16 de jul. de 2010

O Inverso do Cinema: Terra Rasa

Advertência: esse artigo possui várias revelações sobre o filme.
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Alguns filmes chamam a nossa atenção. Às vezes, não sabemos identificar exatamente o que nos causa aquela sensação de curiosidade. E acho que foi exatamente isso o que aconteceu quando eu decidi que gastaria dois reais e levaria esse filme para casa. Se as pessoas que trabalham na locadora já tivessem visto o filme antes, decerto teriam me recomendado, porque eles são treinados para me recomendar filmes ruins (e é por isso que eu não acredito mais neles quando me dizem que determinado filme é bom). Enfim, não precisei de muito tempo para perceber que Terra Rasa é um filme dispensável e que é ruim e não há apenas um motivo que faça com que esse seja um filme que incomoda o espectador. Abaixo, dividido em tópicos, explicarei o porquê de esse ser um filme que deve ser evitado.

SITUAÇÃO INICIAL:
Um garoto com o corpo coberto de sangue é visto andando numa floresta. Logo ele chega a uma estação policial, onde surpreende os policiais, que tentam identificar as circunstâncias daquela situação: o que aconteceu ao garoto?, quem é o garoto?, de onde ele vem?, são algumas das perguntas que são feitas. E, para intensificar, há o problema dos assassinatos que têm acontecido na floresta. Esse é o mote do filme e é a partir dessa cena que todo o roteiro começa a se desenvolver. Aliás, o roteiro nunca se desenvolve...

PERSONAGENS:
Logo no começo do filme, somos apresentados a três personagens que aparentemente têm função na história além do menino-menstruação, cuja função descobriremos que é ridícula. O herói, chamado Jack Sheppard (e isso infelizmente não é LOST), é um homem cuja esposa foi assassinada na floresta e que morreu em seus braços. Para lhe fazer companhia na estação policial, há uma policial que faz expressões de susto sem parar ao mesmo tempo que finge ser durona e um policial que não faz nada. O elenco secundário conta com a velha da foto ao lado e com a estudante de Biologia, também presente na imagem ao lado.
• Qual é o erro do filme nesse aspecto? Essa é uma resposta muito fácil de ser dada: os personagens não conquistam a nossa simpatia. E isso acontece porque eles parecem avulsos em cena, considerando que na maioria dos momentos eles não são vistos fazendo algo verdadeira útil. Eles correm, eles gritam, eles fazem suposições absurdas. Eles, no entanto, não mostram do que são capazes e por que estão ali. A superficilidade deles é tão intensa que nós nos tornamos totalmente indiferentes ao que acontece com eles - se vivem ou se morrem, tanto faz.

DIREÇÃO:
O grande erro do diretor, em pricípio, foi aceitar dirigir um filme com esse roteiro. Pensei inclusive que ele rodou o filme sem saber do que se tratava, porque o roteiro provavelmente não estava completo ainda - mas estava errado, ele sabia perfeitamente como era o roteiro. Depois do seu erro inicial, o diretor errou ao optar pelas cenas inconclusas, pensando, talvez, que ficar sem saber o que vem a seguir faria o espectador vibrar de alegria. Embora eu não a tenha citado no quesito "personagens", devo dizer que a floresta é uma figura importante, tanto é que o diretor fez questão de mostrar longas cenas do garoto-meleca caminhando a esmo por ela. Se no começo tudo é breve, no final, o diretor opta por sair do cenário florestal e ir para a cena fantástica do filme, que acontece numa estrada. Falarei dela no próximo quesito. Sheldon Wilson é o nome da criatura que dirigiu essa preciosidade do cinema. Se virem uma obra na qual esteja escrito no pôster "dirigido por Sheldon Wilson", ignorem-na. Não a aluguem, não gastem o seu dinheiro!

