Brasil, 2006, 100 minutos. Drama.
Indicado ao Grande Prêmio Cinema Brasil em 5 categorias. Venceu por Melhor Figurino.
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Começar dizendo que o cinema nacional evoluiu em relação aos últimos trinta anos é clichê. As chanchadas deram lugar a obras mais sérias, com conteúdo dramático mais apurado. Com isso, surgiram grandes nomes e outros foram ressaltados. Atualmente, filmes brasileiros tem recebido grande destaque. Zuzu Angel é um desses filmes que atraem principalmente por dois motivos: tem nomes de peso (como Patrícia Pillar e Daniel de Oliveira) e sua temática nos remete a uma ferida recente na história do Brasil.
Acredito que não haja muitos que não saibam quem foi Zuzu Angel. Estilista renomada do Rio de Janeiro, foi casada com um estadunidense, com quem teve três filhos. Tornou-se uma figura extremamente reconhecida quando ousou enfrentar a ditatura militar a partir do ano de 1971, quando seu filho desapareceu e ela soube que ele poderia estar preso. Após um tempo, concluiu que ele estava morto e começou sua jornada em busca de justiça. Um dos eventos mais conhecidos foi o fato de ela ter ido gritar por justiça nos corredores da ONU.
Eu particularmente adoro esse perído histórico brasileiro. É um dos que mais gosto de ler sobre e pelo qual me interesso bastante. Como eu disse, é uma ferida recente, afinal, acabou faz apenas 24 anos e os resultados dos 21 anos durante os quais o sistema ditatorial funcionou ainda são muito comentados. Uma cinebiografia de uma personalidade tão forte como Zuzu Angel poderia ser um grande marco no cinema, uma vez que poderia aproveitar todos os elementos técnicos e artísticos e transformá-los numa apresentação fiel à situação que existiu entre os anos de 1964 e 1985 além de criar uma boa heroína do cinema nacional, afinal, Zuzu tinha tudo para ser relembrada por tudo que teve coragem de fazer.
O filme, porém, conta com alguns probleminhas que o tornam mediano. Quanto ao roteiro, não vou me ocupar em criticá-lo ou elogiá-lo, pois como se baseia em fatos reais fica meio difícil esperar que nele sejam acrescentados fatos mais dinâmicos que talvez não sejam reais. Não o achei monótono, nem cansativo. Em suma, gostei dos pontos que ele aborda, nos mostrando com certa eficiência o problema supremo que existia naquela época: impor-se contra um regime extremista e perigoso. Acho apenas que o fato de Zuzu ser passional demais estraga um pouco, porque ela parece mais submissa ao sistema do que corajosa a ponto de enfrentá-lo. Não sei exatamente como expor o que penso, pois acho que "submissa" não é palavra correta. Mas ela é muito pendente, quase sempre mais ocupada em choraminguar porque o filho morreu do que empenhada em buscar justiça. Porém, a partir do meio do filme, isso muda e ela finalmente se torna a mulher que eu gostaria de ter visto nos minutos iniciais. As pessoas que me conhecem - e conhecem minha opinião sobre certos elementos cinematográficos - sabem que eu detesto mistura de ficção com realidade, principalmente quando eles inserem fantasmas conversando con os vivos a fim de acrescentar o caráter dramático que, por si só, a cena não possui.
O problema com a caracterização de Zuzu também é do diretor, que em poucas cenas arranca tudo aquilo que Patrícia Pillar pode oferecer. Para ser sincero, me emocionei na cena em que ela diz o que pensa - de maneira seca e em bom tom - sobre a farsa que os militares armaram para julgar o seu filho já morto. Essa cena, porém, foi a única que senti todo o talento da atriz. Mas, de um modo geral, vale a pena ver o filme por causa de sua atuação. Algumas vezes tive a impressão de que não havia na personagem todo o desespero que uma mãe sentiria ao se referir a um filho cujo final ela desconhece, mas não direciono à atriz minha crítica. Acho que o erro foi mesmo de Sérgio Rezende, que não soube administrar bem o que ele queria de cada cena. Daniel de Oliveira, dois anos depois de viver Cazuza, continua interpretando o mesmo personagem. Esqueceram de dizer a ele que o filme era o outro e que a sua atuação, consequentemente, também deveria ser outra. Se ele é ou não um bom ator, eu não sei. Mas que ele consegue se repetir sempre e sempre, isso é fato. Todos os outros atores que aparecem no filme são coadjuvantes e apenas um interfere realmente na qualidade da obra; infelizmente sua interferência é extremamente negativa. Intéprete do sargento que fica contra o regime ao lado do qual esteve uma vez, a interpretação do sujeito (que eu nem sei o nome) é totalmente caricata e não caberia nem mesmo num filme que satiriza situações sérias.
Há várias cenas bonitas, muito bem construídas e interessantes, das quais o diretor soube captar bem o clima e ele as apresentou para nós de maneira poética. Um bom exemplo é a cena em que Zuzu recebe a carta que diz a ele que seu filho foi torturado e morto. A mistura das cenas de tortura com as cenas que mostra a personagem desesperada são bonitas - não são, porém, coerentes, afinal ninguém consegue ler uma carta como a personagem fez. Mas diante da beleza daquela cena, o fator coerência é (quase) esquecível.
Zuzu Angel é um filme mediano, porém deve ser visto, principalmente pelos fãs do cinema nacional. Não é uma obra grandiosa nem possui todos os elementos favoráveis à sua máxima qualidade como produção cinematográfica, mas é um filme interessante, que conta com a boa atuação de Patrícia Pillar e o excelente plano de fundo histórico sobre a ditadura militar.
Luís
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2 opiniões:
Confesso que nunca mais assiti filmes brasileiros, a não ser o ultimo que passou na teve por esses dias..."veronica" eu acho...
Mas já ouvi muitos elogios desse filme de conhecidos...
"Zuzu Angel" tem suas irregularidades, principalmente no ritmo, mas tem uma ótima interpretação de Patricia Pillar. Acho que só isso já valida uma conferida no filme.
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