época áurea, afinal, um rosto expressivo significava tudo para uma atriz, diferentemente da época em que vive agora, na qual, também segundo ela, as atuações não passam de muitos diálogos. Um dia, quando John Gillis, um roteirista fracassado, invade a sua casa pensando estar abandonada, Norma contrata-o para trabalhar na história que ela escreveu sobre Salomé e pretende que o filme provindo desse roteiro a traga de volta para o clamor do público, que nunca a abandonou - embora isso não seja exatamente uma verdade. Pouco depois, John descobre-se preso à mansão de Norma e à vida fracassada e isolada que ela leva; ela, por sua vez, se encontra mais e mais dentro da perspectiva de que retornará ao mundo que um dia a acolheu carinhosamente.
Já passaram pela experiência de assistir a um filme e não saber o que dizer, mesmo depois de ele ter acabado? Pois é exatamente assim que me senti ao vê-lo. O mesmo ocorreu quando eu assisti A Malvada, filme que, curiosamente, concorreu com Sunset Boulevard na cerimônia do Oscar de 1951. Vale ainda ressaltar que ambos retratam a vida de estrelas do cinema em seus momentos de queda. Filmado em preto e branco, o filme nos apresenta uma excelente fotografia: com extrema eficiência, nós somos apresentados aos problemas pelos quais passam a personagem principal e também pelo absurdo mundo que a rodeia. O roteiro do filme compreende um universo desastroso: Norma é um fracasso como pessoa e vive das memórias do seu sublime passado; sem ninguém além do seu mordomo, ela tenta insistentemente incluir John na vida que ela quer que ele leve - colocando-a num pedestal. John, por sua vez, pisou em falso e acabou em território inimigo; pouco depois, parcialmente corrompido pela acessibilidade financeira que Norma lhe proporcionava, tomou-a como amante, permanecendo trancados naquela prisão luxuosa. Há ainda um personagem fundamental, já que acrescenta mais um pouco de pavor à já apavorante história: Max, o mordomo. Sua finalidade básica é atender todos os desejos de Norma, fazendo-a ficar confortável, fazendo-a continuar ignorante da bruta realidade. Para isso, por amor a ela, ele se submete a situações bastantes desconfortáveis e constrangedoras.
Crepúsculo dos Deuses não é um filme apenas, não podemos considerá-lo apenas uma obra cinematográfica. Crepúsculo dos Deuses é uma lição de cinema. Tal como A Malvada, assistir a essa obra é presenciar uma série de qualidades e pouquíssimos defeitos. As atuações são marcantes e memoráveis; embora todos estejam bem, o destaque vai para a esquisita Norma, maravilhosamente composta por Gloria Swanson. Todos os seus trejeitos e as suas expressões, associados ao seu tom de voz, causam no espectador um profundo estranhamento e esse é exatamente a sua maior conquista. Ela se torna um excelente objeto de estudo, afinal seu psicológico é destrutivo, não apenas porque vive do passado e de falsas expectativas, mas também porque ela condena todos aos seu redor a passar por experiências igualmente problemáticas quanto aquelas por quais ela passa. Maravilhosa a cena na qual Max faz uma revelação a John sobre um pequeno detalhe do passado de Norma (a respeito do primeiro diretor e marido dela). Num determinado momento, John chama uma colega para mostrar-lhe onde mora e dar a elas motivos pelos quais eles não podem ficar juntos. Nesse momento, percebemos que aquilo tudo que o cerca representa não apenas uma moradia, como também um estilo de vida imposto que, aos poucos, substituiu os seus conceitos de moralidade.
Há algo no ar em Hollywood; tentei sair, mas nunca pude. Norma Desmond se assemelha ao eu-lírico dessa canção de Madonna. Hollywood vicia e, mesmo ruim, seduz as pessoas, tornando-as escravas do glamour, mesmo que esse seja forjado. Sunset Boulevard é um filme sobre a decadência, sobre a destuição moral, sobre a loucura. O próprio título, também magnífico, faz uma ótima referência à situação dos personagens: antes a pino, agora eles se encontram na linha do horizonte, prestes a sumir, tal como o pôr-do-sol. Crepúsculo dos Deuses é um filme fantástico, de grande destaque cinematográfico. Isso se deve a um básico motivo: é um verdadeiro clássico!
Luís
1 opiniões:
Meu caro man, essa eu não podia deixar de comentar...
Tive a oportunidade de rever Sunset Boulevard graças ao nosso bloguinho em comum. Prazer inenarrável! Billy Wilder, que pra mim já era um dos realizadores preferidos, ganhou mais admiração de minha parte! Que filme! Que fotografia! Que roteiro! E que atuação magnífica de Swanson! Que final é aquele, ela descendo as escadas, "encarnando" a Salomé? Putz!
"Estou pronta para o meu close, Mr. De Mille..."
Sim. Isso é cinema. Cinema no seu estado bruto.
Abração, Luís!
=D
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