ROTEIRO:
O roteiro se ocupa em não mostrar nada no começo e, mais tarde, para compensar aquilo que não foi exibido antes, começamos a ver uma série de bobagens. Se leram o que escrevi sobre os personagens, devem saber que são superficiais. O roteirista, que é também o maravilhoso diretor (esse Sheldon Wilson é mesmo muito multifacetado, que beleza!), tentou mostrar um porquê de os personagens morrerrem, então, criou flashbacks que soam ridículos quando exibidos. Um dos policiais, por exemplo, morre num
determinado momento do filme e não há motivo para ele morrer a não ser a vontade do roteirista; para justificar o acontecimento, há um flashback que nos revela que ele era um policial que traficava, ou seja, era uma pessoa ruim. "Hã?", foi o que eu pensei. O garoto-escoador vira rios de sangue. Sabe a poça de sangue na imagem ao lado? Pois bem, é o menino do começo do filme. Calma, atentem: o sangue não é do menino; o sangue é o menino. E toda vez que ele encosta em alguém ele é capaz de fazer com que a pessoa tocada veja todo o seu passado. Num momento brilhante do filme, os policiais inteligentemente decidem descobrir de quem é o todo aquele sangue que está no corpo do garoto e descobrem que não é o sangue de uma pessoa, mas de muitas pessoas e que todas aquelas pessoas desapareceram na floresta. E aquela policial que não serve pra nada (só pra se assustar e parecer durona), ao observar 150 fotos de "missing people", é capaz de perceber que o rosto do garoto é uma junção dos rostos de todas as pessoas desaparecidas. "Oh, mas essa mulher é um gênio!", eu pensei. Ela conseguiu notar que o lóbulo direito do rapaz era idêntico a de uma pessoa enquanto a sua sobrancelha esquerda pertencia a outra pessoa! E a cena se torna ainda mais fantástica quando é mostrada a personagem montando um quebra-cabeça com as fotos, reproduzindo o rosto do garoto. Gostei especialmente da maneira como o assassino do filme "cuida" de suas vítimas: o assassino as pendura a dois metros de altura e as mutila, rasga-lhes a boca, abre-lhes a barriga e deixa-as sangrar ali, no desconforto daquela posição (e alguém estaria confortável com a barriga e a boca rasgadas?).

Agora que eu apresentei muitas informações sobre o porquê de esse filme ser um erro, quero apresentar o motivo que me levou a entrar em histeria e querer destruir a porcaria do disco de DVD. Apresento para você aquilo que é o maior erro de Terra Rasa: o assassino. Posso admitir que num filme não haja sentido nos eventos mostrados, posso admitir que o roteiro de um filme parta do nada e vá para lugar nenhum, aguento a superficilidade dos personagens e também suporto quando situações bestas são mostradas com o intuito de fazer com que conheçamos um pouco mais sobre os personagens, mesmo que isso acabe não acrescentando nada realmente significativo. O que não consigo admitir é que ofendam a minha inteligência! E minha capacidade mental e lógica foi cruelmente agredida quando o roteirista definiu que o assassino - aquele que pendura as pessoas a dois metros do chão e as mutila brutalmente - seja uma velha de 70 anos revoltada porque o marido morreu num acidente numa represa que nada tem a ver com a floresta ou com os policiais ou com qualquer uma de suas vítimas. O assassino é, só para constar, a velha que vocês podem vem na primeira imagem. E ela, não contente em matar as pessoas, ela ainda faz um espetáculo de marionetes na sala de jantar de sua casa: pendura com anzóis e linhas de nylon os corpos, fazendo com que eles pareçam estar em perfeita harmonia durante um delicios jantar (isto é, se desconsiderarmos quanto estão mutilados, o provável mal cheiro e todos os vermes que os rodeiam).
Vale notar que, embora ela mate suas vítimas com muita facilidade e consiga pendurá-las na árvore usando um esquema de cordas, ela não parece tão sobre-humana quando está lutando com o policial-mocinho cuja esposa foi morta pela velha. Pelas cenas, podemos perceber que a velha não é forte, não é rápida e não é inteligente. Como, então, ela foi capaz de realizar todos aqueles assassinatos audaciosos? Enfim, esse foi o acontecimento que mais me deixou aborrecido e irritado, principalmente porque qualquer pessoa tem consciência de que "assassinatos brutais" e "velhinhas de 70 anos" são fatores incoerentes se estiverem juntos e que só existem se não estiverem co-relacionados. Sheldon Wilson, no entanto, se divertiu criando uma velhinha sem artrite, sem artrose, sem osteoporose, extremamente saudável e forte como um touro! Uma pena que nós não nos divertimos vendo essa conclusão ridícula! Devo ainda dizer que o final nem sequer é conclusivo, uma vez que ele abre espaço para uma segunda parte - que, lamento dizer, já existe.

Pessoal, pensem em tudo o que eu escrevi e olhem a última imagem: uma senhora idosa que mata pessoas, que se entretém com rituais sádicos de mutilação e que gosta de transformar as suas vítimas em personagens de HQ, pode ser levada a sério?  Façamos um questionamento maior: podemos levar a sério a pessoa que deu origem a toda essa sucessão de erros? Não, não podemos. E é por isso que esse filme desse diretor e roteirista é um erro do cinema: ele inverte conceitos básicos, que incluem personagens densos, eventos coerentes, evolução  da história, clímax adequado. E é por isso que Terra Rara é um filme que devemos rejeitar!

Luís

6 opiniões:

Renan disse...

