11 de mai. de 2010

Central do Brasil

Brasil / França, 1998, 113 minutos. Drama.
Indicado a 2 Academy Awards: Melhor Atriz (Fernanda Montenegro) e Melhor Filme Estrangeiro.
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Sinto-me envergonhado por dizer isso, mas, desde que o filme foi lançando - há 12 anos, só agora eu o vi. Devido a análise que a equipe do Um Oscar por Mês vai fazer da cerimônia de 1999, o filme entrou para a minha lista das obras que eu deveria conferir. E devo dizer que não acho que tardei para vê-lo. Eu assisti no momento certo, pois creio que antes não poderia enxergar a beleza e ousadia que esse filme tem, tampouco seria capaz de compreender a intensidade do que é mostrado.

Afirmo que decerto nenhum filme tão denso foi produzido pelo Brasil desde o lançamento deste. Fernanda Montenegro interpreta Dora, uma mulher que escreve cartas na Estação Central do Brasil. Lá ela conhece Ana e seu filho Josué, que deseja conhecer o pai. Por infortúnio, Ana é atropelada e morre, deixando Josué sozinho numa cidade desconhecida. A princípio contra, logo Dora decide levá-lo pra casa tendo em mente segundas intenções. Ao perceber o erro de uma atitude que toma em relação ao garoto, Dora decide ajudá-lo a chegar até Pernambuco, onde o pai dele supostamente mora. Sem entender em quase nenhum momento da viagem, aos poucos os dois começam a perceber que têm coisas em comum e que precisam um do outro.

O meu primeiro grande elogio vai à interpretação profunda e íntima de Fernanda Montenegro. Ainda que muito não seja dito sobre sua personagem, somente pelos olhares e pelos gestos dela, podemos traçar um perfil bastante denso de Isadora. Para perceber o quanto ela entrou na personagem, basta ver os extras do DVD, quando ela dá uma entrevista. Se não fosse pelo rosto, pensaríamos que Dora e Fernanda não são as mesmas pessoas físicas. Eu realmente me senti tocado pela sua atuação, todas as suas ações são vigorosas e tudo nela se encaixa perfeitamente no filme. Até mesmo quando ela diz "eu tô fudida" soa lindo! A Academia não fez mais do que reconhecer a sua capacidade excelente de atuação ao indicá-la como Melhor Atriz. É claro que foi uma imensa bobagem tirar-lhe o prêmio das mãos para entregar à Gwyneth Paltrow, mas acredito que foi uma grande conquista não só para a atriz, como também para o cinema nacional. Acima de tudo, podemos ver que Fernanda concebe uma atuação passional e que está completamente entregue à direção eficiente de Walter Salles e à sua própria personagem, além de criar uma excelente interação com qualquer outro ator em cena. Vinicius de Oliveira - em seu primeiro papel - também se mostra eficiente e sua participação tem o tom certo. Destaque para o garoto nas cenas mais sutis e dóceis, nas quais o seu desempenho propõe um contraponto com aquilo pelo que passa Dora. A somar, há a presença de Marília Pera, que rende momentos engraçadinhos, como quando antecipadamente chama o "comparsa" de Dora pra entrar e depois quando manda o dinheiro para "Bom Jesus da Lapa".

O roteiro do filme é bastante delicado, nos colocando a par não somente da relação tempestuosa entre Dora e Josué, como também falando a respeito de transformações psicológicas dos personagens. A frieza de Dora passa por um processo doloroso de irritação e desesperança até perceber que há muito mais na vida do que apenas dinheiro. Os traços grosseiros dela refletem-se no menino, que a trata com o mesmo repúdio e juntos eles tentam conviver e, sobretudo, se compreender.Duas das passagens mais bonitas do filme são quando o garoto consegue juntar muitas pessoas para que ela escreva cartas - e posteriormente ela percebe o quão importante aquilo era para aquelas pessoas - e quando Dora diz que ele é um bom menino quando pensa que esttá falando diretamente com o pai de Josué. A somar, o sertão pode ser tomado como uma metáfora à situação deles. Basta percebermos que durante todo o processo de conhecimento - quando correm as discussões e agressões -, todo o cenário é vazio, sem muito o que mostrar. Tão logo que os dois se dão realmente bem - na cena em que está no pôster do filme - eles ficam cercados por muitas pessoas, numa oposição clara ao vazio de antes. Tal como Fernanda diz nos extras, "a câmera de Walter Salles é inteligente, está sempre no lugar certo" - ela tem razão. A eficiência dele como diretor soube como captar perfeitamente as expressões situações, emoções e passá-los ao espectador.

Honestamente, não entendo quem não gosta desse filme. Não somente é a melhor obra nacional até hoje como hoje como também serviu para mostrar aos outros países que o Brasil também produz bons filmes! Fernanda Montenegro está irrepreensível e nada justifica o fato de ela ter perdido aquele Oscar. Não quero ser ufano em relação ao Brasil, mas ao considerar as interpretações das atrizes com quem Fernanda concorreu, nenhuma pessoa sensata entregaria o Oscar para outra além dela! Certamente uma obra recomendável, que deve ser vista, principalmente por aqueles que gostam do cinema nacional!

Luís
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3 opiniões:

Jennifer disse...

Não entendo...
Você sai criticando filmes, beleza, legal. Agora, pra criticar filmes, a pessoa tem que ter um pingo de entendimento, e se você nao foi capaz de entender logo ORGULHO E PRECONCEITO...
Já viu a crítica do livro e do filme? São ótimas. As histórias são avassaladoras e são de 'época', ou seja, antigos, o que exige um mínimo de capacidade para entender o que fica subentendido.

Fala sério, aprende a assistir, depois critica;

Cristiano Contreiras disse...

Creio que seja um grande filme mesmo, Fernanda estava soberba e sua crítica evidenciou todo o foco do filme.

Abraço

Renan disse...

Porque a garota criticou sua resenha de Orgulho e Preconceito em Central do Brasil?

Acho que Abril Despedaçado é um páreo duro pra esse, por isso não diria que esse foi o melhor filme nacional lançado desde então.

Fernanda Montenegro representou o Brasil, merecendo sua indicação ao Oscar com uma atuação fantástica.