Você fez um bom resumo do filme mostrando os pontos fracos, e infelizmente, só existem esses. Esse é um daqueles longas que não sabemos se é melhor esquecer ou não.

A parte que descobrimos que a velhinha é a assina se assemelha a descobrirmos o que é a "palavra" perdida no novo livro do Dan Brown. É totalmente incabivel que uma senhora de 70 anos faça aquilo com as suas vítimas.

O garotinho feito de sangue é estranho. A descoberta de que ele é feito de diversas pessoas também é zuado. Tudo no filme parece ter sido jogado, como se o diretor e roteirista tivesse feito aquela brincadeira de "continue a estória" e cada pessoa que escreveu de uma abordagem diferente.

Como você disse: "E é por isso que Terra Rara é um filme que devemos rejeitar!"

Marcelo A. disse...

Uahahhahaa!!!

"Menino-Menstruação" é a melhor coisa do post - perdão, eu sei o quanto foi trabalhoso, mas...

É gozado ver alguém alugar um filme que é visivelmente péssimo. De um modo geral, as pessoas fogem deles - ou não. De qualquer maneira, foi por uma boa causa, afinal, foi sacada de gênio analisar essas pequenas "perólas".

Acho que da próxima vez deveria analisar um clássico da cinema ruim. Nossa, não consegue me ocorrer nenhum agora, mas você, cabeçudo do jeito que é, já deve estar pensando em algo...

Abraço!

Caio Coletti disse...

Cara, ao mesmo tempo que ri demais com o poster, também fiquei meio me perguntando porquê uma aberração dessas de fato nasceu? Será que o tal de Sheldon Wilson realmente acreditava no que ele estava fazendo ou queria só ver o quão burro o público atual podia ser? Fico pensando até que ponto vai a inteligência de quem FAZ uma coisa dessas.

Enfim, a grande "virada" do final foi ridícula. Se ainda ele tivesse justificado com algo como "a velha está possuida por um demônio", uma sacada meio Sam Raimi em "Arrasta-me Para o Inferno", pode ser que saísse algo de interessante. Agora, misturar elementos sobrenaturais, uma velhinha sem poder nenhum e um "garoto-menstruação" é coisa de gênio! ashuahsuash

Só sugerindo dois filmes que eu acho que merecem aparecer por aqui, nesse mesmo estilo de post: "BloodRayne 2 - Libertação" e "A Caverna".

Abraço!

Anônimo disse...

Acabei de ver o filme e concordo com tudo o que foi dito pelo Luís. E ainda acrescento:se o "Menino-Menstruação" do filme era tão poderoso daquele jeito ele não precisava da ajuda de ninguém para ir atrás da velha e matá-la. Afinal de contas, todos os espiritos das pessoas mortas pela velha estavam no "Menino-Menstruação". E os espiritos sabiam muito bem quem tinham matado eles quando eles eram vivos.Logo,eles deveriam saber desde o inicio que a velha era culpada e não precisavam da ajuda do xerife nem de ninguém para ir até lá e matá-la. Essa para mim é a falha maior do filme. A velha de 70 anos foi sim uma falha grande também...a forma como ela puxa a estudante de biologia por debaixo do carro...humanamente é impossível...a estudante de biologia foi puxada e arrastada para debaixo do carro como se tivesse correntes amarradas nas pernas e estivesse sendo puxada por um carro através das correntes...

Marcelo Ribeiro da Motta disse...

Luis, você tem certeza que assistiu o filme? rs
"O herói, chamado Jack Sheppard (e isso infelizmente não é LOST), é um homem cuja esposa foi assassinada na floresta e que morreu em seus braços."
A menina não era esposa dele. Ele a encontra pendurada em uma árvore, estripada, mas ainda viva. Deixa ela sozinha para ir atrás do criminoso, e nesse interim, o criminoso retorna, a sequestra de novo e ela nunca mais é vista, e o tal Jack se culpa por isso o tempo todo.
Aliás, o Jack namora há anos a policial "que se faz de durona". O relacionamento dos dois está estremecido e isso é abordado no filme do início ao fim.
E também não foi a "policial durona" que chega a conclusão que o rosto do menino é uma junção dos rostos de várias vítimas, foi um terceiro policial que observou isso.
Enfim, concordo que o filme é uma droga, mas, para quem se dispõe a ter um blog sobre dicas de filmes, o mínimo que se espera é que o blogueiro assista o filme completo, o entenda e passe as informações corretas sobre o mesmo.

Abraço.

Anônimo disse...

Filme bem ruim mesmo.Mas eles não deduziram a toa sobre o menino ser as vitimas.Eles tiram a digital dele, e a cada digital é de uma vitima, e então eles chegam a conclusão óbvia que ele é um "resumo" das vítimas.